Capítulo 12

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“Eu te amo sem saber como, quando ou de onde. Amo-te simplesmente, sem problemas nem orgulho: assim te amo porque não conheço outra forma de amar senão esta, em que não existe eu nem tu, tão íntima que tua mão no meu peito é a minha, tão íntimo que quando eu adormeço seus olhos fecham. ”

Pablo Neruda

(...)

Os agricultores faziam planos para dar início ao plantio de sementes. As mulheres andavam nas ruas e falavam sobre a ótima qualidade das frutas, muitas crianças corriam livremente nos campos floridos. Era estimulante testemunhar as mudanças ocorrendo no vilarejo que aprendi a amar. Aslaug coordenava todas as ordens que deveriam ser executadas. A rainha não descansava, o progresso de Kattegat era a prioridade no momento. Suas qualidades ficavam evidentes nas piores situações, quando sua inteligência encontrava soluções que pareciam impossíveis.

A brisa fresca soprou meu cabelo para direções opostas, impossibilitado a visão completa do cenário atual em que estávamos. Eu corria buscando alguma escapatória, mas nada parecia ser suficiente. Ouvi os sons característicos de Ivar se arrastando sobre todo galho e folha seca sobre o chão. O som de risadas se misturava em meio ao canto dos pássaros. A floresta parecia mais brilhante que o normal, ela pulsava com tanta diversidade e animais livres. A primavera trouxe o sentimento de renovação.

A minha proximidade com Ivar aumentou desde o beijo na forja. Eu sinto que despertei um lobo que é extremamente ardiloso e estrategista. O garoto tem o rosto inocente, mas suas ações não condizem com a realidade. Ele sempre encontra maneiras de me tocar e mostra dominância sobre outros homens. Eu gosto da sensação de proteção que o viking transmite e me assegura através de palavras doces. Experimentar as nuances da primeira paixão é inexplicável, diferente e incrivelmente arrebatador, além de único!

- Coelhinha, não adianta se esconder - Gritou na tentativa de me deixar nervosa, e funcionou.

Decidimos aproveitar o dia juntos, conversando e fazendo planos. Ivar comentou que sempre saberia onde me encontrar, independente da distância e suas pernas. Agora, eu corria pela floresta e gargalhava da situação inusitada. O rastro que deixei para trás tinha deixado pistas de rastreamento para o viking. Notei o silêncio inquietante e parei de correr, lutando para ser capaz de captar sinais de sua aproximação. Os meus sentidos pareciam incapazes de detectar o rapaz que possuía a vantagem de conhecer a área.

Ouvi somente o bater de asas dos pássaros e o trotar de um jovem alce. A adrenalina fez com que as batidas de meu coração ficassem mais rápidas, pude sentir a pulsação acelerada nas veias. Infelizmente, a inteligência de Ivar não pode ser subestimada. Eu me escondi atrás da maior pedra que encontrei, embaixo de uma imensa árvore de aspecto antigo, rodeada de moitas verdes e volumosas, parecia perfeito. A minha respiração ofegante podia ser ouvida, independente e indiferente ao quanto tentasse normalizar.

A barra do vestido verde exibia fios desfiados, a nossa brincadeira rendeu pequenas consequências e elas eram vestígios de minha felicidade. Arfei quando senti mãos firmes envolverem meu tornozelo e puxar meu corpo com suavidade para trás. Fechei os olhos e aguardei pelo impacto iminente, seguido por ondas agudas de dor, mas não aconteceu. Braços fortes me cercaram e protegeram da queda desastrosa. O chão coberto de grama parecia um tapete macio. Ivar era o vencedor do desafio no fim das contas.

- Achei você, coelhinha - Provocou e suas mãos ágeis apertavam minha cintura - Eu quero receber um prêmio digno, Bella - Afirmou.

- Eu não sou suficiente? - Questionei e a cor das suas bochechas mudou para um tom rosado.

- Mostre outro dos desenhos em seu corpo, não consigo pensar em outra coisa - Admitiu com timidez e não contive o sorriso em meus lábios.

