TRINTA E DOIS

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Fernando


Cinco dias depois...

Pego o pedaço de papel dobrada ao meio no bolso da minha calça e sento na cadeira do meu consultório. Não foi difícil conseguir aquele endereço graças ao contatos que tenho naquela clínica em que Melissa passou a noite à cinco dias, só bastou uma ligação para que me passassem os seus dados. Olho aquele endereço escrito ali pela milésima vez, sem ainda conseguir tomar uma decisão concreta, se devo ou não ir até a casa dela, tentar ao menos falar com Melissa. Eu sei que preciso fazer isso, eu só não sei como e quando.

Meu sangue sobe só de pensar em ir até a Melissa e encontrar aquele moleque ao lado dela novamente, como no dia da sua formatura. E dessa vez eu tenho certeza que partiria pra cima dele. Só de lembrar dos dois juntos se beijando no dia que fui naquela droga de festa, eu sinto uma vontade absurda de procurar por ela e exigir que ela me dê uma boa explicação, exigir que ela me diga que ainda me quer e exigir que termine o quê quer que tenha com aquele garoto. Eu quero fazer isso, e quase o faço. Mas não posso. Sei muito bem que eu não tenho esse direito e isso está acabando comigo.

Eu tinha deixado o ciúmes me cegar e fui mais uma vez um verdadeiro babaca com ela no dia da sua formatura. Eu estava ansioso para vê-la, ouvir a sua voz e sentir como é estar com ela novamente. Mas quando chego lá, a encontro nos braços de outro, e naquele momento, mesmo ainda eu não admitindo pra mim, eu percebi o quanto eu me importo com aquela garota e o quanto ela ainda meche muito comigo. O ciúmes chegou violento em mim e me segurei para não ir até os dois e arrancar ela dos braços dele nem que fosse a força. Quando Melissa se virou e me viu, eu vi pelos os seus olhos um brilho diferente, de saudades e paixão, mas logo no mesmo instante o brilho sendo substituído pela a mágoa, me fazendo ficar paralisado. Vi os seus olhos se encherem de água e o quanto ela devia estar magoada comigo. E como se não bastasse, eu piorei mais ainda depois por puro ciúmes, eu praticamente a acusei de ter transado com aquele rapaz e que depois que a vi passar mal provavelmente deveria estar esperando um filho dele.

Aquele dia eu desconfiei depois que a vi vomitando na calçada e não queria aceitar de que existia a possibilidade de eu ser o pai, já que a menstruação dela tinha descido. Estava com raiva e confuso com tudo, eu tinha ido até ali pra vê-la e acabo ficando puto quando vejo ela com outro. Melissa disse que tinha funcionado a pílula mas ao mesmo tempo me confirmando que nunca tinha transado com o garoto com quem ela estava saindo. Eu estava louco de ciúmes e não queria ouvir, eu só queria falar coisas pra ver se eu conseguia fazê-la se sentir igual ou pior que eu naquele momento. O que agora eu percebo que foi uma tremenda infantilidade da minha parte. Como pode uma menina simples do interior, conseguir me mudar tanto em tão pouco tempo? Me fazendo me comportar como um adolescente por ela, tirando tudo de bom e de ruim de mim. Sou um homem de trinta e um anos, sempre soube o que queria pra mim e agora me sinto perdido sem saber o que fazer da minha própria vida.

Ainda no mesmo dia, depois que Melissa me deixou e entrou na escola, eu fui embora da sua festa e no caminho passei na clínica. Me informei com uma obstetra sem mencionar no nome da Melissa e tirei as minhas dúvidas de que ela podia sim estar grávida de mim. Fiquei preocupado e assustado com a possibilidade. E no caminho pra casa, fui com o pensamento de que Melissa não podia ter ficado grávida, isso seria ruim para todos e temo pela as loucuras da Laura caso essa gravidez confirme. Cheguei em casa decidido procurar por Melissa no outro dia, dar um jeito de descobrir onde morava pra poder conversar com ela, saber mais se ela tinha feito algum exame. Mas na manhã seguinte bem cedo eu recebi a ligação da mãe dela dizendo que estava com a filha em uma clínica e pediu para que eu adiantasse um valor do seu salário para poder pagar a consulta e exames. Senti um pequeno desepero ao imaginar que teria acontecido algo com a Melissa, mas Marta tinha confirmado que não era nada grave. Então fiz questão em levar o dinheiro até a clínica pra saber como ela estava e me decepcionei por não ter conseguido vê-la. Marta novamente garantiu de que a filha estava bem e acabou confessando e confirmando a minha maior dúvida, o que tinha tirado o meu sono na noite anterior, que a Melissa realmente estava esperando um filho. Fiquei mudo, paralisado na frente dela após ouvir e não sei explicar a mistura de sensações que senti no momento, xinguei mentalmente mais uma vez por não ter lembrado da maldita camisinha. Por mais que eu tinha desconfiado que ela estaria grávida, eu ainda tinha a esperança de que não fosse verdade. Isso não era pra ter acontecido, um bebê muda tudo e não será bom pra ninguém.

A Filha da EmpregadaOnde histórias criam vida. Descubra agora