11. Deleite

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Quando se tem o seu coração quebrado inúmeras vezes por pessoas que juravam te amar, acreditar novamente que o amor é algo bom pode se tornar uma tarefa difícil. Maya sabia muito bem disso, provou o suficiente do amor para saber que amar às vezes dói.

A escritora vinha protegendo seu coração a sete chaves desde a sua última desilusão amorosa, Victoria observou de perto cada processo do luto da amiga, tanto pelo fim do desastroso relacionamento quanto pelo falecimento de sua mãe. Queria ver a amiga colocar o coração no mundo novamente, só não dessa forma.

— Você precisa ser cautelosa. — alertava.

Bishop entendia a relutância da amiga, pois existia uma parte sua que também relutava, ainda que minimamente. Ela lembrava de cada acontecimento marcante dos últimos anos e dos últimos meses, boa parte das lembranças eram dolorosas, exceto as dos últimos tempos. Ter conhecido Carina foi como finalmente voltar a respirar depois de um longo período embaixo d'água. E era isso o que ela mais temia, redescobrir a função vital de seus pulmões e, então, se afogar novamente.

Inicialmente, os seus sentimentos tratavam-se apenas de uma alucinação, o desejo proibido de querer algo que não poderia ter. Algo extremamente proibido. As duas entravam em discretos jogos de flertes e recuavam, Maya sabia que aquilo poderia lhe render um bom atestado de insanidade por mergulhar em uma situação que não terminaria de outra forma que não o seu coração partido novamente.

Não estava em seus planos se declarar para a fotógrafa, era ridículo sequer cogitar que algum dia o sentimento pudesse ser recíproco. Foi o decorrer dos acontecimentos que lhe fizeram chegar até aquele ponto, o fatídico dia em que suas mãos tremiam de nervosismo ao tentar proferir as palavras que travavam em sua garganta. A confissão, entretanto, veio acompanhada de sua maior surpresa: a reciprocidade.

Me escuta...você não é a única com sentimentos aqui.

Lembrava do tom arrastado da mulher ao lhe entregar seus sentimentos e daquela imensidão castanha lhe fitando. Mesmo após alguns dias, ainda podia sentir seu peito palpitar somente com a lembrança.

Contudo, a situação exigia ainda um pouco, ou muito, de cautela. Afinal, Carina deixou explícito que não estava pronta para lidar com isso ainda, embora sentisse. E se a mulher nunca estivesse pronta? E se acordasse um dia e percebesse que tudo aquilo era um delírio e então se fechasse novamente em sua bolha de mulher-heterossexual-casada-com-um-pastor?

E foi assim que Maya conduziu os acontecimentos, iria para a sua viagem, respeitaria o tempo da italiana e tentaria manter a sua mente ocupada na maior parte do tempo possível. Quem, entretanto, não estava agindo com prudência era o outro lado da história. Enquanto a escritora tentava manter-se sob controle, Carina tinha seus pensamentos a mil por hora, arrancando boas gargalhadas de Maya com suas descobertas não-heterossexuais.

As coisas estavam fluindo da forma mais leve possível, talvez até mesmo genuína, até a fotógrafa começar a ir por um viés tortuoso, trazendo questionamentos dúbios e aflorando o desejo de Maya de matar cada uma de suas curiosidades. Desde o toque do beijo, até o caminho que Carina desejava que ela percorresse por seu corpo. Saber que a italiana nutria por ela não só sentimentos, como também desejo sexual, inflava o seu ego.

A nova versão de DeLuca lhe permitia ir mais fundo, adentrar espaços que antes ela se mantinha somente na superfície. Na noite anterior, a voz rouca da mulher, expondo suas imaginações, tratou de lhe arrancar todo o seu juízo, desejava que ela estivesse por perto para lhe mostrar o que havia causado em seu corpo com tão pouco. Quando Carina desligou a ligação, não restou alternativa a não ser satisfazer-se com seus próprios dedos, ansiando a companhia calorosa da italiana naquele quarto tão frio.

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