A vida é foda e não dá para descansar

26 5 24
                                    

Perder a hora de levantar durante o inverno sempre foi uma das maiores preocupações de Liam, para que isso não acontecesse, e também para impedir Guilherme de abusar da função soneca, ele começou a deixar o celular no quarto vazio do fim do corredor, afinal, a casa que Guilherme projetou e que construíram juntos tinha um corredor tão longo que até chegarem ao celular, o sono já teria desaparecido. Este foi o método mais eficaz que Liam encontrou desde que se mudaram para a casa nova e passaram a viver como uma família verdadeira já por alguns anos.

O único problema é que até hoje ele não tinha personalizado o alarme e o celular tocava cedo inclusive nos fins de semana.

Liam andou em zigue zague pelas paredes cor de porcelana, tremeu por conta do ar gelado da manhã e se encolheu mais nos seus braços. Mais consciente que ficava a cada passo, mais ele se apressava e poucos segundos depois, tinha chegado no último quarto. Abriu a porta daquele cômodo e andou direto para a mesa do Guilherme, desligou o alarme desnecessariamente irritante, bocejou desleixadamente. Ao sair, Liam pisou em um carrinho de brinquedo e praguejou baixinho.

Aquele quarto deveria ser o escritório de Guilherme, exclusivamente para ele desenhar e calcular seus projetos nos fins de semana, porém, tanto ele quanto Breno tinham o seu cantinho ali, fosse na caixa organizadora ao lado da mesa infantil onde Breno se sentava com lápis de cor e caderno para imitar Guilherme, ou na poltrona perto da janela onde Liam sentava nos fins de semana para ouvir música e cochilar na hora que o sol bate exatamente ali durante o inverno.

Recordar esses momentos em família fez a raiva dele passar mais depressa.

Para facilitar para Liam administrar a clínica veterinária e o day care enquanto cuidava de Breno, ele comprou meio lote do terreno ao lado. Guilherme planejou uma casa confortável, porém com um longo corredor para aproveitarem o terreno ao máximo, tanto que Liam teve tempo de sobra de bocejar mais três vezes antes de chegar à cozinha. Lá, ele colocou água para ferver e organizou a pequena bagunça que nenhum deles teve coragem de limpar na noite anterior. Foi quando estava guardando os pratos que usaram para comer a pizza caseira de Guilherme que ele finalmente lembrou que era fim de semana e estava perdendo tempo valioso de sono.

De qualquer forma, não era um fim de semana qualquer.

Terminou de arrumar a mesa para que pudessem tomar o desjejum juntos e retornou ao quarto para cumprir a terrível tarefa de acordar Guilherme e Breno. Dessa vez empurrou a porta de correr do seu quarto com menos delicadeza e o montinho encolhido embaixo da coberta se mexeu um pouco.

–Gui, acorde. Temos que sair.

Disse bem alto e só ouviu o resmungar dele. Parou diante do espelho e ajeitou o cabelo que nesse ponto, passava um pouco dos seus ombros. Tocou as pontas um tanto finas e ralas, suspirou.

–Acho que está na hora de cortar um pouco.

Em resposta, Liam ouviu as cobertas se mexendo furiosamente com a velocidade com a qual Guilherme sentou-se na cama.

–Você não pode! – Gritou esfregando os olhos – Você não vai cortar o cabelo, eu não quero!

–Só as pontas, elas estão esturricadas já – Respondeu e terminou de desembaraçar os fios, virou-se para ele.

–Promete?

–Sim – Aproximou-se e beijou a testa dele – Vou tomar um banho, o café já está pronto, pode acordar o Breno?

Guilherme recusou-se a abrir totalmente os olhos e abraçou Liam, puxou-o de volta para a cama e o prendeu entre as pernas – O que você tem contra dormir, hein?

–Isso é uma grande hipocrisia sua, já que você me faz ficar acordado até a madrugada, seu demônio tarado – Guilherme sentia cócegas nas costelas e assim que tocou nessa parte, Liam conseguiu se soltar e sair da cama – Acorde de uma vez, temos que preparar a festa do Breno.

A vida é fodaOnde histórias criam vida. Descubra agora