“O que é verdadeiro volta? Não. O que é verdadeiro não vai. O que é verdadeiro, permanece.”
"Quando há amor de verdade, é impossível que se dissipe facilmente. É um sentimento forte, lutador e que batalha até o fim. O verdadeiro sentimento não vai embora, simplesmente permanece e faz de tudo para não desocupar o lugar. É algo sobrenatural, que só quem sente sabe. Não há explicações para o amor, apenas quem o sente sabe o poder que ele pode oferecer."
Querido John.
(...)
Eu engoli outra colherada de sopa. Era a primeira refeição descente em horas. Eu senti a tensão acumulada no ambiente. A rainha foi convocada e precisou se ausentar, ela saiu ao entardecer e ainda não retornou. A escrava de antes, Margrethe, aproveitou a oportunidade e se aproximou da mesa. Os irmãos de Ivar não perderam tempo e começaram a acariciar seu corpo livremente, sem cerimônias.
A garota sorria com satisfação. Era uma atmosfera incômoda, mas tentei ignorar. Senti que Margrethe estava marcando território, era a resposta mais segura. Continuei comendo a sopa, indiferente a ausência de sabores. Ivar e eu trocamos olhares de vez em quando, ele se mostrou silencioso e absorto. Mordi o pedaço de cenoura e respirei fundo, ouvindo risadas e sussurros do trio barulhento.
- Então... você foi enviada pelos deuses? - Questionou Margrethe atraindo atenção para si mesma, ela pareceu gostar disso.
- É o que estão dizendo - Respondi sob o olhar analítico de todos eles.
- Eu soube que é cristã - Comentou e vi o fogo queimar por trás de seus olhos.
- Sim, é verdade - Confirmei e ela riu e se inclinou para sussurrar algo para Hvitserk.
Eles riram juntos enquanto olharam para mim com segundas intenções. Ivar lançou um olhar de aviso para eles, mas não funcionou e continuaram provocando. Revirei os olhos em descrença e foquei em manter a calma, bebi o hidromel oferecido por outra escrava. Eu tinha exagerado um pouquinho e senti a dormência percorrer meu corpo, trazendo relaxamento. O som de cochichos diminuiu e bufei.
- As mulheres cristãs casam virgens? Eu soube que elas presam a pureza - Indagou e a expressão de Hvitserk era condescendente.
- É uma exigência dessa época que suas mulheres mantenham a castidade - Afirmei de maneira objetiva - Mas as coisas mudaram de onde eu venho - Acrescentei.
- E você mantém a tradição? - Perguntou Ubbe com interesse, ele era indiferente a linda mulher ao seu lado, cujas mãos tocavam seus seios com firmeza.
Eles estão apenas provocando, tentando me tirar do sério e extrair alguma reação forte que gerasse mais risadas. Eu apenas sorri e o silêncio prevaleceu, as vezes o mistério é uma resposta inteligente e sagaz. O trio interpretou como um insulto e retornaram as atividades, a expressão em seus rostos não era pacífica ou convidativa. Depois de um tempo, eles saíram juntos do lugar, praticamente agarrados. Pude respirar com normalidade, aliviada.
- Ela... dorme com os dois? - Indaguei no momento em que sumiram pela porta.
- E com Sigurd também - Respondeu me olhando com diversão, Ivar sorria.
- Margrethe dorme com todos vocês? Eu nem consigo imaginar algo assim - Admiti em um sussurro envergonhado.
- Nem todos, Bella - Respondeu sério e a firmeza em sua voz impressionou - Terminou? - Apontou para a tigela vazia na mesa.
- Oh, sim, muito obrigada - Agradeci e os outros escravos começaram a limpeza - Deus abençoe - Comentei no automático.
Eu congelei e evitei o olhar de Ivar, afinal era um costume de minha família. Dizíamos o agradecimento logo após as refeições, porém não acho que os vikings irão compreender. Eu quase fui morta por admitir minha religião, era uma atitude extrema, mas não posso culpar o julgamento dessas pessoas. A história tem os dois lados da moeda, em ambos os casos, há mortes e perdas. O derramamento de sangue sempre foi a "solução" dos problemas.
