Atura Ou Surta

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"Amor não é doença, é cura. Não é só close, é luta. Então vê se me escuta, aceita, atura ou surta!"

Quebrada Queer

O interfone toca quebrando o silêncio esmagador que tinha tomado conta do nosso apartamento, Daniel atendia ouvindo a porteira avisar que os pais dele estavam subindo. Agora era uma questão de poucos minutos e eles estariam diante daquela porta.
Meu papel era apenas de um amigo, alguém que dividia o apartamento com ele, alguém que era íntimo, próximo mas nada mais. Precisava conter minhas palavras, meus gestos e meus olhares.
Dan deu aquele olhar de "tudo vai ficar bem" poucos segundos antes da campainha tocar e ele abrir a porta para comprimentar seus pais, não chego a ver eles enquanto ambos abraçam o filho e falam o quanto sentiram saudades, somente quando Daniel se afastou pedindo que eles entrem é que eu pude ver quem eram.

Pela altura da mãe dele, pude entender porque o loiro saiu tão grande, mas não esperava que seu pai fosse menor que sua mãe, a mãe de Daniel, chamada de Dona Lúcia tinha quase a altura do filho enquanto seu pai tinha a altura do Clebio Damas, sim o youtuber. Achei até fofo, mas apesar de Dan puxar a altura da mãe, suas feições eram puramente de seu pai que lhe era uma versão mais velha, sua mãe tinha cabelos escuros que já estavam ficando grisalhos e olhos escuros com os sinais da idade.

- Mãe, pai, esse é Miguel. Meu amigo. - Isso doeu, mas além de noivo eu era amigo, isso devia contar. Ele me olhava com um sorriso doce mas seus olhos diziam "Desculpa".

- Olá, é um prazer conhecer vocês, Dona Lúcia e Seu Pedro.

- Prazer em conhecê-lo. - Seu Pedro disse enquanto a dona Lúcia caminha até mim me dando um beijo na bochecha.

- Obrigada por cuidar tão bem do meu menino, - Ela disse com um sorriso doce - Dani sempre foi meio cabeça de alga e não tende a ter muita disciplina na vida mas desde que conheceu você ele tem andado na linha.

- Mãe! - Daniel choramingou enquanto sua mãe dava uma risadinha junto de seu pai e eu apenas ri meio nervoso. - Assim ele vai achar que eu sou inútil.

- Inútil não, apenas desorganizado.

- Realmente, ele tende até esquecer as chaves. - Falei entrando na brincadeira para aliviar a tensão em meus ombros.

- Só não perde a cabeça porque está colada no pescoço. - Seu pai brincou.

Até aquele momento parecia que tudo iria bem, mostramos o quarto do Daniel aonde eles ficariam e perguntaram se estava tudo bem em eu dividir meu quarto com o filho deles. Oh se soubessem a verdade.

- Tudo bem mãe, eu vou dormir no colchão de ar no chão. - Daniel disse e eu contive um sorrisinho, como se ele fosse mesmo dormir nesse colchão de ar.

Após eles se ajustarem, foram dormir já que estavam cansados da viagem enquanto eu e Daniel fomos preparar o jantar. O Cão aproveitava para ficar deitado no chão da nossa cozinha completa para pegar algumas sobras que jogávamos a ele, o cachorro estava fazendo a festa mas nós estávamos em completo silêncio.
Meu corpo ainda tenso enquanto eu cortava uma cebola para colocar no bife acebolado, Dan passou por trás de mim para ir na geladeira quando seu quadril roçou na minha bunda.

- Pare. - Resmunguei.

Ele pegava uma caixa de leite para fazer o inhoc e fez questão de encostar o peitoral contra mim.

- Parar o que? - Senti seu hálito em minha nuca, causando arrepios.

- De me provocar, sua família está logo ali.

- Eles estão dormindo. - Ele sussurrou mas eu lhe dei uma cotovelada.

Ele se afastou ofegando e gemendo pela dor, mas logo deu uma risada, focando no prato que preparava.

- O que eu faço com você eim? - Reclamei.

- Atura ou surta. - Daniel disse, fazendo um estalo com os dedos.

Como os pais dele não percebiam o quão queer ele podia ser?
Sinceramente, mesmo o Dan sendo Bi, eu conseguia me passar mais por Hetero do que ele.
Não que eu esteja reclamando, acho fofo cada traço de sua personalidade, mas nesse momento eu estava fervendo de neuras.

Terminamos o jantar, colocando na mesa e ainda acabo tendo um beijo roubado, Dan me dava um selinho rápido antes que a porta do quarto abrisse e seu pai saia junto de sua mãe.
O jantar correu bem, eles contavam sobre a infância de Daniel que me fazia imaginar um garotinho loirinho com personalidade de Golden Retriever correndo pela casa com as mãos sujas de tintas e os pais correndo atrás enquanto ele gargalhava pintando as paredes e móveis.
Apesar do que imagino ter sido um baita trabalho, penso em como seria termos algumas crianças assim como ele.
Não é por nada não, mas se for pra ter um filho que vai passar a infância e adolescência enfiado no quarto estudando e vendo anime, sinceramente prefiro um traquinas como ele do que um nerd como eu.

Melhor eu bater na boca.
Depois acabamos tendo um Daniel Júnior e minha paciência não aguenta.

Dou dois tapinhas na boca quando Dan disse

- Que foi amor?

- Nada, não. - Falei rápido e então vi os pais dele nos olhando, Dan encarou a mãe que olhava ele com olhos de águia e então eu dei uma gargalhada. - Larga de ser gay, Daniel.

- Hahaha, foi mal. - Ele estava vermelho como pimentão.

Seu pai voltou a atenção ao pedaço de torta em seu prato, que havíamos comprado na padaria mais cedo.

- Esses jovens hoje em dia tem cada gíria.

- Não é querido? As filhas da nossa vizinha tem uma mania de chamar todo mundo de amor e Anjo, até estranhei quando do nada ela foi me entregar um bolo e falou "Tenha um bom dia amore". - Dona Lúcia conta essa história enquanto eu suspiro aliviado, a tensão saindo dos meus ombros.

Ao fim do jantar, fui para o quarto e abri a janela, tomando uma lufada de ar no rosto para me acalmar, Dan me seguiu deixando os pais assistindo a novela.

- Essa foi por pouco. - Ele disse.

- Graças a sua mãe e a filha da vizinha. - Concordo.

- Obrigado filha da vizinha. - Ele completa vindo me abraçar por trás e pondo a cabeça em meu ombro. - Desculpa por fazer você passar por isso.

- Está bem, - E estava mesmo, eu não queria fazer ele sofrer e se isso era necessário, estava tudo bem. - Eu entendo.

- Eu te amo, de mais. Você é meu tudo. - Ele diz dando-me um beijo na bochecha enquanto eu fecho os olhos, pondo minhas mãos encima das suas e aproveitando esse pequeno momento a sós.

O Vizinho da minha irmã (+16)Onde histórias criam vida. Descubra agora