Cap IX

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Pelo sol que queimava na nossa testa, conclui que deveria ser mais ou menos meio dia.

Fabrício estava ofegante, murmurando um monte de reclamações ao longo da viagem. Parece que ele não estava tão acostumado em andar no sol, já que seu rosto estava todo ensopado de suar.

Antes eu pensava que Fabrício era o que mais estava sofrendo com a longa cavalgada debaixo do sol quente, mas quando olhei para trás e vi Alef com a cabeça baixa, quase caindo do cavalo de cansaço, percebi que ele estava em uma situação pior. Ly parece ter notado também, já que no mesmo instante ele olhou para ele e disse:

- Mais a frente tem um estábulo, vamos abastecer os cavalos e aproveitar para descansar no celeiro.

Alef ergueu a cabeça fazendo um esforço e assentiu.

Ly se virou para frente novamente, parece que o Giris não se sente muito incomodado com o sol, já que ele parecia estar em um sono profundo.

A cavalgada ainda estava longe de acabar, passamos por mais e mais árvores semelhantes, era como se estivéssemos dando voltas em círculo.

No meio do silêncio, Ana gritou:

- Cuidado! Se abaixem. Bandidos!

Todos olharam para frente e para os lados, procurando algum sinal dos bandidos. Começamos a diminuir os passos dos cavalos e mudamos nossa direção para os arbustos e as árvores.

Levei minha égua até atrás de uma grande árvore que ficava mais adentro da floresta, distante do caminho de pedra e barro.

Fabrício veio em direção a minha árvore, talvez ele também se sentisse mais segura atrás de uma árvore imensa igual aquela, creio que ela era a maior daquela área.

Fabrício empurrou coragem para atrás da árvore, tomando todo cuidado para que o cavalo não fizesse muito barulho. Quando ele terminou de se esconder junto ao cavalo atrás da árvore,  ele olhou para a trilha que tínhamos saído agora a pouco e ainda mantendo seu olhar fixo naquele caminho ele disse:

- Você viu algum bandido por aqui?

- Não. Nem mesmo escutei barulho de passos.

Fabrício continuou olhando fixo para aquele caminho, e começou a falar novamente depois de alguns instantes:

- Estou começando a achar que a visão de Anna falhou feio.

- Bom, se mais ninguém não conseguiu ver nada, ela provavelmente está precisando de um par de óculos.

- Não é isso, Rich. Anna tem um tipo de visão extraordinária, ela é capaz de ver o que está a kilometros de horas de nós.  Sem contar que de noite sua visão é igual a de um lobo albino.

Olhei para Fabrício com um olhar de dúvida. Ele desviou seu olhar do caminho de barro e olhou para mim por um segundo, se voltando poucos segundos depois ao caminho de barro. Parece que ele tinha percebido minha expressão confusa, já que ele esclareceu:

- Esse é um dos poderes dela.

Fiquei boquiaberto. Agora eu também quero um poder.

Permaneci meu olhar em Fabrício quando perguntei:

- Quais são os outros poderes da Anna?E seu poder? E o poder dos outros?

Eu definitivamente não consegui controlar minha empolgação enquanto perguntava as coisas para ele. Me senti envergonhado por alguns instantes,  depois que as palavras sairam.

Fabrício olhou para mim de novo, mas dessa vez seu olhar ficou fixo em mim enquanto ele falava:

- Além do poder da visão infravermelha, Anna tem uma grande ligação com desenhos e enigmas. Ela é capaz de desvendar qualquer significado de símbolos antigos e pinturas de milhares de anos atrás. Sem contar que ela também desenha tão bem quanto ninguém. Vários quadros que decoram o quarto do rei dessa cidade foram feitos por ela. - Ele voltou a olhar para o caminho de pedras, a trilha que estávamos a poucos minutos antes. - Ly tem o poder de controlar o gelo, fazendo com que ele se movimente ao seu favor e mude de fase quando ela quiser. Ela também possui o dom de falar com animais, mas isso ela ainda precisa aprender a fazer direito. - Ele desviou seu olhar e olhou pra mim rapidamente. - Ah, ela também possui o dom de criar redemoinhos, e acredite, esse ela domina muito bem, principalmente quando está irritada.

