A Desenhista

13 | a s s a s s i n o s

.
.

Lance Masara Cho Chung
Los Angeles, Califórnia
22.03.2010

     Meus dias se passam lentamente sem notícias de Windy. Eu não tenho seu número, não sei seu endereço, não temos amigos próximos em comum, eu nem tenho amigos próximos, e eu não sei em qual setor trabalha. Talvez eu devesse tentar falar com Henrik Mason ou com Christian Carvalho.

     Saio do trabalho pelas cinco da tarde. O céu ainda está claro. Cumprimento o porteiro e decido ir até a cafeteria que ela costuma frequentar, é perto do seu trabalho, então talvez eu dê sorte de encontrá-la. O sino balança sobre a minha cabeça ao entrar e alguns pares de olhos se viram em minha direção, mas nenhum são os que eu queria ver.

     Suspiro, frustrado. E sento perto da janela, fazendo meu pedido para a garçonete carismática que não tira o sorriso do rosto nem por um segundo. Dou uma olhada no jornal para saber se alguma coisa interessante está acontecendo, mas nenhuma notícia me chama a atenção.

     — Oi, senhor Chung. — a voz doce de Windy inebria meus ouvidos e eu levanto os olhos para ter certeza que é realmente ela quem está em minha frente.

     A japonesa está com um sorriso tímido no rosto bonito, mais maquiada do que o normal, com seu batom meio amarronzado que chama a atenção para seus lábios cheios em formato de coração. Está vestida de um jeito diferente agora, calças largas com desenhos, camisa preta de botões curta que mostra seu sutiã de renda e tênis nos pés. Parece mais jovem. Seu cabelo está preso em duas mexas no fundo, mas as duas madeixas escuras estão enfeitando sua face. Fico me perguntando o que aconteceu com seu piebaldismo. É estranho como alguns dias longe e ela parece até outra pessoa.

     — Windy! — eu digo, surpreso, por ter adivinhado que eu queria vê-la — Oi!

     — Achei que só viesse aqui dia de quinta. — ela diz, mas desvia os olhos quando eu sorrio, me dando conta que talvez ela me observe há mais tempo do que eu imaginei — Eu não deveria ter dito isso.

     — Sente um pouco.

     — Na verdade, eu estou um pouco ocupada agora... — ela assiste discretamente pelo canto do olho um cara sair da cafeteria — O bolinho saiu pra entrega, meninas. Não deixe ele ver seu rosto, por favor, Lance. — então, sorri quando o homem passa do outro lado da janela e pisca pra ele. — Um homem de sorte quer o meu número.

     Eu assisto, divertido, ela sair da cafeteria para cumprimentar o homem. Ele estava de terno e parecia algum advogado comum com quem estou acostumado a lidar. Windy sorriu quando ele falou alguma coisa em seu ouvido e trocou o peso de uma perna para a outra, movendo charmosamente os ombros.

     Eu nem lembro de agradecer a garçonete que serve meu café gelado enquanto assisto a princesa do Fogo fazer seu trabalho. Ela parece experiente em seduzir um cara, não é difícil cair em seus encantos, é uma mulher deliciosa, interessante e muito atraente. Ele tenta beijar sua boca, mas sutilmente a mulher recusa, com um sorriso doce. Ela fala alguma coisa e o homem rapidamente concorda com a cabeça. Eles se despedem com um beijo na bochecha.

     Windy se vira e começa a andar na direção oposta, eu uso meu jornal pra esconder o rosto quando ele volta por onde veio. Eu assisto seus pés em sapatos sociais de marcar irem embora sem nem perceberem que caíram numa armadilha. Eu espero mais alguns segundos antes de abaixar o jornal e beber meu café. Ok. Ela trabalha infiltrada.

     Vejo pela janela, quando volta apressada pela rua e entra cafeteria. Ela está tirando os pontos dos ouvidos e puxa o fio do microfone que provavelmente estava preso em seu sutiã. Embola tudo e coloca no bolso da calça. Agora toda a sua mudança faz sentido.

     — Desculpa, ele percebeu que eu estava seguindo, então tive que mudar meu plano. — comentou, um pouco impaciente, sentando na cadeira a minha frente.

     — Então, você trabalha... seguindo pessoas?

     — Não, eu prendo homens como aquele. — ela olhou pela janela por onde ele foi — Que tem coragem de flertar com outra mulher dois dias depois de matar a ex namorada do tempo da faculdade por quem era absolutamente obcecado. E, às vezes, eu tenho que segui-los e até jantar ou dar um passeio. Qualquer coisa que os leve a fazer o que eu quero: confessar.

     — Então, é assim que sua equipe age? — pergunto, curioso. Eu nunca tinha parado para analisar como elas trabalham. Eu sabia das vitórias, mas nunca pensei no esforço para chegar lá.

     — Depende do tipo de assassino que estamos lidando. — deu de ombros — Iniciantes, como ele, está nervoso, preocupado e tudo que acha que precisa é de uma noite quente para esquecer o pesadelo que ele mesmo quem fez. Os intermediários, já não caem mais nisso, são desconfiados e ninguém pode se aproximar. Os avançados, mantemos distância e eles nos procuram.

     — Como assim?

     — Um psicopata só é descoberto... — ela faz uma pausa e sorri quando percebe que eu estou realmente muito curioso sobre isso — Porque quer exibir quem fez aquilo. Pois, para ele, é algo que todos devem apreciar e devem saber quem foi o autor.

     — É sério?

     — Sim.

     — Ah! Eu acho que nunca tinha pensado nisso até agora. — confesso e bebo mais um pouco do meu café — Você ainda vai trabalhar?

     — Hm, talvez mais tarde. — deu de ombros outra vez — Por quê?

     — Porque eu percebi que não sei nada sobre você.

     Ela aperta os lábios, segurando um sorriso.

     — E o que quer saber sobre mim, senhor Chung?

     — Tudo. — suas sobrancelhas se erguem com minha resposta e ela encolhe os ombros, parecendo sem jeito — Você está esperando um filho meu. Eu quero saber tudo sobre você.

     Windy assente devagar como se não soubesse ao certo se deveria fazer isso e então mexe no cabelo, pensativa. Talvez nervosa.

     — As meninas vão estar ocupadas hoje e normalmente elas não estão ficando muito em casa depois que cada quem arranjou companhia... — ela mordeu a pontinha do lábio e foi a coisa mais ingenuamente sexy que eu já vi na vida — Podemos jantar mais tarde em minha casa. Se quiser.

     Seu convite envergonhado me fez sorrir. É melhor do que eu imaginei, princesa.