CAPÍTULO 9

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Hinata estava uma verdadeira bagunça.

Não que em algum momento de sua longa vida ele realmente tenha sido organizado em relação a seus sentimentos, mas agora ele estava dez vezes pior.

Primeiro, houve o reencontro com Bokuto e Akaashi. Shouyou gostaria de dizer que ele não chorou feito uma criança na sua cama depois de tudo aquilo, mas seria uma grande mentira. Ele chorou de saudade, não só de Bokuto mas de todos que ele havia se despedido ao longo dos anos, chorou porque doía muito deixar as pessoas para trás desse jeito, doía muito não poder ficar.

E chorou também por inveja. Ele não queria que os dois terminassem, longe disso. Mas ele queria viver aquilo também. Não precisava necessariamente ser igual, com filhos e netos, Hinata queria apenas um companheiro, alguém que não fosse embora. Alguém que ele não tivesse que deixar para trás. Um parceiro. Era errado se sentir assim, ele sabia. Mas isso não fazia a vontade sumir, então Shouyou apenas aprendeu a aceitar.

Seu cérebro, não satisfeito com todo o estrago feito até então, decidiu escolher mais uma coisa que tirasse seu sono: Kageyama Tobio.

A conversa com o moreno no telhado do prédio havia desestabilizado totalmente as ideias do ruivo, que seguiu toda a semana forçado a lidar com as memórias intrusivas que sua cabeça fazia questão de reviver.

A pior parte disso tudo é que Hinata realmente - realmente - tinha esquecido da grande maioria de acontecimentos daquela época. Tudo que sua memória havia guardado eram flashes desconexos de acontecimentos específicos, mas nada além. Porém, depois de ouvir Kageyama narrar tudo aquilo de maneira tão intensa, tão vulnerável, a cabeça de Hinata pareceu ter levado um choque, e em questão de horas ele se lembrou de praticamente tudo que vivenciou a cerca de seis séculos atrás.

A primeira coisa que ele se lembrou foi a raiva, o sentimento de fúria ao descobrir que o moreno era rei. Mas também, ele se lembrou de uma tristeza, um sentimento de derrota ao assistir de longe tudo que Kageyama havia se tornado.

A segunda memória que Shouyou teve foi, com toda certeza, contra sua vontade. Ele não queria se lembrar daquilo, mas seu cérebro não dava a mínima, e agora ele era constantemente bombardeado pelas imagens amaldiçoadas de Kageyama treinando na área aberta do castelo.

É claro que Kageyama era burro o suficiente para não perceber que Hinata estava incluso no meio de artistas que apresentaram o show, e quando o moreno citou brevemente o detalhe de "artistas olhando ele e os outros soldados treinarem" Shouyou precisou abaixar o rosto para disfarçar sua vergonha. Na época, ele disse para si mesmo que estava tão hipnotizado por inveja, raiva, ódio, qualquer coisa. Hoje, ele já não tinha tanta certeza.

As outras memórias continuaram vindo, a peça Romeu e Julieta, a invasão do castelo, a reação hilária de Kageyama ao vê-lo de novo. E no final de tudo, a morte do moreno. Era desconcertante ter esse tipo de lembrança de súbito, ainda mais que na maioria das vezes era tão vívida que parecia estar acontecendo agora diante de seus olhos.

E assim o ruivo passou sua semana. Pelo menos três vezes ele caiu da escada de metal que usava para arrumar remédios nas prateleiras altas, porque sua cabeça estúpida havia decidido que aquele era o momento perfeito para relembrar da sensação de ser jogado contra parede por Kageyama.

Uma senhora havia dito que ele estava perturbado, e Shouyou estava começando a acreditar.

Depois da quinta noite mal dormida, Hinata decidiu agir. Ele precisava urgentemente se resolver com Kageyama, precisava saber se o outro também via tudo do mesmo jeito que ele. E ele faria isso. Mas com uma certa quantidade de álcool no corpo.

Imortalidade Fatal - KageHinaOnde histórias criam vida. Descubra agora