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— É irônico, mas você sabe que a sua resposta é um sonoro não, né?
— Larga de ser um pé no saco, Ji. Qual o problema de mudar a rotina um dia na vida? — Jungkook, mais conhecido como BANDIDO, me indaga com certa indignação na voz, da qual me faz revirar o olho. — 'Cê pode nem 'tá mais aqui amanhã, 'bora aproveitar. E ninguém te pediria nenhum absurdo, é só um dia, chega 00h a gente para.
Deixo a muda de roupas que estava separando para esse Pilantra, em cima da cômoda, e o encaro.
— Você tem ideia de quantos problemas podemos nos meter só com essa leviandade? — Rebato essa ideia absurda com um argumento fundado nas minhas experiências mais preservadas da adolescência. — Você nunca leu Fanfic??
— Já sim, inclusive tinha uma que um cara briga com um mendigo e tal... Mas isso não vem ao caso. — Diz ele ao se sentar encostado na cabeceira da minha cama, acompanhando meus movimentos com os olhos enquanto adentro no banheiro. — Nossa vida num é nenhum conto não Ji, o máximo que pode acontecer, é tua mãe manda tu lavar tuas cuecas.
— Ei!! — Respondo ainda com a escova de dentes na boca, parado no batente da porta. — Por que sinto que fui ofendido com esse seu comentário?
— É sério, Ji. — O coelho, maior que eu apenas no tamanho e na pilantragem, se levanta e adentra ao banheiro, me retirando do recinto a força. — Não vai acontecer nada, nós só vamos tirar boas risadas desse dia. — Até parece um pedido inocente, com boas intenções e de caráter admirável, mas esse coelho não me engana. — E quem sabe uns beijos também...
E é ai que a pilantragem mora, bem debaixo do seu nariz, só aguardando o melhor momento para esfregar a sua cara no asfalto quente e fazer o seu coração dar pulos desgovernados como uma britadeira descontrolada.
— EU SABIA QUE TINHA CENOURA NESSE BANQUETE! — Adentro o banheiro, e encontro o sorriso mal intencionado atrás da espuma branca, gerada pela pasta mentolada. — Jeon Jungkook, onde você quer chegar com isso? — Indago, encarando-o através do espelho, com a ponta da minha escova em sua direção, o fazendo falhar na sua missão de conter sua risada. — Do que você 'tá rindo, seu pilantra??
Aguardo pacientemente batendo o pé direito no carpete do chão, enquanto o coelho controla seus movimentos e recupera o fôlego, limpando a baba de seu queixo e enxaguando a boca, ao terminar, se encosta no granito da pia e direciona o olhar para meu rosto, ainda rindo. Aproveito o espaço aberto para finalizar minha higiene bucal.
— Calma Ji, eu 'to só brincando, mas se 'cê quiser a gente pode levar a sério. — O moreno pisca, fazendo um borbulho iniciar em meu estômago e a vermelhidão me atingir em cheio as bochechas, antes claras. — Ah, qual'é, não vai ser nosso primeiro beijo mesmo.
— Aquilo foi um teste Jeon, tu 'tava todo desesperado para saber se era gay ou não, coisa que eu já sabia faz tempo. — De certo, Jungkook nunca tinha demonstrado interesse algum por ninguém, até entrar pro time de futebol da nossa antiga escola e ter a rotina repleta de adolescentes másculos na flor da idade e com os homônimos transbordando até pelas narinas. — Gayzão.
— Eu 'to em duvida de novo, Ji. Ajuda seu amigo. — Jungkook acompanha meus passos para dentro do quarto, enquanto me empacoto em minha cama, encarando o maior na sua tentativa de ser fofo com esses olhos esbugalhados.
Porque tão fofo, puta que pariu.
— Depois de ensinar as tias da limpeza como passo o rodo em uma escola? Conta outra JK. — Reviro os olhos como uma ação automática a sua total falta de vergonha na cara. No que eu fui transformar esse menino?
— Eu 'tava com muita duvida. — Esse PILANTRA tem a ousadia de me responder.
De fato, eu me descobri Gay com mais facilidade que Jungkook, talvez por ele ser mestre na arte de ser um tapado, então, quando as primeiras dúvidas atingiram a mente do coelho, o experiente em exatos 0 relacionamentos o ajudou, dando seu primeiro beijo, e primeiro beijo gay. E foi ai que a carroça desandou.
Jungkook se descobriu um mestre no golpismo.
