06 | e s t r a n h o

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Windy Takara Zim
Los Angeles, Califórnia
18.03.2010

   Senti alguém respirar forte embaixo de mim. Meu sangue gela tentando lembrar o que aconteceu ontem, a festa estava tão tranquila... depois eu bebi algumas doses, ok, nós brincamos de pôquer, eu perdi dinheiro, ok, eu quis entrar na praia, mas desisti pela brisa gelada da noite de primavera. Ok, nada demais. Oh, merda, eu aceitei a carona do Masara, Dante ficou na casa dos Masons para se despedir da namorada já que vai viajar com o pai e eu não cheguei em casa.

     — Porra. — escutei ele xingar baixinho e suas mãos acariciaram suavemente as minhas costas, parecia estar segurando a respiração, com o corpo tensionado, mesmo assim deixou um rastro de fogo por baixo da minha pele. Lance volta a ficar quieto, mas eu sinto seus olhos em mim. Me remexo, querendo que ele levante logo para que eu possa sumir sem precisar olhar para ele, mas esbarro em algo duro que está mais acordado que eu, acabo que me assustando e abro os olhos, flagrando seus olhos me assistindo, seu rosto tão perto do meu.

     — Senhor Masara. — cumprimento, abaixando a cabeça em respeito e tentando me cobrir enquanto levantava. Eu não deveria ter dormido aqui, não temos nenhuma relação, então é constrangedor acordar ao lado de alguém que não é nada seu.

     — Por que está envergonhada, Takara Zim? — sua voz é calma e profunda como as águas de Soul que liga nossas casas e nossas histórias. Eu não ouso levantar o rosto ou dizer que estou um pouco apertada para ir ao banheiro, eu preciso segurar até em casa.

     — Eu tenho que ir. — minhas roupas estão espalhadas pelo seu quarto e eu me apresso para procurá-las, mas não consigo achar minha calcinha. Tudo bem, não seria a primeira vez que eu sairia sem.

     — Madame. — ele chamou, sentando vagarosamente na cama. Eu me mantive olhando apenas de canto de olho, sentada em meus tornozelos enquanto colhia as minhas coisas — Eu te ofendi?

     Tentei respirar fundo para acalmar meu coração bobo e virei para ele, buscando em seus olhos intensos algum suporte para não fazer a escolha errada. O senhor Masara está com o cabelo quase cobrindo seus olhos, bagunçados em uma franja charmosa, sua pele escura entrava em contraste com o edredom claro e eu conseguia ver as tatuagens em seu peito e em seus braços, ele é musculoso e muito alto, mesmo com o feitio forte do seu corpo, seu rosto é puro e com traços finos, sua pele é macia e gelada, mas queima quando encosta na minha.

     — Não. Eu apenas estou atrasada.

     — Tem certeza?

     Eu suspiro e levanto, decidindo acabar com isso de uma vez.

     — Não vamos mais nos ver, senhor Masara. — digo, abaixando os olhos para meus pés descalços — Peço para que não fale comigo quando nos encontrarmos em nossa roda de amigos.

     — Posso saber o por quê? — sua voz se mantinha pacífica e controlada, num ronronado baixo de um felino prestes a atacar, mas ele não faz nenhuma menção de levantar.

     — Eu não gosto de amores de colchão e sei que não é conhecido por ter relacionamentos longos. — digo de uma vez, decidida a acabar com isso e ir terminar de arrumar minhas coisas para pegar meu vôo para Weiyoung. — Eu também quis que isso acontecesse, mas me precipitei. Ontem eu falei sobre a liberdade que tenho em Los Angeles, mas não quis dizer que... — encolho os ombros — Não quis dizer que me deito com qualquer um.

     — Entendo. — assentiu com respeito, mas meus olhos não conseguiram desviar da sua masculinidade viril quando levantou da cama sem se dar ao trabalho de se cobrir — Então, eu fiz errado em te trazer para minha casa?

