CRÔNICAS DA REVOLUÇÃO

1. UM NOVO ALVORECER

Era um novo amanhecer para Amphibia, onde o Sol novamente se erguia tímido entre as nuvens lançando seu raiar no sereno gélido que cobria todo o chão. Uma nova manhã, uma nova batalha contra as forças daquele antigo e louco rei, um novo passo para a revolução.

Nesse início de dia dentro dos complexos canais de caminhos subterrâneos que abrigava a sede principal do grupo revolucionário, as coisas começaram lentas como de costume. Os primeiros a despertar eram os anfíbios mais anciões, calejados da rotina de acordar junto aos basilicos, para poderem colocar em prática suas tarefas diárias. Em seguida, os mais jovens e promissores guerreiros, que ficam de guarda noturna a todo instante, ansiosos para um pouco de descanso. E por fim, a comandante.

Em um quarto nos andares mais acima Sasha estava imersa em seu sono. Nenhum resquício de luz senão pelos flashes repentinos do vagalume que já dormia dentro do lampião. Um silêncio quase absoluto se não fosse pela própria garota, que parecia inquieta.

De um lado ao outro se virava na cama.

De um lado ao outro puxava e tirava coberta.

De um lado ao outro murmurava sua agonia.

Uma inquietação agoniante. Talvez naquele silêncio sua mente falava alto. Gritando, clamando, julgando, e tomando conta ao ponto de a sufocar.

Talvez suas cicatrizes já fechadas voltavam a arder. Talvez para ela seu esforço era uma farsa. Talvez imersa nos seus mais profundos pesadelos via a si própria em seus piores momentos. Ia longe, bem longe, até onde iria? Até onde sua culpa a levaria toda noite?

"Hey, Anne..."
"Hey, Marmar..."
"Nossa seu cabelo tá horrível, deixa que eu arrumo..."
"Se tivesse feito do meu jeito..."
"Tsc, se não fosse por mim..."
"Você sabe que sou sua melhor opção..."
"E quem liga para esses sapos? Você tem a mim..."
"Vocês só precisam de mim..."
"Vocês são minhas..."
"É sobre mim..."
"Eu...eu...eu..."

E as Chamas Magentas que sempre surgiam em meio ao escuro, seu mundo desabava. Em meio a queda, ela podia ver Estrelas Verdes no céu acompanhadas de uma Lua Azul.

E quase como uma facada no peito, Sasha acordava de uma vez se sentando e ofegando. Seus olhos passavam pela escuridão do quarto, com ela encarando o lado da cama já vazio, mas com um único sapato amarelo deixado encostado lá. Embaixo dele, um bilhete:

"Bom dia Sashhh!! Provavelmente vou estar na superficie se vc estiver lendo isso
se acordar tarde me encontra no bingo. Bezzitoz, Anne."

- Mais um dia... - ela sorriu aliviada, guardou o bilhete, se levantou.

Para aproveitar melhor a manhã, ela agilizou no processo de se preparar para o público, coisa que antigamente demoraria pelo menos até o segundo horário da escola. Escovou os dentes usando uma mistura complexa que envolvia pasta de caracol, menta, sal e carvão (receita dos dentes saudáveis e brilhantes, nove a cada dez salamandras dentistas recomendam... menos o Jerry, ele é um bocó). Em seguida, tomou um banho de só molhar a pele e evitando água no cabelo felpudo. Pror fim, colocou roupas mais casuais de pano e couro, sem a sua imponente e espalhafatosa armadura, era aquele tipo de casualidade vista séries mainstream medievais, um charme rústico que combinava com Waybright. Novinha em folha, não?!

Acabando de amarrar suas botas dadas um dia por Grimmer, ela finalmente pôde sair do quarto.

- Bora aproveitar bem essa folg...-!!!!! -

Quase que qualquer planejamento para o dia havia sido jogado fora com o susto que fez seu coração parar momentaneamente.

Diante de sua porta como um vulto mal-assombrado: Maddie, a pequena sapinha envolvida com bruxaria de Wartwood.