Por um momento meus olhos se arregalaram. Fabrício riu em respostas aos meus grandes olhos e disse:

- Não se preocupe. É difícil Ly ficar muito nervosa. Apesar que eu acho que essa viagem pode deixar ela um pouquinho alterada.

Preferi não perguntar mais nada sobre Ly, eu não estava afim de ouvir algo que não queria.

Perguntei para o Fabrício:

- E seu poder? Você ainda não me falou.

Ele me olhou fixamente e respondeu com um meio sorriso:

- Bem, assim como Ly, eu posso falar com os animais, mas eu tenho mais jeito do que ela. Eu até tentei a ajudar a evoluir a fala dela, mas digamos que não deu muito certo. - Ele soltou uma gargalhada baixa e olhou para o caminho de barro.- Também sou bom em construir coisas, como espadas, adagas, armaduras e por ai vai. Mas isso não é um poder mágico. - Ele olhou para mim.- Meu segundo poder é proteção, consigo criar bolhas de proteção para proteger quem eu amo. Eu amo esse dom. Me sinto abençoado por poder proteger minha família e meus amigos.

- Porque você não se protegeu quando o caçador te atacou?

- Eu não posso usar a bolha para me proteger, posso apenas fazer isso quando eu estiver com alguém, aí eu crio uma bolha maior onde possa caber eu e a pessoa.

Meus olhos brilharam ao ouvir sobre todo aquele grandioso poder. Eu definitivamente quero ganhar um poder.

- E o poder de Alef?

Fabrício tirou seu sorriso do rosto, olhou para a trilha e disse:

- Esse é melhor você ficar sem saber.

Antes que eu pudesse responder, Fabricio e eu ouvimos barulhos de carruagem passando pela estrada.

Fabrício colocou a mão na minha cabeça e a abaixou cuidadosamente. Logo após, ele abaixou a dele também.

O cocheiro e os cavalos começaram a aparecer, poucos segundos depois a carruagem também surgiu, lentamente.
Ela era branca e tinha janelas de ouro, igual suas rodas. Os cavalos eram enfeitados com ferraduras douradas e antolhos roxos com bordas de prata.

Havia duas iniciais estampadas ao lado da janela "R.D", com certeza deveria ser alguma realeza indo ver o rei de Gowervill.

Esperamos alguns minutos depois que a carruagem tinha passado por completo, nós não queriamos nos arriscar em sermos vistos, ainda mais por uma realeza, que com certeza carrega feiticeiros dentro da carruagem para proteger seja lá qual nobre estiver lá.

Fabrício começou a erguer a cabeça para ver se havia algum sinal de perigo. 

Aos poucos ele foi se erguendo, e fez um sinal com a mão, ordenando para mim levantar também, avisando que o perigo não estava mais a vista.

Eu o obedeci e fui me erguendo lentamente, saindo de trás da árvore com cuidado para que as folhas não fizessem tanto barulho diante dos meus passos.

Tiramos nossos cavalos de trás da imensa árvore. Fabrício e eu os levamos para a trilha logo em seguida.

Quando chegamos na trilha, olhamos ao redor, para as árvores, que mal eram sopradas pelo leve vento. Não encontramos nenhum sinal de Anna, Ly e Alef. Olhamos um para o outro preocupados com eles, sabe lá se algum foi pego e levado de volta para o rei.

Fabrício tentando disfarçar a cara de preocupação disse:

- Eles devem estar bem.

Assenti para ele.

- Vamos continuar. - Ordenou Fabrício.

- Mas, sem os outros? - Meu rosto ainda estampava puro medo e preocupação. Não gostaria de ver ninguém machucado por minha causa.

- Eles provavelmente seguiram a viagem por um outro caminho dentro da floresta. Os três são muito espertos.

Fiquei mais tranquilo depois de escutar as palavras de Fabrício.

Montamos no cavalo e seguimos nosso caminho, em direção as pequenas casas que ficavam logo abaixo da floresta.

Os guardas da pedraOnde histórias criam vida. Descubra agora