VIII

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Apesar da dor nas costas e do cansaço, cuidar de Sunghoon não era desagradável para Jake. Ele gostava dos dias em que o Park estava falante, sorrindo, enquanto os dias em que ele ficava introspectivo o preocupavam. Jake conhecia bem a personalidade do patinador, que quando estava preocupado com algo, puxava a ponte levadiça de seu castelo e não saia até encontrar uma "resposta".

Sunghoon estava dormindo no sofá, enquanto Jake esperava o almoço chegar. Eles haviam pedido Budae-jjigae. A cabeça do Park estava deitada na perna do Sim, que acariciava os seus cabelos, ele sorria ao ver aquele Príncipe dormindo serenamente. Então a campainha tocou. Sunghoon acordou, e ajudado por Jake, se sentou no sofá.

Ao atender a porta, Jake foi surpreendido por um policial de aparência jovem, usando as roupas clássicas de uma série criminal.

-Policial Yeo Jin-goo, ele mostrou o seu distintivo.

-No que posso ajudá-lo?

-Ah...Eu não preciso de ajuda, mas ele sim, ele apontou um jovem estudante, escondido atrás de suas costas. Jake encarou o estudante, e se surpreendeu ao ver quem era, Heeseung tentou desviar o rosto, ele não conseguia olhá-lo.

-O que ele está fazendo aqui? Perguntou Jake, segurando a sua raiva.

-Ele apareceu na delegacia, chorando, ameaçou...você sabe, se não visse o Senhor Park

-Por que ele quer vê-lo? O caso já foi encerrado, não há mais nada para ser resolvido

-Eu quero pedir perdão, respondeu uma voz chorosa.

-Como você ousa vir até aqui?! Já não basta todo o sofrimento que você causou?! Gritou Jake.

Sunghoon estava no sofá, escutando a discussão. Ele respirou fundo, e disse:

-Jake, deixe ele entrar...

Jake encarou Sunghoon, desacreditado:

-Mas Hoonie...

-Apenas deixe...e ofereça um café para o policial

-Certo, Hoonie

Eles entraram no apartamento. Com um olhar fuzilante, Jake disse para Heeseung:

-Me acompanhe

Eles foram até a sala, e com extrema formalidade, o Sim apresentou o Lee:

-Lee Heeseung, ele gostaria de conversar com você, qualquer coisa estou na cozinha com o Policial Yeo

Jake se afastou, sem antes olhar com desprezo para Heeseung. O Policial Yeo estava um pouco confuso com tudo aquilo, não é todos os dias que alguém entra na delegacia para pedir perdão, mas no momento, ele estava mais interessado no cubo cheio de cápsulas de café com nomes exóticos.

Sunghoon encarou o estudante, que não conseguia olhá-lo diretamente. Então, de forma inesperada, Heeseung se joelhou no chão e começou a chorar nos pés do Park.

-Me perdoe! Me perdoe, Senhor Park!

A raiva cicatrizada no coração de Sunghoon se dissipou com aquela cena. Com a voz firme, ele respondeu:

-Por favor, levanta-se, não estamos em Joseon para você se humilhar por perdão

O estudante obedeceu, e se levantou sem enxugar as lágrimas, que escorriam como dois rios de tristeza.

-Sente-se, ordenou o mais velho.

-Sim, Senhor Park, ele sentou ao lado de Sunghoon.

-O que aconteceu naquela noite? Por que você estava dirigindo sem carta em alta velocidade? Perguntou Sunghoon, fitando os olhos do mais novo.

Heeseung gaguejou antes de responder.

-Eu havia sido reprovado, pela segunda vez no Suneung, meus pais brigaram comigo, eles foram tão cruéis dessa vez! Então eu fiquei bravo e peguei o carro do meu pai no meio da noite...Senhor Park, eu não queria te atropelar! Eu só queria fugir! Para bem longe!

-Heeseung...

O coração do Lee apertou ao ouvir o seu nome.

-...Como seus pais te trataram depois do acidente?

-Eles choraram bastante, ficaram preocupados, se culparam e disseram que o importante é que eu estou bem, eles foram estranhamente carinhosos, e claro, eles ficaram preocupados com você, eles quiseram te mandar flores, mas eles não sabiam o seu endereço, então...Ele abriu a sua mochila e retirou uma rosa, e a entregou para Sunghoon...É da floricultura da minha mãe

O Park sentiu o cheiro daquela rosa, ela estavam sem espinhos, e acariciou uma das pétalas macias.

-Acho que um patinador deve receber muitas rosas...Disse Heeseung, Meus pais ficaram preocupados com um possível processo, mas eles foram surpreendidos com a retirada da queixa, e por conta da minha idade não fui preso, segundo eles, você me deu uma segunda chance

Sunghoon colocou a rosa na mesinha ao lado do sofá, e disse:

-Eu apenas não queria prolongar o sofrimento, eu fiquei com muita raiva de você, eu te odiei profundamente, afinal minha vida se baseia no que minhas pernas podem fazer, mas em algum momento no hospital, eu me lembrei de você, chorando no volante, e pensei que você também estivesse sofrendo, logo porque prolongar essa dor?

Heeseung não sabia dizer se havia um Santo ou um Buda em sua frente. A luz do sol iluminava os cabelos de Sunghoon como uma auréola, uma coroa flamejante de um Rei.

-Muito obrigado, Senhor Park! Heeseung o abraçou, e voltou a chorar em seus ombros.

-Me chame apenas de Sunghoon, você está perdoado, Heeseung, mas por favor, não faça mais esse tipo de coisa, tá bom? Não importa o quão ruim seja algo, isso vai passar, ele sorriu para o estudante, que devolveu o sorriso afogado em lágrimas.

-Jake! Trás uma água por favor!

Jake estava na cozinha, ouvindo uma palestra do Policial Yeo sobre uma cápsula verde de nome "Etiópia". O policial era um expert em café, e estava explicando a diferença entre grãos etíopes e árabes. Quando ele ouviu a voz do Park, rapidamente encheu um copo e pediu licença para o policial, que o seguiu até a sala.

Sunghoon entregou o copo para Heeseung, que bebeu em pequenos goles.

-Está tudo resolvido, Senhor Policial, muita gentileza sua trazê-lo até aqui, disse o Park.

-Ah, as vezes a gente precisa ser misericordioso, respondeu o policial, envergonhado, e hoje está um dia bem tranquilo na delegacia, logo ninguém saiu prejudicado, e eu gostei bastante das suas cápsulas, Senhor Park!

-Jake, dê uma cápsula de café etíope para o Policial Yeo

-Gentileza sua, Senhor Park, respondeu o policial.

...

Após Heeseung e o Policial irem embora, Jake viu a rosa na mesinha, e disse:

-Ele te deu uma rosa?

-Uhum, respondeu o Park, lendo um livro.

-Eu não conseguiria perdoá-lo...

-Jake, quando eu estava no hospital, o que você me disse quando eu falei que queria acabar com a pessoa que me atropelou?

-Eu não lembro...

-Você disse que não adiantaria nada, e realmente, do que adiantaria eu destruir a vida de um estudante?

-Você está certo...

A campainha tocou.

-Deve ser o almoço! Disse Jake, indo atender a porta.  

Sonata de Seoul - Jakehoon Onde histórias criam vida. Descubra agora