     — Eu-eu... — engulo em seco, tentando olhar para qualquer lugar, mas tinha uma força que puxava meus olhos para ele todas as vezes — Eu não disse isso.

     — O que eu devo fazer agora, Takara? — senti meu corpo esquentar quando seus dedos gelados tocaram minha face, obrigando meus olhos a se encontrarem com os seus — Devemos esquecer tudo o que fizemos?

     Eu assinto, com dificuldade em respirar quando seu rosto se abaixa em direção ao meu.

     — Senhor Chung... — tento resistir e não fechar os olhos, mas é tão difícil.

     — Pode me chamar pelo primeiro nome, Windy.

     Sem conseguir controlar a sede selvagem que tomava meu corpo, solto o lençol que eu usava para me cobrir para abraçar o pescoço de Lance e capturar seus lábios cheios nos meus. Ele não demorou nem um segundo para retribuir, abraçando meu tronco como se quisesse me grudar em si. Eu não tive forças para resisti a algo tão primitivo, o desejo que me consome vem de um lado escuro da minha alma, eu nunca havia sentido algo assim antes e só me dou conta disso quando chamo seu nome sentindo se derramar dentro de mim, com os olhos nos meus, tão ofegante quanto eu, com nossos corpos cobertos pela febre e pelo suor.

     — Está tudo bem? — sua voz é tranquila enquanto tira o seu peso de cima do meu corpo e deita ao meu lado, me analisando atentamente em cada detalhe — Eu te machuquei?

     — Não. — respondo, ficando sonolenta com a sensação de relaxamento — Só estou um pouco mais cansada que o normal.

     — Por quê?

     — Não tenho dormido muito bem.

     — Por quê? — um vinco suave se fez entre suas sobrancelhas e, por um segundo, eu achei que estivesse realmente se importando com isso.

     Pesadelos, é o que eu queria responder.

     — Tenho trabalhado até tarde. Não é nada de especial. — me esforço para levantar ainda me sentindo sensível e quente ou irei acabar cochilando, não demoro para vestir a roupa e dessa vez ele não me impede, apenas me assiste, elegantemente deitado no meio da sua cama. — Eu...

     — Pai? — Dante dá dois toquinhos na porta e meu coração acelera com a probabilidade de ser flagrada. — Já está acordado? Temos que ir.

     — Estou apenas me vestindo, filho. — ele responde, tranquilo, perfeitamente nu sob os lençóis — Dê-me apenas um segundo.

     — Ok.

     Eu ainda estou pensando em alguma forma de sair sem ser vista quando ele levanta outra vez e se aproxima de mim. Seguro a respiração quando cheira meu cabelo, os olhos se fecharam em apreciação e um arrepio correu todo o meu corpo.

     — Eu não garanto ficar longe, Windy. — disse, perto do meu ouvido, fazendo-me encolher — Mas, também não posso te oferecer um relacionamento sério.

     Abafo um suspiro de frustração.

     — Eu não pedi isso. — respondo, sabendo que ele nunca me seria fiel e eu não gostaria de viver numa vida em par sem respeito — Eu só disse que não vamos mais nos envolver.

     — Então, acho que ouvi errado, pois entendi você dizendo que não ficou com mais ninguém nesse tempo que passamos afastados.

     Eu abro a boca e fecho, chocada.

     — Não! Quer dizer, sim! Mas, não por sua causa. — me atrapalho nas palavras com sua proximidade e seus olhos me deixando nervosa — Você está distorcendo tudo o que eu digo.

     — E você continua envergonhada em minha presença.

     — Bem, eu não gosto de dormir na casa de estranhos. — confesso, me afastando para recuperar o controle e a confiança em meu corpo — Foi bom te reencontrar, Lance. Mas, não vai acontecer de novo. Eu tenho que ir.

      Sem lhe dar tempo para resposta, eu salto pela janela e sumo entre as árvores ao redor da sua propriedade.

A DesenhistaOnde histórias criam vida. Descubra agora