- Cuidado com as coisas que diz, mulher - Pediu rindo, ele não estava incomodado - Foi presente de Loki, com certeza - Murmurou em volume baixo para si mesmo.
- Eu não quero me aproveitar ainda mais de vocês, mas onde eu vou dormir? - Indaguei e o rapaz se moveu desconfortável.
- Comigo, não temos quartos vazios que possa usar - Respondeu e evitou contato.
- Certo, tudo bem - Concordei sabendo o quanto estava sendo invasiva com ele.
Ele desceu da cadeira sem dificuldade, a prática facilitou sua vida árdua. Caminhei sem saber ao certo para onde ir, apenas segui pelo mesmo caminho que o viking. Ivar se arrastou sobre o chão e observei o movimento de seus músculos. Imaginei o esforço exercido e a dor resultante da repetição contante. Seus braços eram fortes e definidos, nem mesmo o tecido áspero da blusa conseguiu esconder.
Entramos em um cômodo simples. A luz era baixa e amarelada, consequência de velas espalhadas pelo ambiente. As paredes feitas de madeira combinavam com o chão. A cama espaçosa era mais baixa, possivelmente uma adaptação realizada para sua autonomia. Seu quarto não tinha muitos móveis, o espaço era aberto e arejado. Ele se arrastou e parou perto de um baú antigo e sem detalhes.
- Achei que fosse precisar... - Afirmou de maneira misteriosa, não dando detalhes.
- O quê? - Questionei franzino o cenho, o homem sinalizou para me aproximar e ver seu interior.
Deixei a mochila próxima da cama e tive que reunir coragem para chegar perto daquele baú misterioso. Me agachei no chão e deslizei as mãos sobre a superfície polida e lisa. Ivar e eu trocamos olhares e enxerguei expectativas ali dentro. Empurrei a tampa e encontrei belos vestido de inúmeras cores, além de sapatos e vários frascos com aromas agradáveis, talvez sejam óleos perfumados. Eu busquei palavras e não encontrei, era inacreditável.
- Eu não entendo - Murmurei tomada por emoções e pensamentos distintos.
- Eu esperei durante muito tempo e pude me preparar para sua chegada - Afirmou e sua revelação trouxe mais dúvidas.
- Do que... como você... - Questionei e os segundos desaceleraram para mim.
- Estamos ligados, Bella. Eu sou a razão para tudo isso acontecer com a gente. Você é meu presente enviado pelos deuses - Afirmou e precisei respirar fundo diversas vezes.
- É loucura - Murmurei assustada e senti o coração acelerado - Insanidade - Insisti.
Ele aguardou pela minha chegada? Ele é definitivamente louco. Porém, eu viajei no mar e fui trazida ao passado, então Ivar pode estar sendo sincero. Respirei fundo e olhei para seu último presente, eram vestidos parecidos com os usados por Aslaug. As minhas dúvidas são aumentadas drasticamente conforme penso e acalmo o meu coração. Ivar permaneceu sem esboçar reação, ele apenas olhava para todos os lados, menos na minha direção.
- Durante quanto tempo você esperou? E como tem certeza que sou eu? - Perguntei e o homem se ajeitou contra a estrutura da cama.
- São anos de espera, Bella - Afirmou e a revelação me deixou surpresa - E... eu sempre soube que era você porque tive sonhos - Riu e demonstrou nervosismo.
- Ivar, você sonhou comigo e diz isso tão naturalmente? É estranho - Comentei rindo e o viking acabou acompanhando.
- Estou tentando ser honesto - Respondeu e deu os ombros como se não fosse nada.
- Obrigada, por tudo que tem feito desde que me encontrou. Ivar, eu não tenho palavras para agradecer, significa muito para mim. E eu vou encontrar um jeito de retribuir - Afirmei de modo sincero, era o mínimo a ser feito.
- Eu prometi que cuidaria de você, Bella - Assegurou e sorri com sua doçura - E cumpro com minhas promessas - Afirmou, sério.
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Enviada pelos deuses - Ivar, o desossado
Fiksi Sejarah"Caia sete vezes. Levante-se oito." A antiga profecia nórdica uniu almas de épocas completamente diferentes. Sua existência é tão antiga quanto o próprio tempo, e forte como as montanhas que se erguem das profundezas da terra. Ivar, o desossado, esp...