DIABA

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_ Você deveria ter comprado aquela bota de salto alto – o Rex falava enquanto descíamos do taxi, ainda inconformado que não tinha o número dele.

_ Não é o meu estilo – repeti pela vigésima vez, e quando vi o carro que estava estacionado na frente da casa – que droga.

_ Não é questão de estilo – discursou o Rex – tem cliente que...

_ Quem é? – perguntou o Kaique cortando o amigo, percebendo a minha preocupação com o carro que estava estacionado.

_ Lembra do meu ex? – suspirei.

_ Entra – o Kaique falou entregando as sacolas dele para o Rex, e dando um passo em direção ao carro – deixa que eu falo com ele.

_ Não – falei puxando-o pelo braço, nos encaramos durante uns segundos e mais uma vez desejei muito saber ler olhares – deixa que eu falo com ele.

Entreguei minhas sacolas pra ele, que as repassou para o Rex, e fui em direção ao carro, o motorista do taxi muito provavelmente curioso com o que estava acontecendo ficou onde estava e prestando atenção na conversa, ignorando as notificações que recebia pelo aplicativo solicitando novas corridas, assim que o Rafael me viu desceu do carro e veio caminhando até mim também.

_ Por que não me deixam entrar aí – ele já veio todo cheio de razão – você me bloqueou aí igual me bloqueou nas suas redes sociais?

Hoje era folga, mas claro que ele não deveria saber disso, e provavelmente foi a própria dona Marta que deve ter bloqueado ele, o motorista do taxi provavelmente achou que era melhor aceitar uma nova corrido do que ficar por dentro da fofoca dos jovens, e desistiu de acompanhar a conversa indo embora.

_ Você está bêbado? – questionei quando chegamos perto o suficiente um do outro para sentir o cheiro.

_ Bora conversar no carro – ele ignorou minha pergunta e me pegou pelo braço.

_ Ele não vai a lugar nenhum com você – o Kaique chegou de repente removendo o toque do outro em mim e se posicionando entre nós dois.

_ Quem é esse agora? É ele que tá te comendo? – o meu ex falou com escárnio, retirou a carteira de bolso pegou dois cartões e apontou em minha direção – é o pagamento? Fala o preço que eu pago.

_ Pode deixar comigo – eu segurei o meu amigo pelo ombro tentando afastá-lo – pode entrar com o Rex, eu dou conta.

O Rex estava carregando umas dez sacolas e fazendo cara de que não estava aguentando o peso, mas o Kaique se limitou a cruzar os braços e se posicionar ao meu lado.

_ Vamos fugir juntos – ele falou de repente, já com os cartões no bolso – eu me formo no meio do ano que vem, vou abrir um escritório e você nunca mais vai precisar fazer isso.

Eu soltei uma gargalhada diante da proposta.

_ Então você quer uma pessoa pra lavar, passar, cozinhar e abrir as pernas quando você tiver desejo? – pontuei – igual o seu pai faz com a minha mãe? Achei que você já tivesse arranjado uma esposa pra isso.

_ Mas se a gente...

_ Eu não estou interessando ok? – cortei-o – então se você fizer o favor de nunca mais me procurar.

_ Não faz isso comigo Leo – o rapaz que um dia amei suplicava – não faz isso com a gente.

_ Eu não fiz nada – me defendei – você que fez.

TUDO VAI DAR CERTOOnde histórias criam vida. Descubra agora