Ser eu mesmo

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"Não guarde nada para si. Sinta para fora. Fale para fora. Respire para fora. Externalize tudo que tiver de ser externalizado. Seu corpo tem a função de carregar sua alma e nada mais, o peso que não te pertence deve ser tirado de teus ombros." - DESCONHECIDO

O silencio que tomou nós dois a caminho de casa era palpável, a densidade daquilo que nenhum de nós queria expor em palavras, não até passarmos pela porta do apartamento para que Daniel puxe a conversa que tanto evitamos após a noticia de que seus pais estavam vindo o visitar. Estavamos juntos já há quase dois anos mas mesmo assim em nenhum momento ele falou aos seus pais sobre nós e agora essa bomba estava prestes a explodir nas nossas caras e eu sabia que iria ser o mais machucado disso. 

- Amor, diz algo. - Ele disse enquanto eu seguia para a cozinha embusca de um copo de agua. Não queria conversa e lhe olhei de lado em um aviso para não me pressionar, mas eu estava morando com um Golden Retriever humano. - Amor, por favor, fale comigo. - Não tardou para o mesmo me abraçar por trás mas não iria adiantar, eu odiava ser tocado quando estava bravo. 

- Me solte. - Disse entre os dentes, me soltando dele e batendo o copo na bancada, precisava do meu espaço pessoal para processar aquela situação. - Não to no clima. 

- Mas fale comigo, precisamos conversar sobre a situação. Como vamos resolver com meus pais? - Quando ele disse isso eu estava caminhando em direção ao pote de ração do Cão, o cachorro que meu pai havia adotado pra minha mãe mas que acabou sendo cuidado pela minha irmã e depois acabou sobre meus cuidado. O animal estava dormindo que nem ouviu a gente entrando mas no momento em que coloquei sua ração ele levantou correndo que até escorregou pelo piso chão de taco antes de enfiar a cara na tigela. 

Fiz um carinho no pelo do animal antes de me levantar e seguir pro quarto, Daniel ainda no meu encalço tentando me obrigar a falar com ele, novamente ele me abraça por trás, pondo queixo em meu ombro antes de eu suspirar e por as mãos em seus braços me envolvendo, tentando me soltar dele mas seus braços eram tão fortes e musculosos quanto os meus. 

- Esta bem! - Gritei e ele me soltou, me virei a sua frente. - Quer conversar?! Vamos conversar. - Ele iria se arrepender disso porque não fazia ideia de como toda a situação doida. - Você esconder quem é dos seus pais não é problema meu, mas eu me esconder sim. Você entende isso? Passei anos da minha vida escondendo quem eu era por medo da rejeição, eu precisei ir embora da porra do país para me sentir aceito. Minha família me achava um erro, meus pais engravidaram na adolescência e pior ainda mesmo avós maternos odiavam a cor da minha pele . Então vivi me odiando, odiando quem eu. - As palavras saiam em disparada, sinceramente eram coisas que nunca havia dito a ele, somente a Clara entendia, era algo que sempre tivemos um ao outro para desabafar, era uma merda mas eu consegui superar. - Sabe como tudo se resolveu? No momento em que voltei dos EUA e contei pro meu pai, ele me abraçou e daquele dia em diante eu decidi nunca mais me esconder e não vou voltar a me odiar, Daniel. Então não, não quero passar por isso com seus pais. 

Era muita informação, Daniel ficou me encarando com seus olhos azulados em choque, então ele viu minha expressão, eu estava tentando não chorar, ele deu um passo adiante e levou uma mão a minha que eu estava levando ao meu rosto para secar as lagrimas, ele segurou meu pulso e ali olhou as marcas esbranquiçadas. 

- Isso...foi por isso? Por você se odiar? - Ele perguntou com a voz tão baixa que por um momento duvidei ter ouvido, então confirmei com a cabeça, meus ombros tremendo. Ele levou meu pulso aos seus lábios e beijou suavemente a pele marcada. 

Minhas cicatrizes só meus pais e minha irmã sabiam, nosso pai me encontrou chorando no meu quarto quando cheguei do exterior, só então contei a ele tudo, Clara só descobriu meses depois e era um assunto que ninguém tocava, não por vergonha, apenas porque deixei tudo no passado, mas o medo dos pais do Daniel o rejeitar estava trazendo todo aquele sentimento de volta. Medo de eles o odiarem, medo de eles fazerem o homem que eu amo se odiar, medo de eu me odiar, de ser rejeitado por eles, medo de perder o Daniel para sempre. Tudo aquilo ficou entalado em minha garganta, mas o olhar dele dizia que entendia tudo, pois aquele surfista abobalhado me abraçou e me segurou em seus braços como se eu fosse o mundo inteiro dele. Minhas mãos agarraram as costas da sua camisa e eu me permiti chorar, deixando as lagrimas descerem violentamente, não sei por quanto tempo ficamos assim, apenas que em um momento já não havia mais lagrimas para chorar e eu me soltei de seu abraço. 

Daniel colocou as mãos em meu rosto, pressionando minhas bochechas e olhou em meus olhos por um longo minuto. 

- Aguente só até eu estar pronto, por favor. 

- Você vai contar a eles? - Precisei perguntar e ele confirmou com um balançar de cabeça.

- Nessa visita deles, eu vou contar, só...-Ele olhou para o lado, em outra pessoa isso seria indicação de mentira, mas era apenas o jeito como Daniel desviava o olhar para pensar. - Não quero complicar as coisas. Preciso que seja uma situação limpa. Você entende? 

Sim, eu entendia, ele não queria brigas. Suspiro fechando os olhos e encosto a testa na dele,minhas mãos indo para seus quadris, segurando ele naquele momento só nosso. Eu poderia ficar assim para sempre com ele, apenas respirando e deixando o tempo passar por nós, mas logo as mãos do loiro começaram a deslizar por minha nuca e ele se afastou me dando um beijo na bochecha e depois descendo para meu pescoço. 

- O que esta fazendo? 

- Continuando o que você não me deixou terminar essa manhã. - Sua voz saiu rouca pelo desejo, seus labios me faziam cocegas ao tocar a minha pele e eu dei uma risada tentando me desvencilhar do mesmo. 

- Estavamos tendo uma conversa séria. - O lembro. Indo para o outro lado do quarto, com a cama entre nós. 

- Sim e essa conversa acabou, - Ele subiu na cama, me pegando com seus braços e me puxando para subir na cama com o mesmo. - agora volte aqui. - O ouvi dizer quando caímos juntos no colchão. 


O Vizinho da minha irmã (+16)Onde histórias criam vida. Descubra agora