Hinata afundou sua cabeça no travesseiro e gritou pela quarta vez consecutiva. Em vários momentos de sua vida ele sofreu com a realidade de não poder morrer, mas, em nenhuma delas, ele cogitou isso por vergonha.
Sendo sincero, dizer que Shouyou era uma pessoa "sem vergonha" era um eufemismo. Em seus milhares anos de vida, foram poucos os capazes de ultrapassar o seu nível de descaramento. Mas, dessa vez, ele havia ultrapassado o limite até mesmo para os seus padrões.
Ele beijou Kageyama.
Deus. Ele beijou Kageyama na boca.
As memórias do acontecimento ainda estavam frescas na cabeça de Hinata mesmo após duas semanas. Frescas o suficiente para fazer seus olhos queimarem com a súbita vontade de chorar.
Mas ele não iria. De jeito nenhum. Beijar Kageyama já era humilhação suficiente, Hinata jamais se submeteria à vergonha dobrada de chorar por ele também.
Num pulo, ele se levantou da cama, encarando-se no espelho. Espalmou suas mãos em suas bochechas com força. Ele já havia perdido tempo suficiente com essa situação, a partir de agora ele ia começar a agir.
Na verdade, sua ação já havia começado. No dia anterior, ele anunciou para seus amigos que estava se mudando. A mentira escorreu de forma tão lisa e natural que Hinata quase acreditou. "Vou visitar meus parentes no Chile, eles ficaram preocupados com o acidente".
O desafio mesmo foi os olhos perigosamente brilhantes de Yachi e a pergunta genuína: Você promete que vai voltar?
O coração de Hinata apertou tanto que ele jurou estar sendo baleado de novo, mas, ainda assim, concordou. "Prometo". Quantas vezes ele já havia contado essa mesma mentira?
Mas aquela não era a despedida final. Ainda não! Antes, ele precisava continuar seu legado de bom cidadão e devolver seu apartamento em perfeitas condições para o síndico, e, para isso, seria necessário uma verdadeira faxina.
Ligando seu rádio antigo para evitar ouvir as vozes de sua cabeça e tirando sua camiseta para ficar mais confortável, Hinata começou. Enchendo baldes e mais baldes, o ruivo foi molhando e lavando sua casa inteira, esperando que a água levasse, além da sujeira, suas memórias embora.
“Tudo sempre foi sobre você”
Hinata travou seu maxilar e segurou o cabo da vassoura com mais força. Não. Ele não iria pensar nisso de novo.
“Não ouse dizer que eu não penso em você! Porque eu penso todos os dias, toda hora! E pensei pelos últimos séculos!”
Shouyou fechou os olhos e soltou um guincho desesperado. Não era justo. Realmente não era.
Duas semanas. Faziam exatas duas semanas desde que ele havia agarrado Kageyama e beijado com toda sua alma, e, desde então, Hinata não conseguia pensar em outra coisa.
Ele estava maluco. Completamente louco. Tudo à sua volta lembrava o moreno. Ele precisou contar para Yachi o que tinha acontecido – escondendo boa parte, óbvio – porque simplesmente não conseguia guardar tudo aquilo para si. Ele fechava os olhos e a imagem de Kageyama vinha à sua mente. Ele ligava o rádio, mas tudo que ouvia eram as malditas palavras que Kageyama havia lhe dito. Ele respirava fundo para se acalmar, mas era o cheiro inebriante de Tobio que invadia suas narinas. Não era justo.
Não era justo porque, em duas semanas, Kageyama não havia dado um único sinal de vida enquanto Hinata mal conseguia se concentrar em fazer seu almoço sem ter um ataque de tremores com as lembranças do beijo.
O problema não era o beijo, óbvio. Hinata, felizmente, havia beijado um considerável número de pessoas em sua vida. O problema é que era um beijo em Kageyama, o número um na sua lista de "alertas vermelhos" pelos últimos 20 anos, mais especificamente, desde o show no Brasil.
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Imortalidade Fatal - KageHina
FanficHinata Shoyo é um ser místico que habita a Terra desde os primórdios e já vivenciou tudo que se possa imaginar. Seria uma vida interessante se ele não tivesse que conviver com Kageyama Tobio, o único ser imortal além dele que reside no planeta. (fan...