QUATRO

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Melissa

Eu estava deitada na cama da Amanda com ela ao me lado. Ela estava me fazendo um carinho na cabeça, me confortando enquanto eu ficava em silêncio, ela entendia que eu precisava ficar só quietinha naquele momento.

Minha mãe estava quase chegando, ela me ligou pra saber como eu estava e eu disse que só precisava dela aqui comigo. Falei também que a esperava na casa de dona Soeli, choramos juntas no telefone e no final ela disse que está vindo o mais rápido possível.

Depois que a dona Soeli nos buscou na escola e chegamos em sua casa, ela me fez um chá calmante e ficou um pouco comigo e Amanda. Logo ela teve que sair pra resolver a liberação do corpo enquanto a minha mãe ainda não chegava. Amanda me levou até o seu quarto e me fez deitar em sua cama, enquanto eu só sabia chorar baixinho, ela deitou comigo na cama e me abraçou forte. Estamos aqui já tem quase uma hora quando escuto barulhos na sala e vozes, acho que a dona Soeli chegou.

__ Minha mãe deve ter chegado, espera um pouco aqui e já volto. - Amanda diz dando um beijo na minha cabeça e levanta me deixando sozinha no quarto.

Escuto mais algumas vozes e de repente vejo a minha mãe na porta com os olhos e nariz vermelhos de tanto chorar. Me levanto rápido e corro até ela a abraçando, choramos juntas e abraçadas uma consolando a outra até nos acalmar um pouco. Fomos até a cama pra sentar e logo vejo a dona Soeli entrando no quarto segurando uma bandeja com duas xícaras, Amanda também entra já vindo se sentar ao meu lado e pegando a minha mão.

__ Trouxe um chá calmante pra vocês duas, é de camomila. Logo preparo alguma coisa pra vocês comerem. - Dona Soeli diz dando uma xícara pra mim e a outra pra minha mãe, tomo um gole do chá e vejo que está bem gostosinho.

__ Obrigada por tudo o que estão fazendo por nós Soeli, por ter ido buscar a Mel na escola e a amparado, você também Amanda é um ótima amiga. Obrigada mesmo. - Minha mãe agradece, limpando uma lágrima que escorreu do seu olho.

__ Não precisa agradecer Marta, vocês são da família e tenho certeza que vocês fariam o mesmo por nós. - Dona Soeli diz com um sorriso fraco. - Vocês podem ficar a vontade tá, não preciso dizer pra se sentirem em casa, descansem enquanto vou lá pra cozinha fazer um lanche pra vocês. - Ela fala indo pra porta.

__ Precisa de alguma ajuda Soeli? - Minha mãe pergunta já se levantando.

__ Não se preocupe Marta, fica aí com sua filha nesse momento difícil. Vocês duas tem que uma fortalecer a outra e além do mais a Amanda vai me ajudar, vem filha. - Amanda levanta e sai com sua mãe deixando eu e minha mãe a sós. Agora somos só nós duas, uma tendo a companhia da outra, a única família que me restou.

Minha mãe me abraça mais uma vez e nela encontro forças. Minha vózinha agora está no céu e sei que ela deve estar em paz, agora eu e minha mãe teremos que seguir em frente sem ela. Vamos sentir muitas saudades e nunca me conformarei com a sua morte, mas não devemos questionar a vontade de Deus, se Ele quis assim por mais doloroso e triste que seja temos que aceitar. Ela estará sempre em minha memória, pois uma pessoa tão especial como minha vó não deve nunca ser esquecida.

***

Coloquei a minha última peça de roupa na mala e fechei o zíper, sentei na minha cama e olhei em volta. Acabei lembrando da minha infância aqui nessa casa, onde cresci e fui feliz. É uma casa simples mas sempre organizada e aconchegante, o meu quarto não é grande mas sempre gostei do meu cantinho, as paredes ainda estão pintadas de rosa desde que era criança, tem apenas uma cama e guarda roupa de solteiro e uma pequena mesinha onde eu pudesse estudar, mas era o meu canto e era muito feliz enquanto vivi aqui.

Um dia se passou depois do funeral, que foi uns dos momentos mais difíceis das nossas vidas se não for o único. Tudo foi muito doloroso pra mim e minha mãe. Dormimos na casa da dona Soeli e só hoje que fomos pra nossa casa, foi muito difícil entrar aqui e não ver a minha vózinha mais, apesar dos móveis estarem no mesmo lugar parecia ao mesmo tempo tudo vazio.

