.
.Windy Takara Zim
Weiyoung, Michima
19.03.2010Os imperadores do reino de Fogo estavam majestosamente sentados em seus tronos e eu conseguia enxergar inúmeras semelhanças nas séries de época que Eillen adora assistir. Lance apertou minha mão, como se quisesse me passar apoio e eu retribui porquê eu precisava disso.
— Não vai reverenciar seus pais, princesa Windy? — o rei Shuntaro questionou, quando eu não me curvei em respeito.
Respiro fundo. Mais uma vez.
— Vocês não merecem. — respondo, tocando em minha própria barriga para lembrar que eu não estava sozinha, mas não graças a eles — Eu finalmente aprendi minha lição. Entendi que vocês não merecem participar da minha vida, fazer parte da minha história. Eu não estou viva graças a vocês, eu passei todos esses anos longe achando que o problema era eu... — sorrio, afetada em como minha família fodeu minha cabeça — Mas, o problema nunca foi comigo. Sempre foi vocês. Opressores, machistas e imundos. — continuo, vendo o peito do rei encher de ódio enquanto levanta e caminha calmamente em minha direção — Vocês não são dignos nem mesmo da minha pena. Mas, tem todo o meu nojo.
Shuntaro, com seus 65 anos, ainda leva uma aparenta juventude no porte grande e forte, seus cabelos estão grisalhos, mas continua sendo um rei muito bonito. Eu não tenho muitas lembranças do meu pai. Na verdade, eu acho que só tenho duas memórias sobre ele: o dia que minha avó sofreu um infarto e o dia que um jato caiu no lago Soul. Eu fui criada reclusa na ala das crianças e nunca tive a oportunidade de sequer ceiar com ele alguma vez na minha vida. Não é como se o rei tivesse tempo de ver sua filha caçula alguma vez, mas sei que ele sempre esteve por trás dos meus planos frustrados de tentar fugir do castelo.
Meu corpo inteiro entra em transe quando ele segura meus ombros e então, ao olhar a fúria contida nos seus olhos, eu lembro. Eu lembro de tudo. Eu lembro do que acontecia na masmorra todas as malditas noites até eu conseguir finalmente fugir. Eu lembro do quanto eu gritava e implorava para que parasse e nunca era ouvida por ninguém. Eu lembro das suas mãos imundas me apalpando, me deixando marcada, me deixando suja e nojenta. Eu lembro de cada maldito segundo de tortura que eu tive que passar até conseguir sair. Eu não conseguia entender meus pesadelos antes, mas agora eu consigo. E eu quero explodir uma bala em minha cabeça para não sentir mais essa agonia em meu peito.
Meu rosto arde quando ele desfere um tapa forte que eu não estava esperando. Na verdade, eu ainda estava perdida em memórias dolorosas demais para serem superadas. Escuto quando Lance diz alguma coisa e me abraça, mas eu não consigo entender nada. Tudo parece tão desfocado e irreal. Não é a primeira vez que ele me bate, não é a primeira vez que eu sinto meu rosto arder por sua causa. E não é a primeira vez que a rainha assiste algo do tipo.
— Você sabia! — eu me dou conta, aturdida com sua frieza enquanto me olha de cima — Você... — eu tento respirar fundo, com meu peito doendo enquanto eu tento buscar por ar — Como pode ser tão... tão...
— Não ouse se referir a sua majestade com tanta...
— Não encoste nela. — Lance me puxa mais para si, me deixando longe do rei, num gesto totalmente protetor, mas era tudo que eu precisava. Eu precisava desesperadamente dele nesse momento.
— Não há nada que eu não saiba em meu reino. — a rainha respondeu, indiferente. Seu sorriso radiante me machucava muito mais do que uma facada. — Não seja tão dramática, Windy.
— Não ser... — ofego, sem ar — Dramática?
— Win? — Lance me chama, sua voz está preocupada e seus olhos também, ele coloca a mão em meu peito e forja uma respiração, como se me instruísse a fazer o mesmo. Eu faço, aprendendo outra vez como se respira e meu coração se acalma quando eu lembro mais uma vez que não estou sozinha aqui. — Fique calma.
