Pensamentos gritantes

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Faz alguns minutos que eu e Tainá voltamos para a mesa no jardim e nos sentamos, ainda bem que o jantar já está próximo de começar por que eu tô doida pra ir embora. Sinto que ela tá me olhando, mas logo ela olha desvia o olhar, será que ela vai ficar nesse clima o resto do jantar inteiro?

— Então, sábado é nossa última noite juntas antes de você sair por aí em defesa do país.

Consigo atrair a atenção de seus olhos querendo com que ela melhore um pouco, querendo ou não ficar aqui, ela ainda não pode ir embora. Por falar neles, os olhos que sempre me mostraram tudo estão tão confusos agora, que me deixam confusa também.

— Sim. — Há um tom de tristeza na sua voz, como se não quisesse aceitar o futuro. — Sabíamos que nosso tempo juntas seria pouco.

— Sabíamos, mas ele não precisa passar assim tão rápido, né?

Ela se inclina ainda mais pra mim, o silêncio de sua voz só me faz querer ouvir todos os seus pensamentos gritantes que eu sei que não são poucos. Mas parece que cada vez que me aproximo mais de descobrir, ela cria uma barreira pra me impedir de chegar não só no que ela sente no momento, mas também no passado. Me impede de olhar todas suas cicatrizes, as rasas e profundas, sei que ela não me deixa chegar mais perto por que ainda são feridas.

Sei que pode parecer que não tenha muita diferença, mas metaforicamente falando, a cicatriz é uma marca. Em algum momento o que te machucou te feriu bastante, só que você cuidou e conseguiu se curar, porém, aquela marca continuará com você pra sempre. Ela não pode doer mais, mas sempre que você olhar você irá lembrar do que passou sabendo que você ficou mais forte.

Já a ferida, ela fica ali aberta o tempo inteiro se você não cuidar, ela fica doendo e te machucando e enquanto você não cuida, ela não virará uma cicatriz ou ela pode nunca virar uma cicatriz. O que a Tainá tem é justamente isso, ela sofre muito com uma ferida que está aberta, a machuca mas ela ignora sua existência. Enquanto ela não cuidar de sua ferida em vez de fingir que ela não existe, ela nunca vai se libertar do que a aflige. Eu sempre gosto de pensar nisso da cicatriz e ferida, é uma maneira de pensar tão boa em relação a superações, de qualquer tipo.

Eu demorei tanto tempo nesse pensamento que nem tinha percebido que enquanto estava aqui pensando, a morena ao meu lado não tirava os olhos de mim e nem dizia nada. Com um olhar tão lindo, como se estivesse admirando a pessoa mais bonita do mundo bem a sua frente, mas como isso poderia ser possível se eu já estou olhando para ela?

— Por que você tá olhando assim pra mim?

— Assim como? — Ela se desperta do tipo de transe e continua me olhando da mesma maneira, quase com um sorriso bobo.

— Assim como se tivesse encantada ou mal pudesse esperar chegar no hotel.

Ela direciona as mãos dela pras minhas costas e fala no meu ouvido — Assim que chegarmos no hotel, você tem 5 minutos para tirar a roupa. Só consigo pensar no que vou fazer com você quando chegarmos.

Meu corpo responde aos seus estímulos, se enchendo de vontade de voltar logo para o hotel. Se a noite de ontem foi boa, a de hoje vai ser o dobro.

— Você vai ter que esperar.

— Eu sei. — Ela me dá um olhar safado e eu não consigo resistir e grudo meus lábios nos seus numa carícia bem suave mas com um sorriso safado igualmente ao dela — Mas vai valer muito a pena.

Logo em seguida o jantar termina, quase não conseguimos sair da casa dos meus pais de tanto paparicarem a Tainá, a maioria dos meus familiares se despedindo de nós, dizendo coisas como "adorei te conhecer", "deveria vir mais vezes" e aquela coisa toda. Saímos de lá quase correndo para ir ao hotel.

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⏰ Última atualização: Nov 14, 2023 ⏰

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𝘜𝘮𝘢 𝘮𝘦𝘯𝘵𝘪𝘳𝘢 𝘯𝘢𝘴 𝘯𝘶𝘷𝘦𝘯𝘴 - 𝘛𝘢𝘪𝘭𝘢𝘳𝘢Onde histórias criam vida. Descubra agora