"Romeu, Romeu! Onde estás, meu Romeu?
Renega o teu pai e abdica o teu nome;
E, se não tiveres coragem, jura que me amas,
E eu deixarei de ser Capuleto."
- Julieta Capuleto, Romeu & Julieta Ato I Cena IRoer a unha nunca foi meu forte, mas morder a cutícula dos dedos era o ato de nervosismo que mais me ajudava a me concentrar. Especialmente quando era o do dedo polegar. Meu ato era um sinal claro de que eu estava ansioso com meu próximo passo, ao invés de ouvir minha família eu tinha inventado para mim mesmo uma desculpa idiota como "Só voltei em casa para buscar umas roupas". Não queria encontrar o Dan mas sabia que isso poderia acontecer, até mesmo desejava lá no fundo poder ver ele, mesmo que eu não me sentisse pronto para termos uma conversa séria.
Por essa razão eu estava entrando no elevador do prédio e subindo pro nosso andar, a vantagem de morar ali era que não precisava avisar ao porteiro, apenas seguir meu rumo em direção ao nosso lar. Se é que eu podia ainda chamar de lar, porque Dan poderia ter decidido pelo nosso término. Decidido namorar e casar com uma boa garota cristã ou algo que a sua família deseja.
Não iria o julgar, não depois do meu chilique e de ter fugido sem mesmo dar uma chance para conversamos. Talvez eu mereça isso.As portas do elevador se abrem e eu saio dela, quando chego na nossa porta, tirando o meu chaveiro do bolso com uma mão enquanto a outra eu segurava a coleira do Cão, tinha decidido levar ele apenas para passear e quem sabe se despidir do Dan. Ele amava aquele cachorro como um filho.
Coloco a chave no trinco e destranco no exato momento em que escuto vozes gritando.- Não fale assim dele! - Ouço a voz do Daniel, penso em ir embora mas então escuto a mãe dele gritando.
- Não falar o que?! Aquele seu amigo precisa mesmo arrumar uma namorada e sair do pecado! - Quando ela grita isso eu fecho minha mão em punho, se eu odiava uma coisa era quando as pessoas tentavam impor suas crenças para cima de mim.
Posso não ser religioso, posso ser gay. Mas jamais me diga que eu irei para porra do inferno por culpa da SUA religião que não é a minha.
Respiro fundo, Cão não late mas começa a tentar pular em mim, eu me abaixo fazendo um carinho em sua cabeça e peço para ele ficar quieto.
Nesse instante ouço a voz do Daniel novamente, um grito que eu nunca tinha ouvido antes, ele não era do tipo de levantar a voz, mesmo quando estava gritando agorinha era mais como falar alto do que realmente gritar, mas agora fora realmente um grito. Um que fez o Cão ir para de trás das minhas pernas, com medo.
- PAAAARE!! Ele é o MEU NAMORADO! MEU NOIVO. MEU MARIDO!
Meu coração se acelera ao ouvir aquilo, e então sua voz saia baixa.
- Ou ao menos era, até aquele jantar. - E então ouço um som seco e alto como o de um tapa, abro a porta na hora e vejo o Daniel com o rosto virado pro lado, a marca vermelha em seu rosto.
Seu pai segurando o braço de sua mãe enquanto ela estava vermelha pimentão de raiva.
Ela tinha batido no Daniel.
E não queria parar por aí.- RETIRE O QUE DISSE! Retire o que disse! - Ela começa a gritar.
- Querida, já chegue. Pare com isso. - O pai do Dan diz, ele então me vê e abaixa o olhar, enquanto eu avanço até o Daniel, pondo minhas mãos em seu rosto.
- Você está bem? - Pergunto e ele me olha nos olhos, por um momento e então seus olhos se enchem de lágrimas e ele nega com a cabeça, eu me viro ficando de frente pra ele. - Peço que se retirem do meu apartamento.
- FIQUE LONGE DO MEU... Hmhmmm. - A mãe do Dan é silenciada quando seu marido põe a mão tampando sua boca.
Nunca tinha visto mães surtar quando o filho saia do armário, já tinha visto mais pais, e por um momento a cena trágica se torna uma comédia quando vejo aquele casal saindo do apartamento, o marido tentando fazer a esposa ficar calada enquanto a arrasta com ele.
Se não fossem meus sogros talvez isso teria sido mais engraçado.
Me viro ao Daniel quando a porta se fecha, ele ainda estava ali parado em silêncio, com os olhos chorosos e não posso evitar ao abraçar ele, abraçar tão forte como se pudesse juntar todos os cacos do seu coração e colar eles novamente com o meu amor.
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O Vizinho da minha irmã (+16)
ContoTODOS OS DIREITOS RESERVADOS. Um conto LGBTQIA+ Miguel e Daniel se conheceram através de Maria Clara, irmã caçula de Miguel que por um instante teve um breve flerte com Daniel, mas seus destinos já estavam traçados. Os dois rapazes passaram por um...