Capítulo 3

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Com a fera dentro, não há onde nos escondermos.

Demons — Imagine Dragons

Era seu primeiro dia de trabalho e ela deveria passar uma boa impressão, por isso chegou mais cedo,  também porque queria evitar a todo custo se encontrar com Peter. Caminhou apressada sobre seus saltos pretos até a sala que a partir daquele dia seria sua. O lugar era amplo. Havia uma mesa grande e algumas estantes repletas de livros. As paredes eram pintadas em um branco singelo e sério. Ela entrou, e fechou a porta caminhando na direção de sua mesa, mas parou ao ouvir barulho de passos atrás de si.

Com o corpo congelado pelo medo, ela o obrigou a se virar e notou Peter parado observando-a, um olho roxo se destacava no rosto perfeito e rígido dele. Seus olhos negros brilhavam de forma maníaca, e seus cabelos, sempre tão bem penteados para trás, caíam a sua testa. Com o maxilar cerrado e o punho comprimido ele caminhou até que estivesse somente há alguns passos dela. Sem mudar a expressão ele deu passos para o mais longe que pode da moça, que agora parecia apavorada, com as mãos suando e a boca entreaberta graças a sua respiração entrecortada.

Distante dela Peter apenas fechou os olhos e imaginou algo além dali, respirando pausadamente e se acalmando, progressivamente.  Amelia, aparentemente destemida, avançou na direção dele.

 - Você não deveria ter feito aquilo.

Disse ela um tanto quanto temerosa. Esperou pela reação dele, mas nada aconteceu.

- Ele matou a sua irmã e eu sou o errado?

Peter falou minutos depois.

- Você começou a gritar com ele...

- Ele me agrediu, Amelia! — a voz dele aumentou um tom.

- Você o provocou...

- Eu só disse a verdade. Ele é um assassino, matou a Charlotte.

- Não foi ele! — Amelia gritou e tomou-o de surpresa.

Um clima tenso se instaurou no ar, Amelia ofegava, e Peter esperava por algo que justificasse a resposta ou a reação dela, mas nada acontecia. Um vento gelado entrou pela janela e os envolveu, deixando o mistério mais acentuado.

- Como sabe que não foi ele? — disse Peter finalmente.

Ela deu de ombros.

- Eu confio nele.

Toda a calma eu ele tinha conseguido reunir foi para os ares e ele bradou irracionalmente.

- Você confia nele? — gritava cada palavra — Confia no cara que acabou com a sua família?

À medida que ia falando ele se aproximava da moça, fazendo com que ela recuasse.

- A polícia comprovou que foi ele, as digitais estavam lá... E depois você diz que confia nele?

Peter encurralou Amelia como um predador. Empurrou-a até que estivesse completamente encostada na parede fria e pousou os braços em cada lado do corpo da moça, como se fosse uma redoma impossível de sair. Ela podia sentir o hálito dele bater contra sua boca e suas narinas aspiravam o cheiro da sua loção pós-barba. Os olhos dele nunca haviam estado tão rígidos, Amelia estava assustada porque ele a olhava de forma ameaçadora, como um criminoso. Ela tentava espantar os pensamentos que lhe vinham a cabeça.

O olhar dele era o mesmo de um animal faminto que ponderava entre atacar ou não a sua presa. Depois de algum tempo em máxima tensão, Peter finalmente se rendeu. Abaixou a cabeça e posou-a sobre o colo dela, que visivelmente respirou aliviada. Ah! Aquele cheiro, adocicado da maneira certa. Ele acompanha a trilha que o perfume fazia em seu corpo... Chegou até os lábios vermelhos naturalmente e molhados pelo terror que a tomara minutos antes, e a beijou. Com toda força possível, apressadamente. Ele retirou as mãos espalmadas na parede a frente de si e as colocou nas costas dela, descendo convenientemente.

O Assassinato de Charlotte MillerOnde histórias criam vida. Descubra agora