Eu assinto, conseguindo um pouco mais de controle, mesmo com a boca seca e o corpo pesado.
— Como você consegue dormir a noite? — eu pergunto ao rei Fogo, engasgada — Como consegue ter paz sendo um monstro?
Lance segura o pulso da majestade antes que me acerte e empurra de volta, nos afastando mais dois passos do rei.
— Você não sabe o que diz, criança tola!
— Eu tinha 15 anos! — berro, sem conseguir mais segurar meu choro — E você é o meu pai! Que tipo de verme faz o que você fez?
O herdeiro da Água enrijece quando percebe sobre o que eu estou falando e me aperta mais em seus braços. Em alerta por nós dois. Agora eu não sou uma agente membro de uma equipe tática de investigação, agora eu sou apenas um garotinha assustada e traumatizada que nem consegue se proteger sozinha.
— O quê? — é a voz de Yehu, o segundo príncipe. Atual rei Ar desde que se casou com a princesa regente. — Princesa Windy?
A rainha teve seu primeiro filho quando tinha apenas 13 anos. Yehu nasceu quando tinha 15. Eu ainda era uma criança quando ele foi obrigado a se casar para assumir o trono. E ele também era. De todos os filhos Fogo, ele era quem eu mais sentia empatia. Yehu é gentil, mesmo que não sejamos próximos.
— Saiam daqui! — o rei vocifera, cheio de ódio — Guardas! Levem-nos para a masmorra.
— Eu nunca vou voltar... — meu peito se aperta outra vez, enquanto uma dormência escorre pelo meu braço e eu tento desesperadamente buscar por ar.
Lance me chama outra vez e eu vejo seus olhos antes que me beije, com a mão em meu colo novamente. Eu me acalmo, como se o lago Soul me cobrisse com suas águas tranquilas. Eu flutuo como se estivesse boiando num dia bonito na ilha. Um segundo de paz no meu inferno particular.
— Acabou. Vamos embora. — ele diz, quando nos afastamos minimamente, ainda com a boca perigosamente próxima da minha — Nosso bebê também merece um pouco de calmaria.
O bebê! Toco em minha barriga, assentindo para ele. É, Lance, nosso filho vai ter uma vida feliz e longe de toda essa merda. Quando nos afastamos eu percebo que estamos cercados por espadas. O rei e a rainha estão de pé em frente aos seus tronos e seus filhos estão espalhados pelos poucos degraus do altar.
— Eu acho melhor vocês abaixarem isso. — digo, arrumando a postura, voltando a ser uma mulher adulta. Voltando a ser eu mesma.
— Senhor do Fogo, podemos... — Yehu tentou, mas foi calado pelo grito furioso do rei.
— Levem-nos para a masmorra!
— Um passo e o rei morre. — aviso, já mirando em direção a sua cabeça e meu dedo está coçando para puxar o gatilho. Eu destravo a pistola enquanto assisto a reação deles mudar para incredulidade — Pode ter certeza que eu não erro.
Os guardas recuam com o consentimento de sua majestade, mas eu não relaxo a postura.
— Você é uma ingrata, um erro! — a rainha vocifera, descendo os poucos degraus com rapidez.
— Erro foi nunca conseguir me matar mesmo depois de tantas tentativas. — respondo, guardando a arma outra vez no cós da minha calça — Infelizmente, vocês não vão ter outra chance.
— Onde pensa que você vai?
— Eu vou cuidar do meu filho. — respondo, acariciando minha própria barriga, já me afastando junto com Lance — Por ele, eu não vou deixar meu coração se corroer de ódio e sede de vingança. Mas, por mim, e por tudo que eu passei... — minhas lembranças vagueiam pela minha cabeça de um jeito bagunçado e sem nexo, mas faz todo o sentido — Eu não perdoou vocês por ser o pior tipo de escória. Eu não sou tão boa assim.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Desenhista
RomanceEsse seria o oitavo livro da série AS DETETIVES DE LA, porém eu simplesmente estou viciada nele e se continuar morfando em minha galeria até eu conseguir postar todos os outros, eu vou surtar. Então, vamos para um acordo: vou postar dois ou três cap...