FASE BOA

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_ Psiu – sou repreendido pela Larissa.

Provavelmente ela percebeu que eu estava sonhando acordado, então me obrigo a prestar atenção ao professor, que estava explicando algum cálculo doido que eu sabia que precisava muito entender.

_ Toda que possui um polinômio P igualado a zero... – o professor falava enquanto riscava o quadro com tantos números e letras que até o Einstein teria dificuldade em entender – ...um polinômio P com grau N, em que N é um número natural, possuirá N raízes complexas.

Raízes complexas era tudo o que eu não precisava, por que não podem ser raízes comuns, raízes simples? Rabisquei "o que raios é N? Não era X?" em um bilhete e entreguei pra Larissa, ela bateu o olho, me olhou com aquela cara de julgamento que ela fazia muito bem, fez uma cara feia que ela gostava muito de fazer e voltou a escrever cada palavra que saía da boca do professor, espiei o caderno dela e estava tão riscado quanto o quadro, faltavam duas ou três linhas para encher uma página, voltei a olhar para o meu caderno e só tinha o meu nome escrito.

A Larissa era de longe a mais inteligente da sala, e uma das garotas mais bonita também, ainda mais depois que resolveu assumir os cachos, parou de fazer alisamento e estava no processo de transição, com os cabelos bem rebeldes, ela então vira o rosto pra e mim e percebo que a estava encarando, mostro minha língua pra ela e volto a olhar para o quadro.

Solto um longo suspiro, apoio meu cotovelo na mesa pra suportar o peso da minha cabeça, porque minha intenção mesmo era deitar, fechar os olhos e dormir, mas me obrigo a olhar pra frente, o professor já estava apagando um lado do quadro, puxou uma seta e no mesmo instante já tornava a escrever concluindo o raciocínio dele, mas como eu não tinha entendido nem o começo, não adiantava tentar entender o final e me dei por vencido abaixando a cabeça.

Sinto um cutucão na costela e só estendo a mão pra trás, porque sabia que era um bilhetinho, quando peguei o papel li "você vai apanhar da Lari" rabisquei "amigo, ela é uma megera" e devolvi o bilhetinho.

Ouvi o Alisson soltar um riso abafado, e ficamos trocando bilhetinhos enquanto a Larissa fingia desinteresse na nossa conversa paralela, mas como a cada vez conseguíamos segurar menos o riso, a curiosidade falou mais alto e ela acabou interceptando o papel do Alisson, leu toda a nossa conversa se fingindo de ofendida em algumas grosserias que falávamos dela, ela procurou uma caneta vermelha no estojo e começou a escrever uma resposta. Aquilo era rotina entre a gente, sempre que a aula estava chata um puxava um bilhetinho e começava a trocar com outro, geralmente era falando do terceiro, até que o terceiro entrava na conversa também e mudávamos de assunto, e era consenso entre a gente cada um usar uma cor diferente de caneta.

"Vocês deveriam prestar atenção na aula porque isso é assunto de prova" – foi o que ela disse.

"Eu não consigo prestar atenção nem se o professor estivesse pelado, se bem que se ele ficasse pelado eu estaria com as mãos ocupadas e não seria fazendo anotações" – risquei e passei o papel pra Larissa.

A Larissa pegou o papel, revirou os olhos, escreveu alguma coisa e passou o papel para o Alisson, demorou um século até ele me devolver o bilhete.

"Eca" – estava escrito com a tinta vermelha.

"..." – era só o que tinha com a tinta preta.

Peguei minha caneta azul e escrevi "hoje é meu aniversário de namoro, vocês estão pedindo demais querendo que eu consiga prestar atenção em equação". E novamente fizemos o rodízio, cada um lia o que o outro tinha escrito e fazia a sua observação.

TUDO VAI DAR CERTOOnde histórias criam vida. Descubra agora