Eu não me aconchego facilmente

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Guilherme não apareceu no horário marcado para buscar seus cachorros. O crepúsculo estava adiantado no céu, e Liam estava olhando para os três cachorros parados na sua frente.

Ele vai simplesmente abandonar os três aqui?

Não fazia sentido. Tudo bem, ele foi um grosso e descontou em Guilherme sua frustração, mas o cara parecia amar de verdade os cachorros e não parecia ser do tipo que os abandonaria. Liam olhou para Arek, ele estava sentado ao lado da sua perna e encarava os três animais tão fixamente quanto o dono. Tentou ligar para ele novamente, mas foi em vão. Liam coçou a nuca, olhou os cachorros outra vez.

–Bom, vamos procurar caminhas para vocês, que tal? Eddy, você quer colo?

O grande cachorro caramelo bateu a cauda languidamente e o encarou com os olhos amarelos tristes, como se pedisse clemência. Liam se ajoelhou e pegou o cachorro no colo e foi seguido pelos outros até o limite da sua casa. Chutou o portão para entrarem e Eddy resmungou quando Liam o colocou no chão, a mudança de temperatura à noite exigia muito dele.

O coitadinho deve sofrer muito no inverno – Quer uma massagem, Eddy?

Ele reagiu à palavra e abanou a cauda com mais força. Liam começou a trabalhar em seguida.

Quando viu Eddy pela primeira vez, ficou curioso com o tipo de cuidados que ele necessitava e pediu algumas dicas para Luana. Ela lhe ensinou uma massagem que pode aliviar um pouco a dor dele e realmente funcionou. Eddy ganhou o tratamento no começo do dia e conseguiu caminhar para conhecer o terreno e escolher um lugar perto da cadeira de Francisco, onde passou o resto do seu tempo observando os outros cachorros correndo e mordendo as orelhas um dos outros.

Terminou de relaxar seus músculos e lhe ofereceu um dos petiscos que sempre levava nos bolsos – Bom menino, descanse agora – virou para os cachorros atrás dele, surpreso com o bom comportamento que Ozzy estava demonstrando – Agora, a caminha para vocês. 

Aproveitou uma promoção online e comprou várias caminhas de tamanhos e estampas variados, pegou duas delas e a de Arek e levou para perto de Eddy pois planejava trabalhar do lado de fora da casa de qualquer jeito. Fez uma segunda viagem com alguns brinquedos coloridos e deixou perto dos cachorros e Ozzy pegou um ossinho de borracha para morder.

–Dolores, você não quer um? – A cachorra só cheirou a bolinha e deitou na cama – Te entendo, eu também queria deitar e dormir. Arek, cadê você?

Procurou seu cachorro e o encontrou puxando uma toalha velha que Liam usava como tapete. O cachorro tropeçou nele e só parou quando chegou perto de Eddy, Arek tinha desenvolvido um enorme carinho pelo caramelo e se aconchegou perto dele para morder o pano.

Deixou os cachorros lá, pegou seus fones e os conectou ao celular para ouvir uma playlist sugerida pelo aplicativo. Vasculhou uma caixa de ferramentas que comprou no início da reforma até encontrar uma talhadeira e martelo e caminhou até o lado de fora da sua cozinha, encarou a mancha de vazamento. Não parece maior – Pensou ao medir o contorno com a palma da mão para confirmar. Inspirou para ter coragem e depois de encaixar a ponta afiada da talhadeira no concreto, martelou três vezes seguidas e olhou para os cachorros.

–Isso não vai incomodar vocês? – Testou martelar mais duas vezes, e como não demonstraram sinais de incômodo, retornou ao trabalho.

Liam não tinha o costume de executar tarefas manuais e logo sentiu a palma esquerda arder. Tirou a camiseta preta, jogou no  chão ali mesmo. Chacoalhou os ombros para relaxar um pouco antes de retornar ao trabalho. Precisava chegar até o cano e ver se o estrago poderia ser consertado com um remendo ou teria que trocar a coisa toda. A primeira opção ele daria conta, mas a segunda…

A vida é fodaOnde histórias criam vida. Descubra agora