Eu admiro o sol, que explode por dentro e ilumina o mundo sem desabafar

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Depois que o banho conseguiu acalmar um pouco seus desejos, o peso do que fez o atacou de uma única e poderosa vez. Ele saiu do banho fatigado e desanimado, jogou-se na cama e se encolheu como uma bolinha.

Não havia mais como parar, a barreira que o manteve seguro num mundo comum se partiu, uma realidade inquieta o empurrou para longe do conforto.

O que sentiu não foi lógico.

Para alguém que sempre tomou suas decisões baseadas na lógica e fez o melhor para se acomodar no molde da sociedade, de repente ver que existia algo real e intenso do lado de fora o deixou sem ar.

Seu cachorro pulou na cama e de aconchegou perto do seu rosto, tocou seus braços com o focinho gelado. Liam o abraçou forte, Arek parecia mesmo entender quando precisava desse carinho.

–Você sempre me salva nos momentos mais difíceis, não é? – Arek lambeu seu nariz uma única vez, um gesto simples que pareceu deixar mais fácil de respirar – Eu também amo você, mas você tem que parar de destruir minhas coisas logo!

Arek fez-se de surdo e bocejou, esticou as patinhas e relaxou de uma vez, deitado de lado no braço dele. Liam fez o mesmo, se espreguiçou ao máximo e despencou um pouco mais relaxado na cama, fechou os olhos para dormir e se torturar amanhã. Suas pálpebras já pesavam quando ouviu o celular tocar de algum lugar dos lençóis verdes. Tateou até alcançar o aparelho e claro, era Guilherme quem estava ligando. Pensou em deixar a ligação cair, mas seria mais fácil atender de uma vez.

–Oi.

–Te acordei, Lin?

–Não exatamente. Por que está me ligando tão tarde?

–É que não vou poder ir à sua casa amanhã, meu pai pediu minha ajuda para consertar a calha – Disse num tom de desculpas – Podemos pintar sua casa no domingo, e o que faltar podemos terminar segunda depois do meu trabalho, o que acha?

–Hmm.

Do outro lado, Guilherme começou a fazer planos para os dois, mas Liam não estava mais acompanhando, estava tentando achar um sentido em tudo aquilo. Devo perguntar? Fechou os olhos e negou consigo, se trouxesse o assunto à tona outra vez...

–Liam, você dormiu? Sabe, não seria a primeira vez – Guilherme provocou – Semana passada você caiu no sono no meio da conversa e...

–Por que você ainda insiste? – Perguntou de uma vez, impaciente – Eu já te disse que não quero nada com você, por que continua me ligando e me ajudando? Eu não consigo te entender.

Desde seu casamento, a escolha da carreira, onde morar, seus gastos... Em todas elas suas escolhas foram racionais, ponderadas e certas para atender as expectativas. Podia contar nos dedos as vezes que agiu por impulso ou só por que quis.

–Sobre te ajudar, é mais simples – Guilherme prosseguiu – Você conhece meus pais, nós temos essa mania de querer agradar, sabe? Na escola, por exemplo. Eu aceitava fazer os trabalhos em grupo sozinho, não reclamava quando pegavam minhas coisas, eu era bem idiota – Ele riu daquele lado da ligação e Liam se encolheu mais na cama espaçosa – Eu gosto de ajudar, só que isso acaba atraindo pessoas interesseiras. Mas ajudar você é diferente, você não tenta se aproveitar de mim.

–Você tem que parar de ser tão besta.

–Estou tentando. Ah, lembra aquele chá revelação que eu não fui para te ajudar com o vazamento? – Aguardou Liam concordar e prosseguiu – Um dos meus primos disse ao meu pai que estava contando em me ver lá para pedir dinheiro emprestado. Eu não ia saber dizer não, então você me salvou.

Liam mordeu o lábio, conseguia imaginar perfeitamente o sorriso que aquela voz carregava, não soube o que responder.

–E sobre te ligar o tempo todo, é um pouco mais complicado – Guilherme sussurrou.

A vida é fodaOnde histórias criam vida. Descubra agora