Minha mãe teve que ligar pros patrões dela e explicou toda a situação, que teria que me levar junto com ela pois não temos mais ninguém aqui. Ela falou também que é por pouco tempo até ela conseguir comprar a casa que estava planejando, e enquanto isso eu poderia trabalhar na mansão já que a minha mãe estava precisando mesmo de mais alguém pra ajudar ela nas limpeza da mansão, a última moça que trabalhou lá pediu as contas à alguns dias.

No fim a minha mãe conseguiu com que o patrão dela aceitasse o que ela pedia e iríamos embora amanhã bem cedo. O que planejamos fazer daqui a dois meses e meio se adiantou pra amanhã, mas só que sem a vovó, e não estou nem um pouco empolgada com a idéia de ir embora pra São Paulo. Minha mãe foi na minha escola hoje pra conversar com o diretor e pedir a minha transferência, como eu tenho boas notas não tenho perigo de perder o ano mesmo que eu possa me atrapalhar um pouco por estar mudando de escola quase no final do ano.

__ Oi amiga já terminou de arrumar as malas? - Estava tão distraída que não percebi a Amanda chegado na porta.

__ Oi Bruxinha, acabei de terminar. - Falo caindo pra trás na minha cama ficando de barriga pra cima, Amanda vem e faz o mesmo e ficamos assim um pouco em silêncio.

__ Você vai fazer muita falta sabia? Não vou ter mais ninguém na escola ou pra ir na casa dela, ou pra me dar bronca, pra rir comigo, caminhar no parque. - Amanda diz e me viro pra olhar pra ela. - Eu sinto muito pela a sua vó, mas também estou muito triste por estar perdendo você.

__ Ai amiga não fala assim, você não está me perdendo, você sempre foi e sempre será a minha melhor amiga. - Falo me sentando de novo e Amanda se levanta também. - E ainda prometemos uma pra outra sempre nos manter em contato, sempre contar tudo uma pra outra, ou você já esqueceu? - Falo dando um empurrãozinho nela com o ombro.

__ Não esqueci Mel, só estou um pouco triste mesmo. Mas fazer o que né, a vida que segue e quando der vou te visitar, nós duas vamos passear muito em São Paulo e paquerar uns gatinhos. - Ela diz com uma piscadinha e acabo rindo com ela. Só ela mesma pra me distrair um pouco.

Amanda ficou aqui em casa até a hora do jantar, não precisei insistir muito pra ela jantar com a gente, ela nunca recusa comida. Jantamos em silêncio, ainda estávamos muito abaladas pela a perda da minha vó, era muito estranho olhar pra cadeira onde ela acostumava sentar e não ver ela ali. Nessa hora era inevitável em não formar um nó na garganta.

Depois que jantamos e ajeitamos a cozinha, acompanhamos a Amanda até a sua casa. Nos despedimos de todos já sentindo muita saudades deles, pois agora não sei quando poderemos nos ver de novo. A dona Soeli prometeu sempre ir dar uma olhada na nossa casa, abrir um pouco as janelas pra arejar até a minha mãe ver o que fará com tudo. Eu e Amanda demos muitos abraços, nos despedimos prometendo uma pra a outra em nunca deixar a nossa amizade morrer.

Voltamos sozinhas pra casa eu e minha mãe e nos ajeitamos pra dormir. Quando deitei na minha cama, foi impossível em não relembrar dos momentos bons que passei nessa casa, principalmente com a minha vó. Senti as minhas vistas se embaraçarem com as lembranças boas, tudo poderia ser diferente se um um louco sem alma não estivesse naquele carro no mesmo tempo em que minha vó atravessava a rua. Rezo a Deus para que a justiça seja feita.

Amanhã será um novo dia, iremos embora em busca de sonhos e recomeços, peço a Deus que nos guie e mostre o caminho. Sei que em cidade grande as coisa não são fáceis mas quero aprender muito nessa nova etapa de nossas vidas. Sinto que depois de tudo o que passamos com a morte da vovó, alguma coisa boa ainda está por vir.

A Filha da EmpregadaOnde histórias criam vida. Descubra agora