Cap X

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Fabrício e eu demoramos uma meia hora para descer o morro da floresta inteira.

As casinhas eram feitas de madeira e palha, com diversas falhas e rachaduras na madeira, algumas pareciam até mesmo terem sido comidas por cupins.

- Rich, vc ainda tem água? - Perguntou Fabrício franzindo as sombrancelhas em resposta ao sol ardente.

- A minha acabou faz tempo, e a sua?

- Nada. - respondeu Fabrício. - Vamos ver se alguma alma bondosa por aqui nos dá um pouco de água.

Fabrício desceu do cavalo, e eu acompanhei o movimento.

Fomos andando em direção a um homem que parecia ter passado um pouco dos quarenta anos. Ao lado dele tinha um poço, ele provavelmente estava retirando água dele para levar para sua família.

Enquanto caminhamos reto em direção ao poço, passamos por vários aldeões, que usavam botas rasgadas e roupas com remendas enormes. Seus rostos estavam vermelhos de tanto trabalhar debaixo do sol. Não deve ser fácil ter que cuidar dos animais e das hortas todo dia, durante horas, para depois ganhar uma mixaria do rei.

Nenhum olhava para a gente, só estavam focados em fazer o trabalho deles. Eles dependiam disso, era o que os sustentavam.

- Rich, para de encarar com esses olhos de pena! - disse Fabrício em um tom de voz mais baixa, mas com firmeza.

- Eu não conseguiria viver assim. - Disse para Fabrício.

- Então é bom que você fingir ser algum humano da nobreza, caso contrário,  seu destino será esse.

Engoli em seco.

- Só olha para frente.

A cada passo um certo medo percorria a minha espinha. O homem que estava do lado do poço era baixo, robusto, e tinha barbas e cabelos negros. Ele parecia ser um cara bem rabugento.

Quando estávamos a três passos do poço, Fabricio fez um acesso com a mão em comprimento ao homem. E o homem abriu um largo sorriso para ele, o que me deixou chocado, eu não esperava nada menos de palavrões e outros xingamentos não muito agradáveis de se ouvir.

Fabrício parecia ter algum encanto sobre as pessoas. Ele parecia ser o tipo de homem que nunca arruma briga. Me arrisco em dizer que Fabrício era o tipo de homem que preferia sair perdendo do que arrumar uma briga com alguém.

Fabrício se aproximou do homem e sorriu para ele, dizendo logo em seguida:

- Boa tarde, senhor! Como está a vida?

- Ah, a mesma coisa de sempre. - Disse o homem olhando para Fabrício e dando um leve sorriso.

- E a enchada que fiz para o senhor? Ela foi útil?

- Ah, sim. Com certeza - o homem abriu um sorriso ainda mais largo. - Agora meu trabalho ficou mais fácil, a enchada nunca mais quebra. Nem os cavalheiros do rei conseguem quebrar a belezinha que o senhor fez para mim.

- Fico feliz que tenha dado certo.

Fabrício se aproximou ainda mais do poço, e olhou no fundo dele, dizendo:

- Pelo visto está cheio. O senhor de importa se eu é meu amigo tomarmos um pouco?

- Claro que não. Como posso negar água para o homem que me ofereceu uma preciosidade que melhorou meu serviço?

- Não é para tanto, senhor. - Fabrício sorriu para ele levemente- Fico feliz que tenha conseguido trabalhar melhor.

O homem deu um largo sorriso para ele e entregou o balde para Fabrício puxar a água.

Fabrício arregaçou as mangas, e deixou seus músculos de fora. - confesso que senti um pouco de inveja do braço musculoso que Fabrício era dono- Ele amarrou o balde na corda do poço e começou a levar ele lentamente para baixo, até ele atingir a água. O rosto de Fabrício estava franzido enquanto ele puxava aquele balde cheio de água para o início do poço. O rosto dele estava suado por conta dos raios de sol fortes da tarde.

Fabrício pegou o balde de água quando ele já estava acima.

Ele pegou uma garrafa que estava presa no seu cinto e a mergulhou na água, até a garrafa se encher inteira. 

Eu fiz o mesmo, tirei minha mochila das costas, abri ela e peguei minha pequena garrafa para mergulhar no balde. 

Fabricio e eu começamos a beber a água rapidamente, já que depois ela ficaria muito quente por conta do sol que queimava nossas cabeças. 

Logo após que terminamos de beber, Fabricio passou a mão na testa, fazendo com que a pequena franja molhada de suor dele se movesse para o lado. 

Ele encheu a garrafa dele novamente e eu fiz o mesmo. Dessa vez a água seria para a viagem. 

Fabricio novamente sorriu para o homem e perguntou:

- Tem algo que eu possa fazer para retribuir o favor?

O homem colocou  mão na nuca e começou a pensar e a ficar com o rosto todo vermelho, ficando envergonhado por algum motivo. 

- Bom, senhor Fabricio. Eu não quero abusar muito da sua generosidade. O senhor já fez tantas coisas boas para essa pequena aldeia miserável. Mas, na verdade, se me permite, gostaria de lhe pedir mais um único favor. 

- Pode dizer, Joe. 

O homem mexeu sua cabeça para o lado e disse:

- Nossas casas estão começando a cair. Todas tem rachaduras por todas as partes...

Fabrício o interrompeu antes que ele pudesse terminar seu pedido:

- Ah, entendi. Você quer que eu arrume para vocês?

O homem balançou a cabeça em sentido negativo e disse:

- É muita bondade sua. Mas não é isso. - Ele foi em direção a uma das pequenas casas de madeira.- Vejam, marcas de garras. Alguém, ou melhor, alguma coisa está provocando essas rachaduras. 

Fabricio foi em direção a pequena casa que Joe estava mostrando. Eu fui logo atrás dele.

Fabricio se aproximou das marcas e as tocou com cuidado, sentindo as formas das garras, as analisando cuidadosamente.

As marcas eram profundas e longas. Considerando que elas até mesmo causaram rachaduras em algumas casas, deveria ser uma fera ameaçadora para os aldeões e para qualquer outra pessoa. 

- Com certeza é um lobo da lua. - Disse Fabricio se afastando da pequena casa. 

- E tem como parar ele? - Perguntou Joe, com preocupação e olhos arregalados. 

- Tem sim. Que dia é a próxima noite de lua cheia?

- Hoje mesmo, senhor. Ela sempre permanece por uma semana, hoje estamos no sétimo dia. 

- Então tem que ser hoje. 

Fabricio se virou para mim e disse:

- Descanse, Rich. Vamos passar a noite inteira acordados. 

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⏰ Última atualização: Jun 14, 2022 ⏰

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