Com a ausência de uma figura materna em casa, Tenko foi pego de surpresa, e teve que se acostumar a viver com seu pai, que não era nada gentil.
A rotina podia continuar daquele jeito, se o pai do garoto não se casasse novamente, com a família de um...
Depois de curtir na praça, tanto Tenko quanto Touya se sentaram para descansar em um banco, admirando a vista, enquanto degustavam de um hambúrguer suculento.
ㅡ estou cansado.. e nem andamos muito.
ㅡ na verdade corremos das crianças, mas tem razão.. não parecia ser tão cansativo.
ㅡ pois é, minhas pernas estão doendo.
ㅡ quer deitar no banco? tipo, não é considerado vandalismo.. eu acho.
ㅡ eu estou bem assim.
Os dois ficaram em silêncio. Apesar de estarem ali para descansar, na mente de Touya, aquilo parecia um encontro. Mesmo que não quisesse fazer parecer, a cada segundo que faziam algo novo, mais parecido com um encontro ficava. O azulado também pensava da mesma forma. Mesmo sabendo que estava fazendo aquilo para não ir embora sem dizer nada a Touya. Ele sabia que se saísse sem fazer nada com o rapaz, deixaria ele irritado ou até mesmo desconfortável. No início, o azulado não confiava fielmente em Touya. Na verdade, não confia cegamente em ninguém, e só de pensar que aquela era a primeira pessoa que cumpria tudo que falava, o deixava emotivo.
ㅡ Tenko... seu comportamento hoje de manhã foi bem estranho. te conheço bem.. e diria que para você tomar a iniciativa de sair, é porque pretende fazer alguma coisa que compromete a sua presença em casa. o que aconteceu?
ㅡ eu.. queria que percebesse isso de noite. mas já que perguntou.. bem.. minha mãe conversou comigo ontem de noite. ela me pediu para encontrá-la.
ㅡ sério?! isso é muito bom! calma... encontrar ela de novo?
ㅡ não assim. ela quer que eu vá morar com ela. entende?
ㅡ oh.. você vai fugir com ela?
ㅡ sim. eu pensei a noite toda se seria a melhor coisa a se fazer. e.. não entenda mal! eu realmente gosto de ficar perto de você. depois de tantos anos vivendo aqui, eu nunca me senti tão bem quanto estou me sentindo agora. você trouxe muitas coisas boas pra mim, e eu sou grato por tudo, de verdade.
Tenko abraçou Touya, que estava com uma expressão triste. Parecia ser uma despedida fatal, sem volta.
ㅡ me desculpe. eu realmente queria ficar feliz e te apoiar com isso. mas não quero perder você de novo.
Quando criança, Touya ficou completamente sozinho. A solidão era como um monstro que perseguia o rapaz. Sempre que gostava da presença de algo ou alguém, essa presença se perdia com o tempo. Não confiava na mãe do garoto, mesmo sendo alguém que ele ama. Ela não parecia ser responsável, nem confiável. Tenko ficaria bem mais seguro da forma que estava. Aquele sentimento voltava sempre que se abraçavam. Era como se tudo de ruim saísse do corpo, restando apenas uma sensação de leveza, paz e conforto. Mas mesmo com essas sensações, Touya ainda estava deprimido, e não queria soltar Tenko de forma alguma.
ㅡ me desculpe.. mas eu já tomei a minha decisão. não vou ficar aqui. eu irei com a minha mãe. mas... eu prometo que irei voltar. algum dia, talvez..
Touya encarou o rosto do garoto, vendo que não era o único que estava choroso vendo aquela situação se construir. Era doloroso. Quanto mais pensavam em declarações para dar antes que se afastassem, mais se tornava sufocante. O pedido que Rei havia feito foi alcançado. Agora não era só Tenko que precisava se afastar, Touya também aceitaria manter distância, pelo menos por uns anos.
ㅡ ei Tenko. me prometa que você vai voltar quando fizer 18 anos. você consegue cumprir essa promessa?
ㅡ eu consigo. mas por que com 18 anos? isso é daqui a.. 3 anos..
ㅡ isso é algo que só irei te contar quando você voltar. até lá, será um segredo meu.
O rapaz sorriu, mesmo deprimido.
ㅡ eu não me sinto mais triste. aliás, daqui a pouco é tarde e.. depois é noite. vamos voltar pra casa, aproveitar que seu pai ainda está no trabalho.
ㅡ certo! parece uma boa idéia.
ㅡ então vamos!
ㅡ ♡ ㅡ
Não demorou muito para chegarem em casa, e se trancarem no quarto. Tinham coisas que não eram permitidas em casa, pois Kotaro era um homem rígido. Logo, brincar com as pelúcias dos heróis era como desacatar a autoridade do empresário. Sem ele em casa, tanto Touya, quanto Tenko, puderam brincar com o presente que o mais velho havia comprado. Mesmo com a idade problemática, Touya não recusou viajar na infância e brincar com Tenko e suas pelúcias do All might, Eraser Head, entre outros que ele amava. Se divertiram mais em casa, de que na rua. Era adorável, ainda mais quando conversavam e trocavam as pelúcias. Memórias doces que seriam guardadas com muito amor.
ㅡ eu gostaria de brincar mais.. mas estou exausto- vou tentar dormir pra não perder o horário mais tarde.
ㅡ certo.. boa noite. eu vou guardar as pelúcias..
ㅡ você pode dormir comigo se quiser. bem, uma última vez.
ㅡ quer que eu esteja dormindo pra não ver você saindo escondido, é?
ㅡ hahaha, sim- quer dizer, não..
ㅡ mas olha só.. hmn! eu vou dormir com você, mas quero que me acorde quando for sair. quero te levar até onde ela disse que te encontraria.
ㅡ obrigado, mas não é necessário. você teria que ir e voltar, seria gasto de gasolina e do seu tempo também.
ㅡ que nada. se tratando de você, nada é perda de tempo
Tenko se calou, abraçando a pelúcia do Eraser Head, para que pudesse dormir tranquilamente. Enquanto Touya se agarrou ao corpo do garoto, deixando um último e primeiro beijo, na área da nuca, para não se sentir culpado de deixá-lo ir sem demonstrar um pouco do seu afeto.
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ㅡ você é adorável.
Comentou Touya, adormecendo próximo ao ombro do irmão, ignorando completamente que aquela seria a última vez que o veria.
