–Sabe, eu não estou com raiva por ela ter me traído porque eu amava ela ou alguma merda dessa. A questão é o respeito, entende? – Liam tomou outro gole da cerveja e bateu o copo na mesa, sentindo-se incrivelmente leve tanto pelo álcool como por estar desabafando com pessoas que não o julgavam – Eu fiz tudo o que eu podia, paguei por todas as bolsas e sapatos idiotas que ela quis, ela nunca precisou se preocupar com nada, é pedir demais um pouco de respeito?
–Não é, você tem razão – Gustavo, que tinha se juntado à mesa disse, parecendo tão irritado quanto o ruivo – Se ela queria outra pessoa, deveria ter pedido o divórcio primeiro.
–Cinco anos – Liam disse alto – Cinco fodidos anos! Eu deixei ela ficar com a casa e com o meu carro, e ela ainda tem a coragem de vir me pedir mais dinheiro?
Helena colocou a garrafa no balcão com mais força do que necessário – Eu normalmente apoio a minha classe, mas dessa vez eu tenho que concordar com você, Lin. Ela está passando dos limites.
–É por isso que eu gosto de homens – Guilherme comentou e bebeu do copo.
O bar estava bem movimentado quando eles chegaram. A casa dos pais de Guilherme fica no segundo andar, ele deixou os cachorros lá e retornou para fazer companhia a Liam. Das mesas circulares de madeira, apenas duas mais ao fundo estavam vazias e foi lá que Liam sentou.
Quanto mais tarde ficava, mais pessoas iam embora. Gustavo e Helena fecharam o bar um pouco depois da meia noite, mas apesar do cansaço, ficaram conversando com ele com os cachorros perto naquela espécie de reunião particular desde então, bebendo e jogando conversa fora. Liam não lembra como o assunto do seu divórcio chegou à mesa, mas estavam falando sobre isso já a algum tempo.
Conversar estava sendo mais fácil do que costumava, afinal este era o casal mais simpático que Liam já tinha conhecido na sua vida, e Guilherme, apesar de falar bastante e não ter experiência no assunto, parecia mesmo interessado nos seus problemas chatos.
Pensar na gentileza deles o deixou triste, uma pessoa tão mal-humorada quanto ele não deveria ser tão bem tratada. Foi assim que ele aprendeu, você recebe da vida e das pessoas aquilo que merece.
–Será que foi minha culpa? – Lembrou do que seu pai disse e amuou outra vez – Eu fui tão negligente com ela que a forcei a me trair?
Guilherme deu dois tapinhas fracos na sua perna e descansou o braço no encosto da sua cadeira – Isso não é desculpa para a traição, Lin.
–É, mas eu tenho essa dificuldade de me conectar com as pessoas, sabe? – Virou o rosto na direção dele e notou o quão próximos estavam e não se incomodou – Nem amigos eu tenho.
–Eu sou seu amigo!
–A gente se conhece há uma semana e eu já gritei com você e te dei uma martelada no braço – Apoiou os cotovelos na mesa, tomou o último gole da cerveja.
–Essas coisas tornaram nossa amizade mais forte – Guilherme disse descaradamente.
Liam não respondeu, ficou girando o copo vazio entre uma mão e outra, como um gato brincando com um novelo de lã. Neste momento, Helena voltou com um prato com diversos molhos e pacotes de salgadinhos nos braços. Ela colocou tudo na mesa e sentou ao lado do marido, em frente aos dois.
Gustavo foi o primeiro a abrir um dos pacotes vermelhos – Normalmente as pessoas gritam com meu filho logo no primeiro dia, não se culpe.
–Eu não queria gritar com ele, juro para o senhor. Mas ele ficava apertando aquela campainha barulhenta todo dia! – Disse irritado e começou a picotar o copo plástico com as unhas – E a martelada também não foi minha culpa, é que ele pulou o muro da minha casa e me assustou – Fez um biquinho infantil e murmurou – Eu sinto muito.
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A vida é foda
RomanceNo mesmo dia que perdeu seu emprego, Liam descobriu que sua esposa estava o traindo com seu melhor amigo. Ao lado do seu cachorro, e sem mais a obrigação de sorrir o tempo todo e esconder suas emoções, Liam decide se reinventar e deixar sua infância...