Eu percebia sua atenção recorrente procurando o menor indício de minhas tatuagens. O olhar curioso varrendo cada centímetro de pele a mostra e sendo o mais discreto que conseguia. Me sentei na grama e o foco de Ivar seguiu os movimentos com cuidado, não sendo capaz de esconder o misto de emoções. Havia somente uma opção que poderia ser mostrada sem a retirada completa do vestido. Coloquei a perna direita em seu colo e puxei a barra desfiada para cima, meio envergonhada e hesitante sobre o pedido.

A rosa era feminina e realista. A cor intensa não tirava a beleza do desenho, muito pelo contrário, todo pequeno detalhe era especial e agradável. O rapaz se manteve em silêncio e acariciou o tornozelo com sua mão curiosa, aproveitando para tocar a maior quantia de pele possível. Eu deveria saber que ele encontraria meios de se beneficiar com a situação. A conquista é parte de sua herança, ignorar essa parte da história é o mesmo que ignorar anos de tradição. Senti o toque calejado de sua mão subir perigosamente.

- Tirando vantagem de uma mulher indefesa em meio a floresta? - Perguntei sorrindo e sai do alcance do rapaz ganancioso, mesmo querendo ficar próxima do calor proporcionado pelo príncipe.

- Eu estou apenas vendo se você tem feridas ou machucados, querida - Respondeu, a mentira poderia ser detectada a quilômetros de distância.

- E ontem a noite quando você descaradamente apertou meus seios? - Questionei incrédula com suas maneiras inapropriadas e provocantes.

- Eu não tenho resposta para isso - Comentou, a expressão em sua face mostrava diversão.

- Sinto falta do menino doce e inocente que não tinha coragem de me tocar - Zombei e ele riu, o brilho do sol permitindo admirar a beleza impactante.

- Nós passamos desse ponto, Bella - Afirmou se inclinando para mais perto de mim.

- Em que ponto estamos? - Indaguei evitando as suas investidas persistentes e nada discretas.

- Agora é a hora em que devoro meu coelhinho - Comentou e conseguiu me prende no chão - Estamos no ponto que você é minha - Anunciou.

- Não brinque com coisa séria, Ivar - Respondi e ele assumiu uma expressão determinada - Eu estudei sobre seus costumes - Admiti envergonhada.

- E o que aprendeu? - Insistiu ainda mantendo o domínio sobre meu corpo, mente e espírito.

- Aprendi o suficiente para saber que vocês tem a tendência de se envolver com mais de uma mulher ao mesmo tempo. Eu entendo que é algo natural para vocês, mas não farei parte disso - Respondi e ele não esboçou reação, então prossegui - Eu fui sincera com você sobre meus sentimentos. O problema é que não sou adepta a ideia da poligamia. Então não espere as mesmas reações que está acostumado - Bufei.

- Ainda não entendeu que só quero você? Minha palavra não tem valor? Eu disse que sou apenas seu - Comentou assumindo a postura de liderança que não deixava brechas para discussões.

- Só quero deixar as coisas claras desde já. Sua criação é diferente da minha, então é natural que haja conflitos de interesses - Respondi.

- Nunca haverá outra mulher, Bella. Eu prometi e pretendo cumprir o juramento de lealdade que fiz aos deuses. Estou comprometido com você, para sempre terá domínio sobre meu coração - Decretou e esqueci como respirar, eu fiquei dormente.

- Você é meu príncipe encantado - Sussurrei e a verdade em suas palavras aqueceu meu peito.

- Espero que suas dúvidas tenham acabado por completo, coelhinha - Afirmou e roubou um beijo, seu olhar brilhando e refletindo puro carinho.

- Sim, você foi bem direto - Concordei e toquei o fio de cabelo que estava fora do lugar - Saiba que não quero mais ninguém, só você - Confessei.

- Bom, assim não haverá mortes - Respondeu, o sorriso indicou brincadeira, mas não tive certeza.

Enviada pelos deuses - Ivar, o desossado Onde histórias criam vida. Descubra agora