A Queda

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"Respeitável público, um show tão maluco
Essa noite vai acontecer, aqui a gente vai armar
Um circo, um drama com perigo
E nessa corda bamba quem vai caminhar sou eu. "
Glória Groove - A Queda

Parecia que as coisas iriam bem, eu realmente estava me sentindo confiante, apesar de tudo eu e Daniel dormimos juntos, abraçados e conversando, com seus pais no quarto de frente, mas a porta estava trancada. Então não precisávamos nos esconder ali, apenas falar baixo e podíamos sentir como se nada tivesse mudado.
Mas assim que acordei, ao som de batidas na porta, me sentei na cama e vi o Daniel deitado no colchão no chão, se levantando e indo abrir a porta, ele falava com sua mãe enquanto eu ainda coçava os olhos e saia da cama.

- Porque a porta estava fechada?

- Eu estava me trocando ontem e esqueci de distrancar. - Ele diz de forma casual e muda de assunto - Mãe, o que vai fazer hoje? Não se esqueça que vamos jantar naquele restaurante que eu te falei.

Eles começam a conversar enquanto eu enfim despertava.
Os pais do Daniel iam fazer um tuor e fazer compras na cidade, ele se oferecia para os acompanhar enquanto eu decidia ficar em casa, passeando com o Cão e cuidando da casa.
Óbvio que queria conhecer melhor os pais do cara que eu amo, mas também era bom deixar ele aproveitar sua família em paz, Dan passava muito tempo com a minha família e sabia como ele devia sentir falta dos pais e era mais confortável deixar ele ter os dois só para ele.
Então eu só precisava me preocupar com o jantar a noite e foi aí que tudo  aconteceu.

Como diz a música da Glória Groove, Extra, Extra não fique de fora dessa. Garanta seu ingresso pra me ver fazendo merda.

- Wow! Olha como esse restaurante é tão lindo? - Diz o pai do Dan, ele estava maravilhado com a arquitetura lembrando uma mistura entre anos 20 e uma decoração aquática.

Dan tinha me dito que sua paixão pelo mar vinha justamente dos seus pais, e eu podia notar isso pelos olhos do meu sogro que estava fascinado como uma criança de cinco anos, já sua mãe não parecia tão animada como eu esperava, ela parecia meio séria enquanto sentamos na mesa e fazíamos nosso pedido.
O jantar parecia correr normalmente, não que estivesse tão confortável como foi na noite passada, parecia mais robótico como se algo estivesse acontecendo e só o pai do Dan e ele não notava isso, mas eu sentia palpável.

- Então, filho, quando você vai arrumar uma namorada? - A mãe do Dan perguntou conforme cortava seu bife, o seu pai bebeu um pouco de água antes de encarar o Dan ao meu lado.

Fiquei em silêncio bebendo um pouco do vinho, eu não estava dirigindo então podia beber.
Dan apenas deu de ombros enquanto seus pais o olhavam e eu tento olhar para um ponto distante do que olhar para eles.

- Não estou procurando ninguém no momento. - Foi sua resposta.

- Mas deveria, quando vai nos dar netos? - Insistiu sua mãe, eu abaixei minha taça na mesa.

Ficando em minha comida do que na conversa, até que meu nome foi notado.

- E você, Miguel? Tem namorada? - Perguntou sua mãe.

- Não, senhora. - Eu disse, - Não tenho intenção em namorar no momento.

- Ocupado com o trabalho né? - Disse o pai do Dan. - Não incomode os rapazes, meu amor. Eles estão focados no trabalho e no futuro.

- Trabalho e futuro? Pois casar e formar uma família também é focar no futuro. Não quero nosso filho sendo um vagabundo ou pior as pessoas confundir ele com um gay por viver com um outro homem. Esta na hora de ele ter sua casa e sua esposa.

Trinco meu maxilar, Dan apenas olha seus pais e sorri de forma descontraída.

- Mãe, ninguém pensa isso.

- Mas podem pensar! - Ela diz a ele.

- Eles não iriam pensar isso do nosso filho e nem do amigo dele. - Seu pai disse dando uma risada. - Eles são másculos e fortes. Não é Miguel? Quantas namoradas você já teve?

- Apenas duas... Antes de eu me assumir gay.

Foi burrice? Não sei, mas não consegui me calar.

Seus pais pareciam mais brancos do que o normal, tão pálidos em choque que alguém poderia confundir eles com os fantasmas de Júlia e os Fantasmas.

Então Daniel deu uma risada.

- Ele está brincando.

E sua família começou a rir junto.

- AI que susto, eu quase acreditei. - A mãe dele disse se abanando com a mão. - Que pecado até brincar com uma coisa dessas. O padre da nossa igreja poderia cair duro ouvindo isso.

A cada palavra daquela mulher isso me afetava, era como se a pressão sanguínea do meu corpo tivesse aumentado, eu apenas não suportei mais. As palavras da mãe dele só iam ficando piores e piores e seu pai não estava tão atrás dela, a conversa atingiu um ponto homofóbico que estava me obrigando a terminar aquela taça de vinho, mas o que me doeu foi ver o Dan tentando agir com naturalidade enquanto tudo aquilo parecia uma cena bizarra da novela das oito.

Levantei da mesa.

- Eu não aguento mais, - Minha voz saiu enquanto eu jogava o guardanapo na mesa. - Eu sou gay, não menti e nunca mentiria sobre isso, sou muito gay, amo homens. - Aquela família me olhava chocado como se não tivesse visto um gay na vida, olhei pro Dan que estava paralisado na sua cadeira e falei. - Não posso fazer isso, eu preciso ir.

- A cadeira se arrastou no chão enquanto eu me afastava, caminhei em direção a saída do restaurante e pude ver o Dan se levantando para vim atrás de mim mas fiz um sinal com a mão o impedindo.

Não iria causar um barraco, não iria o tirar do armário a força mas também não iria aguentar ouvir aquilo.

Apenas peguei um uber até em casa, peguei uma mala, roupas e meu cachorro.
Podia ser a maior estupidez que eu já fiz, mas chega. Eu não iria suportar aquele povo por mais um segundo. Não tinha que ficar me matando para impressionar uns homofóbicos de merda.

O Vizinho da minha irmã (+16)Onde histórias criam vida. Descubra agora