Cartas na Mesa - Parte Dois

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                      Atenção! 
Este capitulo contém cenas mais dezoito



  — Eu não vou mentir, lembrar disso... de como eu esperei e esperei em vão... de algum modo me impede de pensar em nós, de um jeito romântico, entende? — Kaoru cruza os dedos, sem conseguir olhar nos olhos de Kojiro.

  — Eu entendo como se sente, Kaoru — o mais alto encarou a própria xícara, agora pela metade — Eu errei, admito que o que fiz foi horrível, e, se isso for mesmo oque sente e eu não tiver como fazer nada para mudar isso, eu juro que te deixo em paz de uma vez por todas — Kojiro suspirou, coçando a nuca — Mas eu preciso que saiba de algo antes de falar qualquer outra coisa.

  — Kojiro...

  — Por favor

  Kaoru encarou os olhos de Kojiro, vendo como estavam tristes.

  — Tudo bem. 

  Kojiro baixou a cabeça, piscando algumas vezes antes de começar a falar.

  — Naquele dia, eu simplesmente não consegui acreditar no que tínhamos feito — o mais alto passou a mão pela barba por fazer, e, aos olhos de Kaoru, aparentou pela primeira vez ter a idade que realmente tinha — Apesar de estar feliz por oque eu mais imaginava ter acontecido, ainda estava muito confuso. Eu não fazia ideia se você tinha feito aquilo porque queria ou porque estava muito bêbado para recusar e eu estava com muito medo de perguntar, de descobrir que aquilo tinha sido uma coisa do momento, e, sim, eu sei que isso não é desculpa para ter sumido, mas nós tínhamos dezoito anos e... bom, eu estava apavorado, assim como uma criança que era — Kojiro o olhou, parecendo abalado — Mas eu me arrependo toda manhã por ter sido tão covarde, pensando que se eu não tivesse sido tão irracional, eu poderia ter acordado com você em meus braços nesses 17 anos — Kojiro soltou uma risada sem graça, repleta de dor — Foi por causa do meu medo de te perder, que eu acabei te perdendo.

  Kaoru encarou Kojiro, sem saber oque dizer, tentando processar tudo que tinha ouvido.
  Como Kojiro confessará que era apaixonado por ele mesmo antes da Itália, de como desejava tê-lo com ele por todo esse tempo...
  Mas, mesmo depois de saber de tudo aquilo, Kaoru não conseguia ignorar aquele aperto no peito, aquele medo lancinante de ter seu coração partido outra vez.

  — Kojiro... — Kaoru sentiu a voz tremer — Desculpe, mas eu não... — o mais baixo fechou os olhos, balançando a cabeça para um lado e para o outro — Eu não posso, não consigo. Eu sinto muito, mas não consigo, não depois de tudo, não depois de todo esse tempo. Eu não sou mais o mesmo, você também não... não daria certo. Eu sinto muito.

  — Ah... — Kaoru pode ver o lábio inferior de Kojiro tremer — Eu entendo, não precisa se desculpar — Kojiro cobriu sua mão, apenas para tirá-la no mesmo segundo — Eu é que sinto muito, Kaoru... só quero que... — Kojiro não terminou sua frase, apenas se levantou e tirou duas notas da carteira — Deve ser o bastante para cobrir nossos pedidos.

  Kojiro sorriu e se virou para ir embora, mas, antes de partir, voltou-se para Kaoru, com uma lágrima escorrendo por seu rosto e murmurou: — Só quero que saiba que não tenho mais medo. 

  Kaoru observou Kojiro atravessar o estabelecimento e sair pela porta, passando na frente da vitrine do café.
  Um soluço subiu pela sua garganta e Kaoru tapou a boca, tentando não chorar como um bebê num lugar publico. 
  Não entendia... mesmo depois daquilo tudo, porque o aperto em seu peito ficou mais forte? Porque sentia que seu coração iria explodir?

  Tinha feito o certo, não tinha?

  De repente, as últimas palavras de Kojiro soaram em sua cabeça.

Eu, Você e os Nossos FilhosOnde histórias criam vida. Descubra agora