1. CRISE DOS COGUMELOS ROXOS

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Nas entranhas da antes bucólica Amphibia, hoje tomada pelos horrores da guerra e desgraças trazidas pelo louco, antes rei, agora ditador, Andrias; se há ainda uma cidade remanescente, e que luta pela sede da justiça!

Wartwood prevalecerá.

A singela luz avermelhada da lua assolava os escombros da pequena cidadela, onde nenhuma alma viva se achava passeando entre as estradas, mesmo que vez ou outra um verme gigante raivoso passasse em busca de restos decompostos das antigas plantações. Mas o coração da cidade bate abaixo da terra.

Próximo a um laguinho, havia uma pequena residência, que pertencia à família Plantars. Porém, um segredo se esconde no porão secreto por trás das únicas paredes que resistiram. Uma comoção ecoava pelo subterrâneo barroso; centenas de vozes entoavam entre si. Lá era o posto da grande revolução de Amphibia. 

Uma enorme câmara arredondada era formada por rampas e portas em diversos níveis, tendo na parte mais baixo uma área semelhante a uma praça, e tudo iluminado apenas por vagalumes e tochas de seda. Uma verdadeira sociedade improvisada se formou. Sapos, rãs e salamandras exerciam as mais diversas tarefas, desde as mais básicas como trabalho na cozinha, até as que envolviam o treino de guerra e combate.

E no nível mais alto, observando tudo isso, havia duas garotas humanas, Sasha e Anne.

— Ainda tô impressionada como esse lugar ficou — comentou Anne com um sorrisinho nos lábios. — A última vez que vim aqui era lotado de armadilhas e coisas bizarras.

Sasha estava apoiada contra o parapeito de terra batida, e sobre ele a mesma realizava algumas notações num caderninho

— Puff, bem sua cara mesmo se enfiar em buracos lotados de armadilhas.

— Nem ve… — Anne suspirou. — Ok, vou deixar essa passar.

— Mas respondendo ao seu fascínio — Sasha então se virou para a outra, espreguiçando-se. — Foi um trabalhão organizar isso tudo, mas Wartwood tem técnicos muito bons!

Anne cruzou os braços deixando uma risada fugir.

— Se não fosse por eles, a cidade já teria sido destruída na minha estadia.

— É. — Sasha botou o indicador na ponta do nariz de Anne. — Ouvi umas histórias suas, você era uma pestinha ein.

As bochechas de Anne foram tomadas por um rubor, e o nervosismo subiu por seu corpo, a fazendo botar a mão na nuca, e o pé ficar raspando o chão em ansiedade. Sua voz saiu gaga num sorrisinho bobo.

— H-he, não era nada de mais! S-só acidentes…

— Claro… acidentes… — Sasha ergueu as sobrancelhas e retribuiu um sorriso sarcástico com as bochechas se avermelhando.

Anne respirou fundo, expulsando de si o nervosismo, retomando assim o papo.

— Aliás eu amei seu novo estilo, andou malh…

— Comandante Sasha! Comandante Sasha! — a conversa foi interrompida por uma voz ofegante e escandalosa.

A atenção das meninas foi direcionada a um pequeno sapinho azulado que vestia um macacão bege e andava descalço. Seria apenas mais um dos vários sapos roceiros que moravam na região, se não fosse por um único e grotesco motivo.

— Cara, o que aconteceu com você?! —  exclamou Anne com uma expressão assustada.

A mão esquerda do pequeno anfíbio estava inchada e num tom de roxo brilhante, e combinado a isso, pequenos fungos tomavam cada centímetro de sua pele mucosa, dando uma textura seca e quase morta.

— E-eu ouvi falar de uma cidade que ainda havia pessoas querendo se revortar, ma-mas no caminho eu vi uns bixo de metal com uns cogumelo doido —  ele pegava ar e grunhiu a cada fala — ai eles me atacaro e caiu um desses negoço na minha mão…

Sasha estava perplexa, e seus olhos carregavam seriedade. Ela se apoiou no parapeito e gritou:

—  PRECISAMOS DE UM MÉDICO! —  sua voz ecoou poderosa pelas paredes da base, e às pressas, algumas rãs se organizaram e foram ao nível que Sasha estava.

Em seguida a garota se virou e se pôs de joelhos a frente do pequeno sapo, e seu tom de voz se tornou reconfortante e calmo.

—  Vai ficar tudo bem carinha, vou providenciar um tratamento que te recupere disso, enquanto isso, descanse, ok? Vamos ter uma conversa mais tarde.

O sapinho em lágrimas assentiu, e após alguns segundos foi levado por uma maca.

— Isso foi intenso… —  balbuciou Anne.

—  Nem me fale… —  Sasha se levantou deixando um suspiro sair, pegou seu caderninho e o guardou. — Vou pra minha sala, desculpe por nossa conversa curta, ta sendo assim todo dia…

Anne entrelaçou os nós dos dedos vendo Sasha se afastar com a cabeça baixa. Isso não tá certo… pensou a garota, que respirou fundo e foi atrás da loira em passos rápidos, e quando a alcançou, agarrou seu pulso.

— Hey badgirl — ela sorriu — você não tá sozinha agora. Posso não ser a melhor comandante, ou a mais inteligente, mas quando sai de Amphibia — Sasha a encarou, seus olhos pareciam sucumbir ao cansaço que estava escondido em sua rigidez —  entendi que não precisamos carregar todo o peso sozinho. —  Por fim, a mão de Anne se enfiou para a palma de Sasha, a apertando com carinho.

Lágrimas surgiram nos olhos da outra, que abriu um sorriso, aquecendo o coração de Anne.

—  Claro… obrigada Anne.

—  Agora — de mãos dadas, foram juntas ao salão principal —  vamos trabalhar num fungicida!

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