"Quando as raízes são profundas não há razão para temer o vento."
Provérbio Chinês
Perder o aniversário de dois anos do meu único sobrinho poderia me condenar a morte, então de forma alguma deixaria que Daniel me seduzir uma segunda vez, por isso já estávamos saindo do meu carro de encontro casa da minha irmã. Clara e eu sempre tivemos um relacionamento bem próximo e amigável, ainda nem podia acreditar que eu estava morando com o ex vizinho dela que até uns anos atras os dois queriam se comer. O destino era mesmo uma comédia.
Daniel me acompanha até a porta mas logo ele pega na minha mão e me da um beijo suave nos dedos. - Preciso fazer uma ligação rápida, já entro depois de você. - Ele diz com um sorriso singelo enquanto eu reviro os olhos. Ah mas é claro que ele ia fazer isso logo agora.
Para sorte dele eu entro logo de uma vez sem reclamar. Apesar que iria odiar fazer uma entrada sozinho, principalmente porque combinamos nossas roupas, ele com um short curto de golfinhos e uma camisa rosa enquanto eu usava uma calça caqui rosa e a camisa de mangas curtas estampada com golfinhos. Era temático para a festa de "Marinheiro" que minha irmã estava dando, tudo porque o pai da criança sonhava em ser da marinha real inglesa antes de mudar para jornalismo. Ninguém merece né? Disseram que o pequeno Victor gostava de navios também, mas bem sabemos como os pais empurram os gostos nos pequenos. Me arrepio só de lembrar que minha mãe queria que eu fosse cantor e nossa senhora eu cantando era o mesmo que uma taquara rachando.
E como era de se esperar a casa estava lotada, provavelmente várias pessoas do trabalho de ambos, que eu nem conhecia quem eram. Umas três pessoas ali eram conhecidas e eu sorria a elas, Ana amiga da minha irmã e obviamente minha irmã e meu cunha. Ana estava usando um macacão jeans e uma camiseta branca, bem básica enquanto Clara estava em um conjuntinho de marinheiro um tanto sexy para uma festinha de 2 anos, provavelmente o marido dela estava tendo o melhor dia dele, o mesmo usava uma bermuda azul com âncoras brancas estampadas e uma camisa branca de botões que estavam se matando para manterem-se juntos e não abrir no meio da festa. Sério, que whey protein esse homem toma? E aonde eu podia comprar? Dou um aceno para eles que me veem mas então dão um grito e eu me viro para ver uma criança de uns 7 anos correndo na minha direção com um copo do que acredito que seja suco de uva e NÃO...
Tento desviar mas o moleque se joga contra mim, ele cai no chão e minha roupa toda fica suja do suco, não vou nem dizer que a roupa era nova, tento me segurar pra não dar um chilique enquanto a mãe do mesmo vem o socorrer e minha irmã se aproxima.
- Oh! Miguel, eu sinto muito. Você quer uma roupa do Henry emprestada? - Ela diz e eu olho pro seu marido o dobro do meu tamanho. Ergo uma sobrancelha para ela que dá de ombros. - É o que tem.
- Tá, me empresta algo.
Sou obrigado a aceitar e subimos pro segundo andar da mansão, somente quando chegamos no quarto do casal e minha irmã entra no closet e eu me sento em um puff redondo e rígido enquanto aguardo, é que eu falo algo.
- Então, e esse tanto de gente na festa eim?!
- Você sabe como é, alguns vizinhos, o pessoal do jornal e alguns são da escola. - Ela diz casualmente. - A mãe teve que viajar de última hora e enviou o presente dele primeiro, Victor falou com ela por chamada de vídeo.
- E o pai?
- Ele disse que iria chegar pros parabéns. - Não acreditava muito que a nossa mãe ia vim mesmo, mas nosso pai eu esperava que ele já estivesse aqui, mas agora ele estava casado então acho que era normal.
Clara logo saiu do closet com uma roupa que até que acredito que caiba em mim.
- Há há. Moletom definitivamente vai servir, - Digo me levantando e indo até ela - mas já era meu look.
- Pelo menos está limpo. - Ela diz revirando os olhos e eu mostro a língua pra ela. - Ei não desconte em mim, a culpa não foi minha.
- Foi daquele pirralho, espero que o Victor não cresça assim. - Mas logo que falo eu olho minha irmã. - Naaam tendo você como mãe ele vai ser pior.
- HEY! - Ela me dá um tapa enquanto eu estava abrindo as calças. Sim me trocando na frente dela, éramos irmãos e comigo sendo gay nunca tivemos muito pudor desnecessário. - Victor vai puxar o pai dele.
- Espero que sim. - Ponho a calça do moletom e puxo os cordões. - Ele provavelmente com 4 aninhos vai falar "Senhorita Mamãe, poderia por favor me passar uma xícara de chá" - Falo todo pomposo imitando um sotaque de gente rica e com as mãos eu segurava uma xícara e um pires imaginario levantando o dedo mindinho.
Clara caia na gargalhada.
- Senhor pai, por obséquio poderia me ajudar a esvaziar meu trato urinário? - Eu caia na gargalhads junto dela, secando uma lágrima no canto do olho. - Esse moleque vai ser mais metido que o pai.
-Um completo esnobe, mas um esnobe muito fofinho. - Admitia e ela concordava.
Descemos para a festa e podia já avistar o Daniel, ele parecia bem sério e normalmente ele não era sério, reservado sim, mas sério não.
Vou até ele, indo cumprimentar o resto do pessoal, mas não falamos nada. Ele me perguntou da roupa e expliquei toda a situação.
Somente quando estava com o Victor em meu colo e minha irmã abria conversava com nosso pai enquanto seu marido ajudava na limpeza, que eu cheguei perto do meu noivo.- Dany, o que foi? Você ficou estranho a festa toda.
Ele pegou a mãozinha estendida do Victor e apertou, mas seu olhar encontrou o meu e notei que realmente era muito sério.
- Meus pais querem nos visitar, naquela hora tinha recebido uma mensagem deles querendo conversar. - Não gostei do modo como ele disse isso, principalmente porque eu sabia o que estava explícito. - Eu não sei se estou pronto para contar a eles.
Minha respiração ficou ofegante e podia sentir que a pressão estava subindo. Daniel sempre me contou que nunca disse aos pais que era bi, principalmente porque tinha medo da rejeição dos pais que eram bastante religiosos. E sendo bi não achou necessário, mas isso até ele me conhecer.
- Porra. - É tudo o que digo.
- Pola. - Victor repete batendo as mãozinhas, merda agora a Clara vai me matar também.
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O Vizinho da minha irmã (+16)
Historia CortaTODOS OS DIREITOS RESERVADOS. Um conto LGBTQIA+ Miguel e Daniel se conheceram através de Maria Clara, irmã caçula de Miguel que por um instante teve um breve flerte com Daniel, mas seus destinos já estavam traçados. Os dois rapazes passaram por um...