averageness

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Viver em Boston não é ruim. Eu gosto daqui, e gosto de verdade. 

Talvez seja por isso que nunca tenha saído.

Eu tenho uma loja já velha no número 486 da Commonwealth Avenue. A rua é bem movimentada, o que não se pode dizer da minha loja - quero dizer, eu tenho dias e dias. Dias em que o lugar está cheio e dias em que apenas duas ou três pessoas entram aqui.

Minha loja se chama Dirty Hit, e está localizada nesse espaço graciosamente escolhido para não atrair os compradores comuns. Eu só comprei esse espaço por causa das pessoas que passam por aqui - e que de vez em quando me rendem um bom dinheiro. Os jovens que passam um tempo desnecessário procurando por raridades como os singles deletados do The Smiths, e os álbuns originais, mas nunca lançados, do Frank Zappa.

O céu ainda está escuro. São cinco da manhã, e esse é o horário em que eu normalmente chego na loja - tirando os dias em que eu não quero levantar da cama e acabo aparecendo só às onze da manhã. Eu nunca sei quando dias assim vão me pegar.

A loja é espaçosa. Tem várias estantes cheias de discos e centenas de pôsteres de diversas bandas colados nas paredes.

Eu entro no lugar e sigo em direção ao escritório dos fundos, deixo minha mochila na mesa de madeira e caminho até o balcão central, me sentando no banco alto que tem ali.

Eu estou presa na minha própria mente e sem realmente prestar tanta atenção no que acontece quando reparo na porta abrindo. Meu olhar cai na entrada da loja e eu vejo quando Lucas entra.

— Bom dias, Lucas — cumprimento.

— Oh, hey. Bom dia, S/n — ele sorri na minha direção.

— Fim de semana legal? — pergunto. 

Lucas deixa a bolsa que está carregando na bancada atrás de mim, ele dá a volta e se apoia na prateleira alta da frente - de frente para mim.

— Claro, claro. Eu achei o vinyl branco do "Home, Like Noplace Is There", do The Hotelier. Não foi lançado aqui.

— Legal.

— Eu te empresto se você quiser — ele dá de ombros.

— Não precisa.

Não precisa porque eu não gosto tanto de The Hotelier.

— Você gostou daquele outro álbum deles. Acho que vai gostar desse.

— Sabe, eu ainda não absorvi aquele muito bem — eu não consegui passar da música três — Mas valeu por perguntar.

— Bem, você quem sabe. Hm, eu vou colocar uma música. O que você quer ouvir?

— Qualquer coisa calma — respondo. Lucas dá a volta e segue em direção ao som perto da estantes de cd's. Ele pega um álbum com a capa branca - e eu imagino que seja Oh Wonder - e realmente é.

Logo "Livewire" toma conta da loja e Lucas sorri de leve - ele ama essa música.

— Eu amo essa música — Lucas diz.

Eu balanço a cabeça concordando e volto a mergulhar no meu próprio mundo. Eu estou ajeitando algumas coisas atrás do balcão - papéis e mais alguns outros documentos - quando a porta se abre mais uma vez. Já estamos na metade do álbum do Oh Wonder, com "Without You" tocando num volume alto, e Shameik entra na loja com uma expressão que grita "Que merda é essa?". Shameik é um grande amigo, e um dos dois funcionários que eu tenho aqui na loja - Lucas é outro, acho que isso ficou claro. Os dois deveriam aparecer aqui apenas duas vezes por semana mas então eles começaram a vir todo dia - e não, eu não pago esses dias - e nunca soube como dizer "hey, não apareçam aqui nos dias que vocês não trabalham". Então estamos nessa há quatro anos.

let it all out • Hailee SteinfeldOnde histórias criam vida. Descubra agora