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O medo é tão sorrateiro quanto um duende maligno de um conto de fadas. O medo se aproxima na escuridão, quando nossos olhos estão longe das luzes artificiais. A vida não é um conto de fadas, mas por algum motivo, os vilões são sempre reais.

Jake caiu do sofá ao ouvir a voz chorosa de Sunghoon lhe chamando. A televisão estava ligada, daqui alguns minutos, o hino nacional começaria a tocar e imagens inspiradoras do país apareceriam na tela. Ele espantou o sono de seus olhos, como se estivesse fazendo um contra feitiço e subiu, desesperadamente, as escadas.

A cena que ele encontrou era de partir o coração. O coração de Jake ainda possuía pedaços para serem partidos? Sempre há pedaços para serem partidos, sempre há buracos onde o sofrimento pode adentrar. O Park estava abraçando um cachorrinho de pelúcia, chorando como uma criança que foi esquecida no parque.

-Jakey...

-O que foi Sunghoon?! Você tá com dor?! O Sim se aproximou, acariciando os cabelos do maior.

-Eu tô com medo...

-Por que você tá com medo, príncipe?

-Jake, eu vou melhorar? Eu vou voltar a patinar?

Jake não estava pronto para aquelas perguntas.

-Hoonie...Eu não sei, desculpa...A tristeza emperrou em sua garganta. Ele não conseguia chorar.

Sunghoon suspirou, enxugou as lágrimas com a manga do pijama, e disse:

-Pode me trazer um copo de água? Por favor...

-Eu não deixei uma garrafa? Como eu pude esquecer algo tão simples...Se culpou Jake.

-Tudo bem, Sunghoon sorriu, um sorriso simples, mas que exigia um esforço monumental.

...

Na cozinha, Jake deixou algumas lágrimas caírem, encheu uma garrafa para Sunghoon e desligou a televisão, que estava mostrando um mapa da previsão do tempo.

-Aqui esta sua água, disse Jake, entregando a garrafa do Ursinho Pooh.

O Park bebeu um gole.

-Precisa de mais alguma coisa? Perguntou o Sim, esfregando os olhos em uma tentativa de espantar o sono. Sunghoon puxou a manga de sua blusa, e disse:

-Você pode dormir aqui?

-Mas é claro!

Ele se aconchegou ao lado de Sunghoon. A cama, mesmo sendo de solteiro, cabia duas pessoas perfeitamente. O Park pegou o seu celular e os fones de ouvido na cômoda.

-Eu posso ouvir música com você? Perguntou o Sim. Um filete de luz noturna iluminava o rosto do Park, os vestígios de lágrimas ainda estavam presentes em seu rosto. Sunghoon concordou, e entregou-lhe um fone. Uma melodia sombria atravessou os ouvidos de Jake. Um piano tocava lentamente, com notas pesadas, mas harmoniosas. Jake imaginou aquela música sendo tocada em uma igreja vazia, com apenas a luz do luar de espectador.

-"Sonata ao Luar", de Beethoven, disse Sunghoon, sendo mais específico, Adagio sostenuto, eu gosto do começo dessa sonata, mas não consigo sentir a mesma emoção nos movimentos seguintes, são alegres demais...

-Eu gosto de "Clair de Lune" do Debussy, por algum motivo, apesar de não ter palavras, ela é tocante

-Eu já patinei com essa música...

-Foi quando você ganhou o seu primeiro ouro, lembra? Você estava alguns pontos atrás de um patinador chinês que eu não lembro o nome...

-Então eu dei um Axel Triplo, e consegui...Ele sorriu, melancólico.

-Eu lembro de quando você "beijou o gelo"

-Ah sim! Eu abri os meus braços...

-...Como se fosse um anjo

-...E me abaixei até encostar os lábios no gelo

-Eu fiquei preocupado com você aquela hora, tive de medo de você escorregar...

Sunghoon colocou "Clair de Lune" para tocar. Aquela melodia suave acalmava os corações de ambos.

-Eu gostaria de ser um anjo, disse Sunghoon sonolento, eles podem voar livres pelo céu

-Não sei se ser um anjo é algo tão feliz assim, deve ser algo bem solitário, eles sempre parecem tristes nas pinturas e nos tetos das igrejas...

-Verdade...Sunghoon fechou os olhos, e sendo vencido pelo cansaço, adormeceu.

Jake percebeu a respiração calma do Park, sorriu, e quando a música terminou, ele retirou os fones de seus ouvidos e os colocou, junto do celular, de volta na cômoda. Ele cobriu o maior até os ombros, e por baixo das cobertas, segurou a sua mão. 

Ele adormeceria minutos depois, com "Clair de Lune" ainda tocando em seu coração. 

Sonata de Seoul - Jakehoon Onde histórias criam vida. Descubra agora