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Lance Masara Cho Chung
Los Angeles, Califórnia
20.03.2010

     A senhora Cho preparou um chá para que Windy se acalmasse e ela dormiu durante todo o caminho até em casa, também dormiu a noite inteira e ainda não acordou. Minha mãe disse que ela precisa disso e não deixou ninguém acordá-la. Eu estou estranhando que tenha tido empatia por alguém mesmo com seu jeito grosseiro.

     Eu não posso negar que estou ansioso para que acorde. Eu quero que sinta confiança em me contar tudo mais que não foi dito ali naquele salão, mas estava tão explícito. Eu quero saber suas dores e anseios. Quero saber o que a fez entrar em pânico numa crise porque eu devo ter entendido errado e isso não sai da minha cabeça.

     — Bom dia. — meu filho nos saudou, com bermuda de praia e mochila nas costas — Quer ir na praia, pai?

     — Bom dia, filho. — afago seu cabelo quando senta ao meu lado e deixo o jornal de lado para lhe dar atenção — Não, eu tenho alguns assuntos para resolver. Você vai com sua namorada?

     — Eu acho que ela vai mais tarde, mas eu estou indo com a galera da faculdade.

     Eu assinto.

     — Sua mãe... — meu celular toca e o nome de Edith aparece na tela, nós dois arfamos em surpresa — Essa mulher deve ter algum poder.

     — Lance? — sua voz está aflita e o outro lado está barulhento. — Espera um pouco, deixa eu... — ela respira fundo e então fica silêncio — Pronto. Oi, Lance.

     — Bom dia, Edith. — cumprimento, levantando da mesa antes que a senhora Cho me acerte sua bengala por ser mal educado.

     — Bom dia! Você já voltou para Los Angeles?

     — Sim, chegamos pela madrugada.

     — Então, devolva o meu filho que eu estou com saudade.

     Eu sorrio, achando engraçado ela tratar o garoto como uma coisa, um objeto. Pela janela, vejo uma mulher caminhando com um garotinho preso numa coleira e isso me lembra Edith, é assim que ela tenta tratar nosso filho, mas ele é mais escorregadio que bambu sem casca.

     — É só ligar para ele. Não está amarrado.

     — Não seja engraçadinho. — resmungou, chateada — Eu não posso falar agora, mas avisa pra ele me ligar.

     — Ok.

     Meu filho me olha como se soubesse exatamente o que sua mãe pediu. Então, eu decido deixar que ele tome sozinho a decisão de ligar para ela, já que passou alguns dias longe e sabe o quanto ela é grudenta. Ou melhor, prestativa.

     — Bom dia. — Windy está encolhida, envergonhada, e não se aproxima da mesa.

    — Bom dia. Sente-se para comer com gente. — convido, mas ela rapidamente nega com a cabeça.

     — Eu tenho que ir para casa. — aperta o casaco sobre si, ainda sem nos olhar direito — Hm, obrigada, por me ajudarem. Eu nem consigo imaginar como poderia ter sido se não estivessem lá.

     — Você deveria comer e voltar para a cama, garota. — a senhora Cho aconselha, passando geleia no pão para o neto. — Então, sente e coma. Seu corpo ainda não se recuperou do veneno.

     — Eu...

     — Depois de comer.

     Windy apertou os lábios e assentiu. Eu quis rir quando a minha mãe demonstrou seu lado escondido e a serviu com tudo que tinha na mesa, mesmo ela dizendo que não estava com fome. Win desistiu de lutar contra e comeu o máximo que conseguiu. Enquanto eu e Dante nos divertíamos com sua falta de jeito.

A DesenhistaOnde histórias criam vida. Descubra agora