Com a ausência de uma figura materna em casa, Tenko foi pego de surpresa, e teve que se acostumar a viver com seu pai, que não era nada gentil.
A rotina podia continuar daquele jeito, se o pai do garoto não se casasse novamente, com a família de um...
O azulado pegou uma maça e saiu de casa, evitando contato com o rapaz, que fez questão de imitar a ação do rapaz, para sair junto com ele.
ㅡ você cresceu muito desde a última vez que te vi. está quase um homenzinho.
ㅡ não me trate como se eu fosse uma criança.
ㅡ e continua falando da mesma forma direta e seca. não mudou muito isso, haha..
Tenko permaneceu calado, andando em direção a escola.
ㅡ você quer ir comigo no cinema? mais tarde? posso ir te buscar na escola.
ㅡ não. não gosto de sair.
ㅡ sim? que ótimo! irei te buscar então.
ㅡ você é surdo ou o quê?
ㅡ calma, meu novo irmãozinho. não precisa ficar ansioso pra sair com o irmaozão aqui.
ㅡ patético.
Touya sorriu, feliz em perceber que o temperamento do garoto ainda era o mesmo. Já Tenko, escondia por dentro da máscara preta, um sorriso discreto. Não queria admitir, mas estava com saudades de ter alguém que lhe tratasse daquela forma. Ele não se lembrava da pessoa que o tratava assim, mas recordava de já ter sentido aquela sensação alguma vez.
Depois que Tenko entrou na escola, Touya saiu para comprar algum presente para o garoto. Ele sabia que sua doença era um problema, e que uma hora ou outra teria que tentar explicar ao azulado sobre a amnésia e quem ele era.
ㅡ ♡ ㅡ
Algumas horas mais tarde, Tenko saiu com sua irmã para comprar um lanche em qualquer loja próxima. Mas antes que saísse, foi surpreendido por Touya na bicicleta, oferecendo dois sacos com lanches diferentes.
ㅡ o pai de vocês preparou o lanche. então eu vim trazer.
ㅡ eu recuso, obrigado.
Tenko deu de ombros, seguindo o caminho em direção a loja, que futuramente compraria algo. Já sua irmã, aceitou o lanche e saiu voltando para a escola. Enquanto Touya devolvia a bicicleta roubada a rua, correndo para alcançar Tenko.
ㅡ ei ei. eu estou matando aula então.. pensei que talvez pudéssemos sair agora.
Tenko encarou o garoto com desprezo, se perguntando se ele estava falando sério ou apenas brincando.
ㅡ eu recuso. tenho coisas a fazer.
ㅡ sério? que coisas?
ㅡ ah bem..
Tenko não sabia mentir quando era preciso.
ㅡ não está pensando em inventar uma mentira pra mim, está? tipo, eu quem ensinei você a mentir, então nem tente usar minha magia contra mim!
O azulado ficou surpreso. Não lembrava do rapaz, mas por algum motivo, aquele cara sabia muito sobre ele. Era estranho, mas aos poucos ele se lembrava de uma figura que conheceu há uns anos atrás.
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ㅡ meu pai não vai concordar com isso.
ㅡ eu não ligo. vamos assim mesmo. aliás, vamos agora!
Touya segurou na mão de Tenko, puxando o garoto até uma bicicleta que estava largada na grama; as crianças não sabem guardar seus brinquedos. Roubou a bicicleta e obrigou o azulado a sentar, assim pedalando até o cinema que costumava ir. O rapaz estava encantado e familiarizado com a ousadia do garoto de cabelo branco. Era estranho como se parecia com alguém que havia conhecido no passado. Mas ainda assim, o cabelo e o rosto não eram tão parecidos. O garoto no qual se lembrava de fazer aquelas mesmas ações, tinha um cabelo escuro, e sua pele era lisa, sem ferimentos. Já este, tem cabelos brancos com algumas pontas pintadas de vermelho, e com algumas queimaduras no rosto. Ele era estranho, mas não por ter uma aparência diferente. Mas sim por ser uma boa companhia.
ㅡ sei que já estamos chegando no cinema, mas mesmo assim, posso te perguntar uma coisa?
ㅡ diga.
ㅡ por que você... se afastou de mim quando eu estava estudando na sua escola... no primeiro ano do Ensino Médio?
As memórias pareciam fugir aos poucos das caixas que estavam guardadas. Tenko começou a duvidar da semelhança, e aceitou as paranóias.
ㅡ eu parei de falar com muita gente quando estudava naquela escola.
ㅡ sério? por quê? te fizeram algo?
ㅡ não, não me fizeram nada. eu apenas cansei da escola.
ㅡ cansou é? bem, vamos comprar a pipoca ali.
ㅡ hmn..
Sempre que Tenko queria falar mais, ele resmungava. Touya sabia que ele não estava se sentindo confortável o suficiente para falar, então começou a reconquistar sua confiança.
ㅡ seu cabelo parece bem sujo. quando chegarmos em casa, podemos tomar um banho de piscina. o que acha?
ㅡ acho que não está tão sujo.
ㅡ se quiser posso pintar seu cabelo de branco, igual o meu. vamos ser descolados juntos. o que acha?
ㅡ eu-.. você me pergunta muitas coisas. eu não acho nada.
Ele pegou a pipoca e saiu andando, esperando Touya lhe acompanhar. Ganhar a admiração de Tenko quando pequeno era bem fácil, mas agora que ele está crescendo, se tornou bem mais difícil e complexo.
ㅡ Ahhh, Tenko.. por que você é assim? me conte o que aconteceu na escola, por favorrrr! eu não consigo te forçar a dizer com ações, então vou encher o seu saco até falar!
ㅡ eu apenas quis sair. não é tão difícil de entender.
ㅡ eu sei que está mentindo! você... seu... grr! esquece, vamos ver esse filme logo.
ㅡ essa é a intenção.
Os dois garotos que matavam aula entraram no cinema, correndo para não perder o filme a acabar chegando tarde em casa. Touya sabia que o pai de Tenko odiava quando ele agia como delinquente. E naquele dia, o garoto dos cabelos cor de neve estava disposto a fazê-lo receber uma reclamação do pai. Pois sabia que quando Kotaro se irritava com o filho, Tenko acabava se tornando mais acessível, e conversava mais que o normal. Aquela era sua grande jogada futura.
