Soava irônico ter um sono tão tranquilo durante uma guerra injusta e desproporcional. Mas assim foi a noite das garotas, que talvez buscassem em suas próprias companhias um pouco de paz.
Resquícios da luz do Sol se projetavam dentro do subterrâneo, então, Anne que acabara de acordar mal sabia se era noite ou dia. Ela se espreguiçou, deixando as dores e cansaços esvazarem num bocejo longo.
- Bom dia Sasha... - coçou os olhos.
Foi respondida pelo silêncio.
- Ei Sasha... tá dormindo? - Anne se recuperou um pouco do torpor do pós acordar, e cutucou um montinho que estava ao seu lado.
Mas nada mais era que camadas de pele e tecido.
Anne suspirou profundamente, colocando a mão sobre a face e fechando os olhos, para logo em seguida focar seu olhar na guitarra deitada no tapete, a encarando durante longos minutos.
- Você é tão complicada... - e finalmente se levantou.
Anne calçou seu único tênis, ajeitou seus cabelos, forrou a cama, e saiu do quarto.
Era dia já, os raios de sol penetravam o teto e iluminavam a base em tons brancos, parecia ser bem de manhã ainda pela brisa que arrepiava o couro. Anfíbios de todas as cores e formas perambulavam na praça central da base, onde alguns rostos conhecidos se destacam para Anne: tipo Hop Pop de frente a um quadro com um abacate desenhado explicando sobre as "maravilhas" do mundo humano para outros sapos de idade; ou Polly e Maddie se juntando para fazer uma espécie de Frankenstein do Frobô; e Chuck com suas levando suas icônicas tulipas para o lado de fora.
Tudo aquilo parecia tão familiar, mesmo em tempos de caos, nada parecia diferente, o que foi suficiente para abrir um sorrisinho na expressão de Anne, enquanto pensava, Wartwood nunca foi só a cidade.
Na distração dela, um pequeno sapo avermelhado de cabelos ruivos e vestido de roupas de um aventureiro nato, pulou para o parapeito barroso.
- Anne! - ele soltou um grito que rompeu a linha de pensamentos da garota, que quase caiu no susto.
- Sprig! Não faça isso cara, meu coração...gezz... - ofegante ela botou a mão no peito, repreendendo o sapinho.
- Desculpa - ele se sentou, balançando os pezinhos enquanto a encarava - , mas você tava no mundo do rio, te chamei umas duas vezes. Tá procurando o banheiro? Não é grande coisa comparado ao seu do mundo humano, mas...
- Eu sei onde é o banheiro, obrigada. - Anne então apoiou o busto no parapeito, ficando ao lado de seu amigo. - Tava só refletindo e procurando a Sasha.
- Você tava com ela? Ficamos preocupados com seu sumiço, já tava pensando que... - um sorrisinho malicioso surgiu no pequeno sapo. - Tudo bem Anne, eu entendo. Mas ela? Ela não é tipo, super problemática? Se bem que todo mundo tá falando bem dela... estranho...
Anne virou rapidamente a cabeça pra ele.
- Pera, pera, mas hein? Entende o que?
Sprig se levantou, equilibrando na fina extensão do parapeito, andando de um lado ao outro num gingado.
- Eu sei que é difícil passar por isso, mas não tem que esquecer o seu melhor amigo. - As bochechas de Anne ficaram avermelhadas, numa expressão visivelmente confusa. Mas ele prosseguiu. - Desde que comecei a namorar a Ivy sei como é ter uma vida dupla, mas não se preocupe, vou retribuir o favor que você me fez a meses atrás.
Anne tossiu, as palavras vieram tão rápido que se fez um congestionamento em sua garganta. Seu rosto ficou tão vermelho quanto as pimentas que sua mãe usava no restaurante.
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CRÔNICAS DA REVOLUÇÃO
FanfictionApós Anne voltar para Amphibia, ela tem que aprender a conviver e ajudar no dia a dia da revolução.