TRINTA

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Melissa


Abro os meus olhos e vejo uma mulher meio baixinha e com alguns fios de cabelos brancos, ela está em pé ao meu lado anotando alguma coisa em sua prancheta. Olho para os lados me sentindo um pouco confusa, estou em um quarto de hospital e o cheiro de antisséptico invade as minhas narinas. Mas logo as lembranças dos últimos acontecimentos surgem na minha cabeça. Você está grávida! A voz da médica aparece na minha mente como um soco, me fazendo sentar rápido naquela cama que provavelmente ainda estou na mesma clínica.

__ Ah você acordou! Está se sentindo bem? - A mulher me pergunta se aproximando mais de mim.

Mas eu não respondo, olho para os lados e não encontro a minha mãe. Será que ela foi embora e me deixou aqui sozinha? Penso nessa possibilidade e sinto uma vontade enorme de chorar. Olho pra janela percebendo que já está claro lá fora e procuro por algum relógio, mas não encontro.

__ Que horas são? - Pergunto.

__ Agora são sete e dez da manhã. Espera um pouco aqui mocinha, que eu vou chamar o doutor Gustavo pra ver você. - A enfermeira percebe que devo estar parecendo confusa e sai a procura do médico.

Fico por alguns minutos sozinha naquele quarto, fazendo de tudo para afastar a palavra gravidez da minha mente. Não quero pensar sobre isso, não agora. Logo escuto umas batidinhas na porta e vejo um homem alto, em torno de uns trinta anos. Ele se aproxima sorrindo com uma prancheta na mão e se apresenta.

__ Oi, eu sou o doutor Gustavo, médico obstetra. Está se sentindo bem?

__ Eu só quero saber onde está a minha mãe doutor. - Falo me sentindo perdida e sozinha.

__ A senhora Marta... - Ele olha pra prancheta verificando o nome da minha mãe na ficha e diz. - Aqui está dizendo que ela foi pra casa buscar roupas pra você. - O doutor olha pra mim novamente e sorri. - Não se preocupe, ela vai voltar logo. Sua mãe estava muito preocupada com você.

Sinto um pouco de alívio por saber que a minha mãe não me deixou sozinha e que logo vai voltar. Olho para as minhas mãos sob o meu colo e sinto que estou vivendo um sonho, ou pior, um pesadelo. Evito em não olhar para a minha barriga, não quero pensar que tem uma pessoinha ali dentro. Eu só quero acordar dessa sensação de irrealidade e ver que tudo está normal, que tudo está bem.

O doutor se aproxima mais um pouco da minha cama e pergunta mais uma vez se estou me sentindo bem. Eu volto o meu olhar pra ele novamente e apenas balanço a minha cabeça em positivo. O doutor com toda a calma do mundo me pergunta.

__ Você não sabia da sua gravidez? - Mais uma vez eu respondo com um movimento de cabeça, mas dessa vez em negativo.

__ Entendo... bom você sofreu muito estresse nas últimas horas e com certeza ao saber da gravidez fez com que você desmaiasse. - O doutor explica pacientemente. - Fizemos mais alguns exames e todos apresentaram que está tudo certo com você e o bebê. Só um que teve uma pequena alteração e apresentou um pouco de anemia, mas é só cuidar mais da alimentação que vai ficar tudo bem.

O médico fala com calma. Mas eu não consigo processar muito bem tudo o que ele falou, minha mente parou na palavra bebê. Isso realmente é um pesadelo, eu não me imagino sendo mãe, eu não sei nem como fazer isso. Parece que estou em uma pegadinha e que todos vão olhar pra mim e dizer que é uma brincadeira e acabaremos todos rindo juntos. Mas não, eu sei que isso não é uma brincadeira, isso é a minha triste realidade. Olho pro doutor e pergunto.

__ Doutor, eu não entendo... como posso ter engravidado sendo que tomei a pílula do dia seguinte e menstruei uma semana depois?!

__ Você percebeu se veio normal o sangramento?

A Filha da EmpregadaOnde histórias criam vida. Descubra agora