IDIOTA

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O castigo foi mais duro que a expulsão, fui obrigado a lavar os quartos por uma semana, na casa tinha três camareiras que eram responsáveis em fazer a higienização assim que desocupávamos um quarto, mantendo o mais alto padrão de limpeza, a ponto de cabeças rolarem por ter ficado um fio de cabelo pra trás, sabendo disso o Diego e os amigos faziam questão de deixar o quarto mais imundo possível e até camisinhas penduradas nas cortinas fui obrigado a remover.

_ Não aguento mais fazer faxina – reclamei me jogando na cama.

_ Só falta mais um dia amigo – recebi o apoio do Rex.

_ Você precisa pensar mais nos seus atos – começou o Kaique com o sermão, enquanto secava o cabelo, permanecia nu da cintura pra cima – poderia ter sido expulso.

_ Chatoooo – falei ao mesmo tempo que o Rex.

_ Vão brincando...

_ Queria ver se fosse você – suspirei olhando para o teto – fala assim porque nunca precisou enfrentar um ex-namorado.

_ Quem disse que não? Não era namorado, mas era... – ele se calou porque tanto eu quanto o Rex estávamos sentados encarando-o curiosos, já que era a primeira vez que ele contava algo sobre ele, mas ele terminou de balançar os cachos, vestiu a camisa do pijama e foi se deitar como se não tivesse falado nada.

_ Ah, mas você vai terminar – falei me levantando e sentando nos pés da cama dele.

_ Começou termina né amigo – o Rex me imitou e sentou-se ao meu lado, estávamos os três sentados na mesma cama e nos encarando.

_ Ok ok – ele deu-se por vencido – esse irmão do meu namorado descobriu que a gente tava namorando e não aceitou, um dia ele me seguiu até aqui e percebeu o que eu fazia, então de noite voltou como cliente pra poder me filmar e mostrar pro irmão.

_ Não acredito que você deu pro seu cunhado? – o Rex perguntou pasmo.

_ O que você fez? – eu perguntei, já adivinhando que a resposta era justamente a pergunta anterior.

_ Eu – o Kaique começou a responder, mas de repente baixou a voz e falou quase sem abrir a boca – mordi o pinto dele.

_ QUÊ – o berro que eu dei – MENTIRAAAA.

_ Quase amputou – ele falava entre risos – teve que fazer ponto e tudo.

Naquele momento o quarto já tinha virado um pandemônio, eu e o Rex estávamos eufóricos, dando gritos a cada novo detalhe.

_ E o que aconteceu? – perguntei enfim.

_ Foi a maior confusão – ele relatava – eu tinha acabado de fazer 16 anos, quiseram chamar a polícia, o conselho tutelar, sorte que a tia Marcia, a irmã da Marta, conseguiu encobrir tudo, então mudei de escola e nunca mais vi nenhum dos dois.

_ Você mora aqui desde os 16 anos? – foi a vez do Rex perguntar.

_ Na verdade desde os 12 – o Kaique respondeu e diante da nossa cara de surpresa informou – mas só passei a fazer programa com 16.

_ E os seu pais? – perguntei.

_ Eles... – o rapaz ficou um tempo com a boca aberta, depois fechou e então tonou a falar – não é da sua conta.

O clima de repente fechou e cada um voltou pra sua própria cama sem trocar mais nenhuma palavra até adormecermos.

Passei uma semana sem atender nenhum cliente, mas limpando a porra de todos, então quando a Debora me informou que tinha um cliente agendado, fiquei aliviado em saber que eu iria pode extravasar o acumulado de uma semana.

_ Ah mais só pode ser brincadeira – falei assim que abri a porta.

_ Leo... – ele estava de pé em um canto, visivelmente constrangido com a situação e sem saber se poderia tocar em alguma coisa.

_ Devo ter jogado pedra na cruz – resmunguei fechando a porta atrás de mim – pra me aparecer vários fantasmas do passado assim.

_ Então eu sou um fantasma do passado? – o Alisson perguntou.

_ Não é isso – me desculpei sentando na cama – e aí?

_ Eu... ah... – ele falava sem graça – achei que a gente poderia conversar.

_ Ah, mas você não entra num bordel pra conversar né – zombei.

_ O pessoal da escola está com saudades...

_ Só agendar um horário, pode vir um por um ou todos de uma vez – enquanto eu falava o Alisson ia ficando cada vez mais vermelho – faço até um desconto.

_ Leo não é...

_ Tu vai me comer ou não vai? – o interrompi ficando de pé e tirando minha bermuda com a cueca de uma vez, retirei minha camisa ficando totalmente nu – ou tu me come ou vai embora.

_ Leo pode vestir a roupa por favor? – me ex-melhor amigo pediu virando o rosto sem graça.

_ O que foi? Você acha que eu nunca percebi seus olhares pra mim? – perguntei provocante e indo em direção a ele – essa é sua oportunidade, só assim pra ficar comigo.

Antes que a minha mão chegasse na virilha dele fui empurrado pra longe e ele foi embora do quarto.

_ Droga – resmunguei mesmo sabendo que era melhor assim, mas torcendo que ele não prestasse queixa contra mim, sem motivos, já que eu estava disposto a fazer o meu serviço, ele que não quis consumir pelo que tinha pagado.

Seria melhor que não tivesse contato com eles mesmo, aquela era uma fase encerrada da minha vida que eu precisava virar a página, e devo confessar que foi o fator dominante para me fazer desistir da escola, mesmo querendo isso estava sentindo um aperto estranho no peito.

Desci em busca de um cliente e por sorte encontrei um passivo que gostava de ser algemado, então despejei toda a minha angústia e raiva nele, o homem era o dobro do meu tamanho, mas obedecia quando eu mandava-o ficar calado e aceitava de bom grado os meus tapas, assim que eu terminei meu serviço me vesti e fui embora, deixando-o ainda na cama com os punhos algemados, esperei meia hora pra liberar um segurança ir soltar o homem, tinha clientes que gostavam disso e ele era um desses.

_ O que foi o que você fez com aquele cliente de ontem? – perguntou a Debora no dia seguinte assim que ela chegou na casa.

_ Eu? Nada – reagi de imediato na defensiva.

_ Ele ligou hoje e reservou todos os dias até o final do mês – a Debora falou – e fez questão de pagar antecipado pra garantir a reserva.

O Diego que tinha acabado de entrar na sala da gerente ouviu a conversa e saiu irritado sem confirmar sua própria agenda.

_ Ah eu só o deixei de castigo algemado – respondi estufando o peito como se estivesse revolucionando o mercado da prostituição.

_ Esse não, o primeiro...

_ Quê? – falei tomando o tablet da mão dela, procurando meu nome pra acessar a agenda e confirmando a reserva do meu antigo colega de sala em todos os dias – não não não, pode cancelar.

_ Ficou doido garoto? – a gerente zombou pegando o tablet de volta – o cliente dobrou até o valor pra incluir ele nas reservas que já estavam feitas.

_ Fala que eu adoeci, ou melhor que eu morri.

_ Você sabe que está na corda bamba né? – a Debora pontuou – então seja lá qual for o problema do cliente é melhor você superar.

_ Você é uma péssima gerente – falei de forma ácida – espero que a mãe te demita.

_ E você deve fazer um sexo muito bom pra conseguir conquistar o cara assim – ela respondeu sorrindo e me empurrando pra fora da sala dela, me dando um tapa na bunda.

_ Te odeio – gritei do corredor.

TUDO VAI DAR CERTOOnde histórias criam vida. Descubra agora