— Vamos fazer assim. — O Pilantra senta no acolchoado no chão, e encara meu rosto escorado no travesseiro da minha cama. — A gente faz o dia do sim amanhã, da meia-noite a meia-noite, todos que pedirem algo, nós teremos que fazer, mas ninguém de fora pode saber disso, se não estraga o jogo. E nós só não podemos fazer pedidos um pro outro durante esse dia, para não sermos injustos, mas caso um de nós falarmos não para alguém, o outro tem o direito de pedir algo e teremos que fazer, ok?
Ainda encarando as jabuticabas escuras à minha frente, pondero sobre sua proposta. Jungkook sempre foi fora da casinha, e eu sempre tinha que o livrar das encrencas que ele se metia, mas por partes eu acabo por entende-lo, sei que a pessoa que ele mais se rendeu em questão de confiança foi a mim.
Em uma família afastada, rejeitado pelos parentes mais próximos, e completamente ignorado pelos primos e tios, Jeon pode finalmente conhecer um pouco do sentimento familiar ao encontrar uma certa criança de cabelos escuros, bochechas gordas e dez bolinhas chamas de dedos nas mãos - vulgo o ruivo mais lindo na Universidade hoje, conhecido como eu - não foi difícil conquistar aqueles olhinhos brilhantes e essa amizade sincera que hoje compartilhamos, ele só precisou de um sorriso e um bonequinho do Homem-Aranha para me presentear com o sorriso de coelho mais adorável do mundo.
Desde os 16 anos morando sozinho em uma lata de sardinha, que ainda era luxo para o salário de jovem aprendiz que o moreno recebia, o maior sempre preferiu as noites em minha casa, e eu sei que o fato da mesa estar cercada por pessoas, e as noites não serem solitárias como o resto dos dias é um dos maiores motivos dele para isso.
Quando me formei na escola pude ver pela segunda vez o medo em seus olhos, sendo a primeira, pouco antes de oferecer meu bonequinho para ele brincar comigo, e desde então eu sempre soube o que isso significava.
O medo de ficar sozinho, de novo.
Eu era um ano mais velho, então para acompanha-lo no final do seu ensino médio, permaneci na escola por mais 1 ano, fazendo um curso de Espanhol, para estar mais presente nesse período junto dele. Claro que a carga horária era relativa, via poucas vezes durante a semana pelos corredores e intervalos, mas não me arrependo do que fiz, até porque el papa fica sexy hablando español.
Fora que foi uma recompensa ver o moreno interagir com outras pessoas ao seu redor, e agregar ao nosso grupo mais um companheiro de sorriso quadrado e humor duvidoso, além da minha mais nova aquisição de amigo e parceiro do crime: Jung Hoseok. É meus amigos, o espanhol valeu a pena...
Decidimos então adentrar a universidade juntos, Jungkook, gênio como era, com 70% de bolsa na área de exatas, e eu como dançarino, recebendo bolsa integral por recomendações de outros dançarinos e coreógrafos, que hoje só tenho a agradecer.
Como era nosso primeiro ano na universidade, eu entendo completamente o entusiasmo dele por querer coisas diversas e cometer algumas loucuras durante nossa estadia nessa fase da vida, bom, afinal, o que poderia ser pedido em apenas um dia por pessoas sem juízo, completamente desconfiáveis e repletas de hormônios?
— Ji, você 'tá pensando demais. — Jungkook me tira de meus devaneios, e assim o encaro enquanto ele ajeita sua falsa gravata e pigarreia para dar sua sacada final. — Confia.
Talvez seja hora de pula fora da casinha também, quebrar um pouco essa prisão que chamamos de rotina e testar novos desafios.
— Ok Jungkook, você ganhou, vamos logo jogar esse jogo, e rezar para nada dar errado...
— Party party yeahh! — O Pilantra comemora levantando e pulando na minha cama, me desempacotando do meu burrito enquanto sorri igual um doente. — Você não vai se arrepender Ji, vai ser divertido. Vai dar tudo certo.
É, vai dar tudo certo...
Tem que da tudo certo...
『••✎••』Continua...
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Derivados da loucura
Fanfiction[EM ANDAMENTO] ✒️ Até onde uma brincadeira pode te levar? Ao aceitar uma proposta, quais os riscos você está disposto a correr? Como um efeito borboleta, uma ação gera uma ação, que gera outra ação, e assim por diante, até você se dar conta da situ...