5. SOZINHAS JUNTAS

671 66 209
                                    

— Mas nem ferrando! — repreendeu Sasha. — Você tá horrível!

Anne que repousava no colo de sua amiga, agonizava com a dor e desconforto que sentia: sua face se retraía de dor, mal conseguia fechar seus dedos da mão direita, e sua respiração era irregular. Com dificuldade, ela acumulou forças para falar, mesmo que sua voz estivesse rouca e quase inaudível.

— Eu to…bem! Cof Cof — tosses que cortavam a garganta saíam a cada pausa — Não podemos cof!... Deixar ele fugir… Perigoso…

— O que você tem de linda você tem de teimosa… sei disso porque sou assim. — Sasha acariciou com suavidade os cabelos dela. — Vou resolver isso.

Bessie, a caracol de combate, finalmente chegou, e Sasha com todo cuidado fez ela se aproximar, para poder alcançar uma bolsa que havia por debaixo das placas de ferro. De lá Sasha retirou um almofariz marrom com algumas pedrinhas cravadas, rolos de bandagem e um pacote com ervas das mais diversas cores.

— Droga… não tem água…

Anne semi abriu os olhos inchados.

— O que você…cof cof…

— Um remedio. — Ela retirou de trás da capa uma das cascas de besouro azul, e sorriu orgulhosa. — Maddie diz que funcionam como fungicidas, além de ótimos sabonetes esfoliantes. Espero que funcione… e Anne…

— Sim?...

— Você poderia fechar os olhos? Não quero deixar isso mais bizarro do que já vai parecer pra mim…

— Ok né… — disse Anne confusa, e logo fechou os olhos.

Se ‘pufft’ bem sutil, e com curiosidade, Anne abriu de leve um dos olhos, mas o que aconteceu já havia passado, e Sasha estava apenas amassando uma mistura usando o pistilo.

— Acho que tá pronto… — Sasha então enfiou três dedos da mão no almofariz, pegando um pouco de uma pasta azulada.

Com leveza e cuidado de uma enfermeira, a garota foi tratando dos males de sua amiga, passando essa pasta por todo seu braço direito e rosto (o que causava arrepios e cócegas em Anne), para em seguida enfaixar e usar tiras para cobrir o rosto. Aproveitou também e enfaixou o próprio machucado.

— O que fazemos agora?... —  por incrível que pareça, o efeito estava surtindo até o momento; uma fala inteira sem tosses.

Sasha fechou os olhos e suspirou profundamente.

— Vamos embora… —  respondeu completamente derrotada, frustrada e cansada. — Ele não vai muito longe…

— Não podem-...Ai! — Anne tentou se sentar, mas uma dor equivalente a picadas de vespas a fez deitar no colo da outra novamente. — Não podemos deixar ele ir…

Sasha respondeu com silêncio e um rosto obscuro.

— Sash, você sabe melhor do que eu! Aquilo pode ser armas tão ruins quanto as máquinas do Andrias, ouvi relatos de rebeldes, temos que parar aquilo agora.

Nada.

— Sasha! Não me ignore, a gente…

— Anne! — Sasha a cortou com um grito que calou até a cantoria de insetos. — Para, já chega…

Seu tom de voz e expressão, mudavam constantemente, como uma pintura abstrata dos opostos; vez com raiva das sobrancelhas franzidas; vez triste com os olhos brilhando pelas lágrimas; e vez confusa e pensativa, perdida.

— Mas… — Anne tentou, porém Sasha a cortou imediatamente.

— Não Anne, apenas não. — Ela respirou fundo, engolindo a emoção de uma vez, e ficando mais séria, mesmo que seus lábios e pálpebras oscilassem. — Eu sei do perigo disso, só que agora eu sou uma comodante, não posso me dar o luxo de ficar me jogando de cabeça em tudo… — Ela acariciou o rosto de Anne, a olhando nos olhos. — E tô com medo de te perder… Não consegui fazer quase nada no castelo, e deu no que deu… Então, não posso deixar você se arriscar tanto… Vamos embora Anne, nos perdemos…

CRÔNICAS DA REVOLUÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora