Enviada pelos deuses - Ivar, o desossado

Capítulo 4

"Dizem que você só aprecia um jardim quando atinge uma certa idade, e suponho que haja uma verdade nisso. Provavelmente tem a ver com o grande círculo da vida. Parece haver algo de milagroso em ver o implacável otimismo de um novo crescimento após o inverno sombrio, uma espécie de alegria na diferença a cada ano, a maneira como a natureza opta por exibir as diferentes partes do jardim em seu máximo proveito."

Como eu era antes de você

(...)

Eu respirei fundo pela milionésima vez e tentei manter a calma. A família inteira de Ivar estava sentada ao redor da mesa. O clima era esmagador e repleto de tensão. Os olhares de sua mãe eram intensos, como se avaliasse os mínimos movimentos que realizei. Eu olhei os móveis e a decoração da cabana, havia certos detalhes extravagantes no ambiente, como as peles de animais e objetos metálicos.

- Qual é seu nome, criança? - Questionou e senti carinho em sua voz escondido através da autoridade esperada da realeza.

- Bella, majestade - Respondi e seu olhar brilhou em reconhecimento.

- Me chame de Aslaug, querida - Afirmou e concordei de maneira silenciosa - E de onde você vem, Bella? - Prosseguiu.

- Do mar? - Murmurei sem saber qual era exatamente a sua pergunta.

Apesar de parecer simples, a minha vida era muito complicada. Eu nasci no Brasil e vivi até os 9 anos em solo paulista, mas depois de problemas que nenhuma criança deveria ver e testemunhar, fui jogada no lar de adoção. Não tenho boas lembranças daquele inferno, eram tempos de desolação. John e Marry foram um verdadeiro milagre, eles me salvaram de tanto sofrimento, medo e angústia.

- Onde você mora? - Questionou Ubbe de forma incisiva, a perseguição mexeu com sua masculinidade e orgulho.

- É complicado. Atualmente eu moro em Miami, ou morava antes disso acontecer. Mas eu nasci no Brasil e morei lá por 9 anos, antes de ser adotada e levada para longe - Respondi honestamente, não havia motivos para mentir ou esconder fatos de minha história.

- Como saberemos se é verdade? Nunca ouvimos falar desses reinos antes - Afirmou o jovem que queria me matar, Hvitserk.

- A sua ignorância é a justificativa para a minha morte? Inacreditável - Desdenhei e ouvi Ivar engasgar com a bebida - E o Brasil não foi descoberto nessa época, ele é encontrado por portugueses em 1.500 - Afirmei.

- Está nos dizendo que existem terras no horizonte que ainda não foram reivindicadas e exploradas? - Perguntou Ubbe extasiado e um pouco incrédulo com a informação.

- Exatamente - Respondi prevendo que o viking irá buscar mais detalhes dessa história no futuro, ele parece empolgado.

- Quantos anos tem, Bella? - Indagou seu outro filho, Sigurd, o mais quieto deles.

- Tenho 18 - Afirmei mantendo a mochila no colo, ao alcance das minhas mãos.

A conversa foi interrompida brevemente pela entrada de uma garota. Ela tinha cabelos longos e loiros, os fios estavam emaranhados e sujos de fuligem, mas a trança disfarçou os nós. O vestido cinza se destacou pela quantia razoável de rasgos e remendos realizados nas mangas desfiadas e na saia. A garota sorriu e alternou o olhar entre os irmãos, malícia óbvia e evidente em sua expressão facial.

- Rápido, Margrethe - Ordenou Aslaug de maneira séria, não parecia a mulher gentil que estava conversando comigo.

- Sim, senhora - Murmurou colocando as taças de metal no centro da mesa.