4. RASTROS

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O lado de fora chegava a ser deprimente em todos os aspectos, aquele brejo campestre que era Amphibia foi reduzido a ruína da mais pura miséria. A maioria da flora e cenários em tons verdes lotados de vida agora nada mais eram que paisagens desertificadas. Mortas. Arrasadas. Um fantasma da grandeza natural que um dia teve. Nem as águas resistiram, a maioria parecia contaminada e exalava um cheiro horrível. Destroços de construções e entulho maquinário espalhados por todo canto.

E no meio de uma estradinha rumo ao sul, um caracol rastejava no cascalho e poeira, sobre sua cela, havia duas garotas humanas.

Anne e Sasha não tinham expressão alguma que não fosse melancolia, e o silêncio que realçou a morbidade da viagem. Anne, que guiava as rédeas soltou um suspiro profundo.

- Isso me dá ânsia de vômito, e olha que estamos num pantano com insetos gigantes - disse enquanto olhava ao redor.

- E eu vi essa mudança de perto... - completou Sasha com desânimo. - Dói, dói muito.

Anne então colocou a mão direita no ombro de sua amiga, e abriu um sorriso fraco.

- Estamos juntas agora, todos nós. Vamos virar o jogo.

Sasha retribuiu do mesmo sorriso, e impressionantemente, conseguiu relaxar um pouco e escorregar ligeiramente no banco.

- E você, como foi no mundo humano? Seus pais estão bem?

- Oh se tão menina! Eles são incríveis e super descolados - Anne respondeu com empolgação.

- Sei de onde você puxou isso então, he. Eles são legais... - Sasha recuou um pouco, ficando em silêncio por alguns segundos, mas logo voltou a puxar assunto. - Conta os bafão ai.

- Bem... - as bochechas dela se avermelharam um pouco, mas logo um sorriso pequeno se formou, junto a um olhar que brilhava emotivo. - Ver eles foi algo... Nem consigo descrever, meu coração aqueceu ao lembrar dos seus risos... Amigos me ajudaram, trabalhei no restaurante, e até lutamos contra o FBI...

- Pera, o FBI? - Interrompeu a outra.

- É, eles estavam tentando levar os Plantars.

- Uau, você é hardcore mesmo ein, tô impressionada, Anne contra a lei! - As duas riram. - E quero conhecer esses amigos.

- Claro, vou te levar no templo, você e a Marcy... - Anne respirou fundo e contemplou a vista à frente com um breve suspiro aliviado. - To muito feliz que consegui me despedir dessa vez. Amo eles...

- Que bom que vocês se dão bem, fico feliz de verdade... - Sasha hesitou novamente, e esfregou o rosto com as mãos. - Eu daria um soco na minha eu de seis meses atrás, sério.

Anne e até Bessie olharam ela, chocadas.

- É o que menina? Endoidou?

- Ha... cara, eu era puff, ridícula. - Ela alisou os cabelos inquieta e franziu as sobrancelhas. - Tava tão desesperada em te fazer um dia incrível, que te privei de seus pais...

- Sasha...

- Não, tá tudo bem, já lidei com isso. Não podia tomar algo que você ama só porque eu não tinha, coisa idiota. Era seu aniversário...

Anne beliscou a bochecha dela.

- Ai! O que você...

- Sério Sasha, já passou, tipo, passado. O problema é ficar apegado a ele, isso nos impede de melhorar. - Anne em seguida deu um selinho na área avermelhada da bochecha. - Temos muito que conversar ainda, eu sei, só que agora temos coisas a fazer... E quero acreditar que você realmente mudou dessa vez...

CRÔNICAS DA REVOLUÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora