A Filha da Empregada

TRINTA E SEIS

Fernando

Se passaram quase dois meses desde a última vez em que eu vi Melissa, naquele dia que saímos pra almoçar juntos, e desde então os dias passaram monótonos. Estou vivendo esses dias no automático, acordo, vou pro trabalho, volto pra casa, durmo, e no outro dia faço tudo novamente. Estou sentindo muita falta dela, uma vontade absurda de estar junto com ela, ver a sua barriga crescer e participar de tudo sobre o meu filho. Estar com ela pra escolher o enxoval do bebê, tudo o que o meu filho merece. Fazer os dois felizes.

À alguns dias atrás eu fiquei sabendo pela Marta que Melissa estava esperando um menino, e que Melissa havia escolhido o nome do bebê de Mateus. Achei lindo o nome, senti uma euforia muito grande dentro do meu peito e me controlei pra não deixar transparecer a emoção que tomava conta de mim, a minha vontade era ir correndo atrás da minha princesa e curtir esse momento junto ao lado dela. Mas eu sabia que isso não seria possível, eu teria que mais uma vez reprimir todos o meus desejos no que diziam a respeito sobre Melissa e o meu filho. Mas lembro que bem na hora em que eu comecei a perguntar para Marta se Melissa e o bebê estavam bem e se precisavam de alguma coisa, fui interrompido pela a minha mulher se aproximando de nós, me fuzilando com o olhar. Com certeza Laura deve ter ouvido e percebido o meu interesse em querer saber do bebê e da Melissa. Marta percebeu que Laura não estava em um bom humor e já foi pedindo licença pra se retirar. Não demorou um segundo pra eu começar a ouvir as reclamações de Laura.

__ Então você aproveita em que eu não estou por perto pra ficar peguntando da outra lá? - Laura reclama, se colocando na minha frente.

__ Por favor Laura, não quero discutir com você... - Respondo e me viro pra sair da sala. Mas ela rapidamente me segura pelo o braço com força.

__ Você não vai me virar as costas Fernando! Você me deve explicações! - Ela diz furiosa.

__ Eu não quero brigar com você hoje! - Falo irritado, puxando o meu braço de sua mão com rispidez. - Não vai fazer bem pra minha filha, se você ficar descontrolada! - Falo, respirando fundo. A minha paciência com ela está no meu limite.

Olho pra sua barriga arredondada de seis meses, minha filha está saudável e crescendo forte. Tento acompanhar Laura em quase todas as consultas, e evito deixar ela sozinha, não consigo confiar nela, e por isso pedi para que a mãe dela viesse ficar uns tempos em casa, até a bebê nascer.

Vejo ela colocar a mão na barriga e diz chorosa.

__ Você nem pense em ir atrás dela! Você não pode me deixar pra ficar com ela!!!

__ Você tá ficando maluca Laura! É melhor você se acalmar... - Falo tentando acalmá-la. Mas ela parece estar sempre irritada, nervosa, desequilibrada.

__ Você não pode abandonar eu e a sua filha! Você está avisado Fernando!...

__ Ou o quê, Laura?! Pelo o amor de Deus! Já estou longe dela como você quer... Por favor me deixa em paz! Deixa a Melissa em paz! - Olho pra ela começando a ficar nervoso, de novo.

Laura me olha com os seus olhos lacrimejados, antevendo que não vai demorar muito pra ela começar a chorar de verdade. Deixo ela e me viro pra sair antes que comecemos uma discussão feia. E assim que passo pela a porta pra sair da sala de jantar, acabo encontrando Marta entrando no caminho. Percebo pelo o seu olhar uma mistura de confusão e estranheza. Será que ela ouviu o que eu falava com a Laura?

Os dias se seguiram e notei sim que Marta estava agindo um pouco estranha comigo depois daquele dia, não sei, mas acho que ela parecia estar sempre me analisando. E isso fez eu pensar, então resolvi não ficar mais com o seus serviços naquela casa, antes que algo a mais aconteça ou que ela acabe ouvindo mais coisas que não deveria no momento. E também não fazia mais sentido a mulher que é a vó do meu filho ficar trabalhando pra mim. Então mandei que preparassem o demissão dela com todos os direitos e uma boa carta de recomendação. Tenho certeza que logo ela encontrará outro emprego e ainda melhor.