Capítulo 7

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Por segundos, nossos olhos duelaram.

Mais uma vez ele não daria o braço a torcer e então se abaixou para ficar na mesma altura que Lucas.

— E aí, garotão, como você tá?

— Você tá babo com a mamãe? – perguntou abraçado às minhas pernas.

não, é que eu queria comer bolo de chocolate e não achei, e ela não quer fazer um para mim.

Impressionante como ele consegue se safar, e como se fosse cúmplice, Lucas riu, porque ele sempre me pede bolo de chocolate e a resposta quase sempre é não.

— Ela também diz não pra mim.

— Que tal se nós formos na casa da sua vó e ela fizer um para nós dois?

Neste momento meu coração gelou, como ele fala as coisas assim, para uma criança, sem responsabilidade?

— Eu tenho vó?

— Tem, quando eu falei de você para ela, ficou amarradona, querendo te conhecer.

— Olha, mamãe, eu tenho vó. – Ele me balançou animado.

— É meu filho. Vem cá, precisamos conversar.

O segurei pelas mãos e caminhei até o sofá, pois eu queria que as palavras que ele ouvisse, fossem mais amenas, já que Douglas era direto demais para entender o raciocínio lento de uma criança.

— Lembra que a mamãe falou que seu papai havia indo para bem longe e que um dia ele poderia voltar?

Quando falei isso, encarei Douglas e vi surpresa em seu olhar, provavelmente deve ter pensado que eu vivia falando mal do pai do meu filho. Jamais faria isso, e não era nem para proteger o mal caráter, mas sim, para a proteção do meu filho, porque ele não merecia ouvir que foi uma pessoa indesejada por pessoas irresponsáveis.

— Então, meu amor, seu papai é o Douglas, e ele ficou esses dias tentando se aproximar para saber se você gosta dele ser seu pai.

Em uma ação inesperada, ele encarou Douglas e deitou a cabeça em meu ombro, ficando em silencio.

— Ei garotão, você não gosta de eu ser seu pai?

— Eu gosto da minha mamãe.

Ele estava sério, diria que triste, pois nunca vi meu filho calado, a não ser quando ficava doente.

— Eu demorei para voltar, não foi? — disse, entrando na história que inventei para contornar a sua ausência. — Mas, o papai promete que vai fazer de tudo para nunca mais te abandonar.

— Tá.

Foi somente o que respondeu e depois me abraçou, ficando pendurado em meu pescoço, em silêncio, não ligando para os carinhos que Douglas fazia em suas costas.

Foi apenas neste momento que consegui sentir pena de Douglas, ali eu percebi o quanto ele estava quebrado por não ter sabido que tinha um filho antes, e que esses anos que passou longe não seriam reconquistados, porque mesmo que Lucas não tivesse me perguntado sobre um pai antes, ele não estava feliz com a ideia, neste momento. Nada comparado ao que ele foi com Douglas quando se conheceram.

Tentando de toda maneira, eles tomaram café juntos, enquanto eu tomava meu banho e arrumava a cama que os dois bonitos saíram sem organizar, quando cheguei na sala, os dois estavam no tapete, cercados pelos carrinhos, enquanto Douglas tentava a todo custo buscar a simpatia do meu filho, que estava calado.

— Mamãe vai estudar, meu amor, quer o suco agora?

— Não, mamãe.

— E o bubu? — A chupeta, pois ainda o sentia meio cabisbaixo.

Ele me encarou, e eu sabia que lutava internamente para aceitar, mas tínhamos um estranho na casa. Por fim, decidi pegar e lhe entregar. Sabendo que não tinha alternativa, Douglas não lhe ralhou ou diminuiu sua masculinidade por estar de chupeta, muito pelo contrário, lhe chamou para assistir ao seu filme favorito.

— O que você está estudando? – perguntou-me de supetão, aparecendo na minha frente.

— Matérias do meu curso? — respondi enquanto me sentava à mesa, abrindo meu laptop.

— Que curso?

— Meu curso. — A resposta não permitia abertura para outras perguntas, e espero que ele tenha entendido.

Ainda bem que ele entendeu o recado, pois não insistiu, ficou um tempo ao lado de Lucas, no sofá, até que eu vi os créditos do filme subindo na tela.

— Que tal ir na casa da vovó comer aquele bolo de chocolate?

Lucas levantou do sofá e me encarou com expectativa.

— Deixa eu só terminar essa página e eu me troco para irmos.

— Quero levar apenas meu filho para a minha mãe conhecer.

O encarei incrédula. Era este caminho que ele queria seguir? Começar a me afastar do meu filho?

— Eu trago ele mais tarde, só precisamos de um momento juntos, para que possamos criar a nossa conexão.

Aparentemente meu inimigo era tão persuasivo quanto eu, quando queria. De mão atadas, sabendo que um bolo de chocolate animaria o meu bebê e sabendo que estava com os estudos acumulados, eu permiti esse passeio, mas antes, fiz questão de anotar o endereço da casa em que ele ia e o seu telefone, depois fui até o quarto preparar uma mochila. Fui surpreendida com Douglas atrás de mim.

— Eu não sei se você ainda mantém contato com a puta da tua irmã, mas se tiver, avisa que se ela respirar na minha frente, eu mato. Se eu sonhar na direção onde ela está, eu vou atrás e acabo com a vida dela. — O encarei assustada por suas palavras. — Meu filho, sangue do meu sangue, tem medo de mim, ou seja lá qual é a porra do sentimento que esteja nele agora, e tudo por causa daquela maldita. Se você ama ela, avisa que é melhor se manter nesse buraco que está.

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