Cap VIII

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Precisávamos ir em direção ao norte da cidade, onde se concentravam os campos de batalha. Ninguém - exceto eu- parecia estar com medo de enfrentar os campos, muito pelo contrário, ao longo do caminho todos riam e faziam piadas com os cavalheiros do rei, chamando eles de fracos, inúteis, mimados, metidos, e por ai vai.

Gowervill era mais bonito do que pensei. O caminho ficava cada vez mais lindo. Flores surgiam a cada passo que os cavalos davam, o canto dos pássaros ficava cada vez mais nítido e lindo, era como se a própria mãe natureza estivesse nos dando as boas vindas, de um modo acolhedor e gentil.

Eu olhava para cima a cada segundo, tinha medo de que alguma coisa caísse das árvores, ou melhor, que alguém tacasse alguma coisa na minha cabeça. Cheguei a conclusão de que eu ainda não superei o trauma que eu passei nas mãos dos Rapels.

Depois de alguns minutos repare que todos estavam olhando para mim. Deviam pensar que eu era um louco.

Ly sorriu e disse:

- Ele foi atacado por Rapels, - ela se virou para o Fabrício - Assim como você, Fabrício.

Fabricio revirou os olhos e tremeu levemente seus ombros antes de dizer:

- Nem me lembre disso. Ainda consigo sentir o rasgo daquela adaga na minha coxa.

- Você também levou um corte da adaga? - Perguntei para ele, afinal, dividiamos a mesma experiência.

- Levei, e foi feio. - Ele deu uma leve pausa.- Mas o pior mesmo foi sentir as garras do caçador nas minhas costas e no meu peitoral - Fabrício desabotoou alguns botões da camiseta, exibindo seu peitoral musculoso. Então prosseguiu.- Tenho as marcas até hoje.

- Eu também carrego marca de garras no meu peitoral. - Claro que eu não iria mostrar meu pequeno peitoral. Talvez depois que eu trabalhar ele para ficar grande igual o do Fabricio, eu exibirei com prazer.

Alef olhou para mim e Fabricio, algo no rosto dele parecia ter ficado sombrio, como se aquelas garras tivessem trazido para ele uma lembrança indesejada.

Anna começou a rir bem alto, atraindo a atenção de todos para ela. Ainda gargalhando, ela disse:

- Com certeza aquele avelhantado do Geraldo achou que você entrou na floresta dele para roubar a folha da riqueza.

Me lembrei dele ter dito o nome dessa folha, de quase ter acabado com minha vida por culpa dela, e teria acabado, caso Ly não tivesse vindo me salvar.

Olhei para Anna e perguntei:

- Você sabe o que essa tal folha significa?

- De acordo com os boatos, ela é capaz de encontrar metais preciosos e diferenciados tipos de pedras mágicas, por isso é tão preciosa para ele.

- Mas já que eles possuem essa arma tão poderosa, por que eles ainda não pegaram a pedra Grandol?

- Por que ela não tem valor algum para eles. - Anna disse diretamente.- Eles não ligam para riqueza ou qualquer coisa do tipo. Os Rapels apenas gostam de sentir o poder em suas mãos, mas nunca usam ele.

- E o que eles ganham com isso? - Perguntei curioso em saber.

- Presas. A maioria dos que entram na floresta protegida por eles tem a morte como destino final. -Ela deu uma pequena pausa.- O antigo rei de Gowervill fez um acordo com Geraldo, que prometeu que iria matar os intrusos dos reinos humanos ou da floresta de Nera, antes que eles chegassem na região do palácio e das vilas mais nobres. Em troca, Geraldo ganhou a caverna que os Rapels ficam hoje, e é claro, as presas.

Meu estômago começou a se revirar. Perguntei para Anna:

- Mas o rei não gosta de humanos?

- Ele não liga para os humanos. Não tenta os matar nem nada, mas quanto menos da sua raça, melhor para ele.

- Ele me tratou bem no dia da festa da Esmeralda.

- Ele te tratou bem para ser cordial, mas não iria ligar se você morresse. - Anna foi bem direta em suas palavras.

Me encolhi um pouco e olhei para baixo, observando a bela crina de Agnes.

Alef que quase não falava disse:

- Aquela folha seria útil agora. - Sua voz era calma, mas ao mesmo tempo grossa.

- Sim, eu sei que seria. - Disse Ly para Alef.

Ly parou seu cavalo, e todos nós acompanhamos. Ela sorriu para Alef e retirou um saco que estava em seu bolso da frente, logo depois, retirou uma folha dourada que reluzia na luz do sol.

Todos ficaram boquiabertos ao ver aquilo, ao ver o que Ly tinha conseguido. Aquela luz dourada que refletia da folha, fazia com que todos ficassem impressionados com tamanha beleza.

Ly dei uma risadinha e disse:

- Tomem cuidado para o queixo de vocês não caírem.

- Como você conseguiu isso? - Perguntou Anna, com os olhos arregalados e a boca ainda aberta.

- Digamos que eu tive uma ajudinha.

Ly sorriu e olhou para os arbusto que ficavam ao lado esquerdo de Alef, logo em seguida ela assobiou e disse:

- Pode vir, Caçador.

-QUE? - Fabricio gritou, empalidecido ao ouvir o nome da criatura responsável pelas marcas em seu peito.

Eu congelei, não estava afim de ver a criatura que quase me matou. Eu não sabia reagir aquilo.

O caçador saltou dos arbustos, fazendo com que o cavalo de Jorge se assustasse, quase derrubando ele no chão.

A criatura cinza e com dentes afiados foi para o lado de Ly, que o acarissiou gentilmente.

Ele ronronava de satisfação a cada toque de Ly, aproveitando o carinho. Ele se virou de barriga para cima, Ly desceu do cavalo para acariciar a barriguinha do bicho.

Fabricio ainda estava impactado e pálido, tentando raciocinar o que estava acontecendo. Alef já parecia estar mais tranquilo, pelo menos o seu rosto transparecia isso.

Ly se virou para a direita e viu a agonia de Fabricio, para tentar acalma-lo ela disse:

- Não se preocupe, Fabricio. Essa criatura é inofensiva, só estava influenciada por magia negra dos Rapels. - Ela continuou acariciando a barriga do bicho. - Infelizmente, não existem muitos da espécie dele. Depois de um tempo possuídos por magia, os Giris começam a atacar seus mestres, então- os brilhos em seus olhos sumiram- eles são sacrificados. A maioria foram sacrificados pelos Rapels, que continham a maior parte dos Giris para eles.

Desviei meu olhar de Ly e olhei para o Giris. Ele nem parecia aquela fera que tinha tentado me matar antes, era carinhoso e seus olhos pretos brilhavam a cada toque de Ly. Quem diria que eu iria me simpatizar com alguém que tentou me atacar á uma semana atrás.

Ly parou de fazer carinho na criatura e disse:

- Quando antes chegarmos lá, mais rápido terminamos.

Ly pegou o Giris no colo, o colocando na frente dela. Pelo visto o bichano iria ter a sorte de compartilhar a mesma sela de Ly durante esse tempo de viagem. Não que eu fizesse questão de estar em cima do mesmo cavalo que a Ly, mas eu não reclamaria.

Voltamos a cavalgar no mesmo instante. Se tivermos sorte, conseguimos chegar a uma casa de repouso antes do anoitecer.

Os guardas da pedraOnde histórias criam vida. Descubra agora