middle east

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Hoje eu estou reorganizando meus discos. É algo que eu faço em momentos difíceis. Quando Hailee estava aqui meus discos estavam em ordem alfabética, antes disso, cronológica. Hoje, no entanto, eu estou tentando colocar eles na ordem em que os comprei. Desse jeito eu posso "escrever" minha própria autobiografia sem precisar pegar em uma caneta. Vou colocar tudo fora das estantes. Pegar o Rumours do Fleetwood Mac e seguir daí.

O que eu realmente gosto desse sistema é que me faz parecer mais complicada do que eu sou. Para achar qualquer coisa você tem que ser eu - ou tentar entrar na minha mente. Se você quiser achar o "Álbum branco" dos Beatles você tem que saber que eu comprei ele - depois de muito tempo procurando, uma raridade - para dar de presente para uma pessoa no outono de 2016 e então eu não dei por motivos pessoais. Mas você não sabe nada disso, sabe?

Eu estou no meio da arrumação quando meu celular toca.

Meu celular toca.

Ele toca e eu reviro os olhos porque jurei que tinha deixado ele no total silêncio. Mas não deixei.

Eu o alcanço - com muita má vontade - e atendo.

Logo a voz da minha mãe soa animada.

— Olá, querida. É a sua mãe.

— Você não precisa dizer que é quem é. Eu sei, mãe.

— Bem, está tudo bem?

— Fantástico.

— E a loja?

— Legal.

— Sorte sua que a Hailee tem ido tão bem no trabalho. Se não fosse por ela acho que nenhuma de nós duas estaria dormindo. Essa sua loja nem sempre vai bem e-

— A Hailee foi embora — dou a notícia de uma só vez.

E eu sei que minha mãe adora Hailee então sei que o que vem a seguir.

— O que você quer dizer? Ela foi embora para onde?

— Como eu vou saber? Ela só foi. 

— Bem, liga para a mãe dela, pergunta aonde ela está.

— A mãe dela não sabe de nada — eu comento — Eu recebi uma mensagem hoje à tarde dela e, hm, ela não tem ideia de que a Hailee saiu aqui de casa. E provavelmente essa foi a última mensagem que eu recebi dela... Isso não é estranho? Você passa natal na casa de alguém, você se preocupa com as pessoas e então em algum momento tudo acaba e você nunca mais vê elas... Não sei... Mas eu vou ter uma outra sogra e um outro natal na casa de uma outra namorada, certo!?... Mãe? Você está aí? — pergunto e por alguns segundos não escuto nada, mas então um choro baixo toma a ligação, e eu não tenho ideia se o choro é por mim ou por Hailee — Olha, se você está preocupada comigo, eu estou bem.

— Você sabe que não é isso.

— Uau, bem, deveria ser, né?

— Você já é bem grandinha, S/n. E eu sabia que em algum momento isso ia acontecer. O que você vai fazer, S/n?

— Meus planos para hoje são beber uma garrafa de vinho, assistir algum filme e dormir cedo. Amanhã eu trabalho.

— S/n-

— Mãe, se a preocupação é eu estar ou não com alguém saiba que logo eu encontro uma pessoa nova, logo eu peço a pessoa em casamento e tenho três filhos se isso te fizer feliz.

— Por que a Hailee foi embora?

— Por que isso importa?

— Por que sim. É sempre isso, você conhece alguém, a pessoa se aproxima, vocês ficam sério, você ou ela conhece alguém, você se muda ou ela se muda e tudo passa. Uma hora isso precisa acabar.

Eu reviro os olhos e suspiro irritada, e não tenho nem vontade para dizer qualquer coisa.

Eu apenas desligo a ligação.

E aí eu fico encarando minha parede por alguns minutos, não porque ela é extremamente interessante mas porque preciso pensar. E é pensando que decido que não vou ficar em casa, por isso deixo meus discos na metade da arrumação, alcanço uma jaqueta e saio do apartamento em direção ao Middle East.

Eu caminho até o bar - porque tenho que me focar em qualquer outra coisa, e caminhar sempre funciona.

O lado de fora do Middle East está cheio, e eu preciso pegar essa fila para conseguir entrar, mas quando entro logo vejo meus amigos apoiados no balcão do bar, espremidos entre algumas pessoas.

A cantora no palco é essa garota loira de olhos azuis . Eu conheço ela, e conheço a música dela, apenas não me lembro do nome - mas eu não me lembro de muita coisa então...

— Música assim faz com que eu me sinta nostálgica —  comento quando me aproximo de Shameik e Lucas —  Qual é o nome da garota?

—  Taylor —  Lucas responde.

—  Claro... Taylor. Hm, eu sempre odiei essa música —  digo. E sempre odiei mesmo, apesar da música ser boa.

— Eu também —  Shameik diz mas ele parece muito impressionado e hipnotizado pela garota no palco.

— Mas ela é boa — reforço.

— Eu quero namorar uma cantora — Lucas diz e suspira de leve, o olhar dele preso em Taylor.

— Eu quero viver com uma cantora —  digo concordando com um aceno levo —  Ela escreveria músicas em casa, me perguntaria o que eu acho, talvez até incluiria algumas das nossas piadas internas nas notas do álbum...

— ... Você na capa do álbum... —  Shameik viaja —  Imagina?

—  Isso seria legal —  Lucas dá de ombros —  Seria incrível...

Eu e os meninos continuamos a ouvir Taylor cantar uma de suas músicas, e então duas ou três músicas depois ela se despede do público - e eu percebo que cheguei um pouco tarde para conseguir ver a setlist completa dela. 

— Hey, nós deveríamos ir falar com ela. Ela vai assinar alguns álbuns daqui à pouco — Shameik dá a ideia.

E é isso que fazemos.

Nós compramos alguns álbuns, algumas camisas e entramos em uma fila para que Taylor assine todas essas coisas.

Ela é extremamente simpática e eu fico um pouco sem saber como agir. Lucas está como eu, enquanto Shameik não consegue ficar quieto, e é ele quem solta - do absoluto nada - que eu tenho uma loja de discos não muito longe dali e que Taylor deveria aparecer lá. A garota comenta que talvez faça isso e me lança esse sorriso que quase me joga no chão.

Quando eu saio do Middle East eu troco um último olhar com Taylor - e por cinco segundos me esqueço de Hailee.

let it all out • Hailee SteinfeldOnde histórias criam vida. Descubra agora