Analisei-a com meus pobres batimentos cardíacos no momento em que me olhara profundo à alma cuja se esgueirava por trás das íris verdes e da retina que, em sua maior capacidade, se desfocou, e a deixei que tomasse posse do meu ser. Já havia me perdido há tempos, percebi-me àquela altura. "Pinta-me um quadro e eu direi se te amo ou não," dissera ela.
As tintas haviam acabado. As telas estavam espalhadas e borradas com o pontilhado do grande relógio de Londres ou com a curvatura da bunda de alguma mulher imaginária que me viera à mente.
A amava, certamente confiei e claramente não lhe disse. Que mais podia eu fazer àquele transe tão confuso senão encará-la como se já fosse um quadro dificilmente decifrável meu?
Portanto, não lhe disse sequer uma das coisas. Deixei que a incógnita me lesse assim como tentava eu lê-la. Lembrei-me das cidades da Europa e assimilei à moda de sua roupa. Mas logo ela se despiu e acendeu um cigarro. Sentou na mesa com as pernas abertas como se duvidasse de mim e me desafiasse.
Segurei com os dentes o pensamento de quantos homens já haviam visto aquilo antes além de mim. Os homens que Madeline possivelmente havia trepado em Londres, em Lyon e nos fundos dos restaurantes de Paris.
Está aí. Se eu fosse lhe pintar um quadro, certamente lhe pintaria o corpo sentado à beira de uma correnteza, para representar as idas e vindas suas em minha vida. Por que lugares andavam suas pernas bronzeadas e seus cabelos dourados, com o acabamento de um chapéu Cartwheel, após deixar-me desordenado e solitário na cama de meu apartamento por semanas e meses a fio? Responda-me, maldita Madeline!
No entanto, não me dissera uma única palavra. Apenas sentou lá, desafiando minha orientação com a sombra de um sorriso e um cigarro assentado nos dedos. A visão era arrebatadora.
Oh, Madeline. Por que tão cruel?
Hei de contar as vezes que me fez te amar, e te odiar, e te amar, e te odiar. A transa contigo é incrível, mas o que me fascina é que nunca está ao meu lado quando acordo.
Eu a amava por isso, não importava se isto me tornava o tolo mais estúpido e estranho do mundo.
"Me ama?", ela por fim perguntou.
A loja de tintas ficava logo à esquina, e eu com certeza poderia encontrar alguma tela perdida.