NÃO RECOMENDADO

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_ Adivinhem – falei assim que sentamos no refeitório, e abrindo os braços como se fosse apresentar um espetáculo – estou namorando.

Meus amigos ficaram me olhando como seu eu tivesse batido a cabeça, o Alisson deu uma mordida sem vontade na bolacha água e sal, com certeza pensando em dar um perdido na gente e ir comprar um lanche na cantina da escola.

_ Mas tu não tá namorando a tipo 1 ano doido? – falou a Larissa dando um gole no suco.

_ Com uma garota – soltei a informação junto com uma gargalhada, porque ao mesmo tempo a Larissa quase cuspiu o suco que estava na boca.

_ Ué Igor nera gay? – o Alisson fez a observação.

Fiquei rindo da cara que meus amigos estavam fazendo, os dois eram o extremo oposto fisicamente um do outro, a Larissa era negra e magra, enquanto o Alisson era branco quase rosa e gordinho, se bem que os dois eram altos, ou eu que era baixo demais para os dois, além do fato do Alisson ser muito rico, do tipo que pedia na loja pra passar no débito sem perguntar o preço, enquanto a Larissa era pobre, do tipo que obrigava-nos a lanchar no refeitório porque achava um absurdo pagar R$ 6,00 em uma saltenha.

_ Você não tá falando sério né? – perguntou o Alisson com a mão estendida esperando uma resposta.

Volta e meia quando eu ficava olhando os meus amigos assim, lado a lado, eu ficava imaginando que tinha dado sorte em forma o squad perfeito, a mais inteligente e o mais rico da escola, nós éramos a definição da diversidade, tinha negra, gordo, gay, hetéro e, tinha quase certeza que o Alisson era assexuado, por que nunca olhava ou falava de algum interesse amoroso, e quando eu o perguntava sempre mudava de assunto.

_ Cuida idiota – a Larissa se irritou, ela sempre se irritava fácil – solta uma bomba dessa e agora fica aí fazendo a egípcia.

_ Não é namoro, namoro – digo enfim – então, ontem a gente foi nesse encontro duplo né, aí eu vou ficar fingindo namoro com essa garota pro pai do Rafa parar de pegar no meu pé, aí a gente pode...

_ Ai Leo pelo amor de Deus – falou a Larissa se levantando de supetão da mesa.

Eu tomei o resto do suco em um único gole e saí correndo com o Alisson do meu lado atrás dela que já estava saindo do refeitório.

_ Gente – disse o Alisson ofegante assim que alcançamos a Larissa – eu posso comprar um pastel?

_ Ué e quem tá te impedindo? – falou a Larissa – o dinheiro é seu.

Então fomos em direção à cantina e quando o Alisson tirou o dinheiro da carteira pra pagar, deu de perceber pela cara dela que ela queria sim impedi-lo.

_ Já não basta a namorada do outro lá – ela sempre chamava o Rafa de "o outro lá" – você vai ficar enganando essa menina também?

_ Eu falei pra ela que era gay – me defendi enquanto sentávamos nos bancos embaixo de uma árvore – ela é bem legal, tenho certeza que vai topar, só precisa ir lá em casa em um final de semana se apresentar como minha namorada e pronto, aí é só falar que vamos sair em um encontro duplo, mas na verdade vai sair só eu e o Rafa.

_ Ah então a pobrezinha vai continuar sendo trouxa? – perguntou a Larissa.

_ Mas isso aí já não é comigo, é problema do Rafa – me defendi mais uma vez.

_ Mas tudo bem pra você? – foi à vez do Alisson perguntar – tipo, a namorada dele não é de mentirinha igual a sua.

_ Eu achava que não – estendi o braço pra pegar a Coca-Cola do Alisson e dei um gole – mas acho que tudo bem, sabe, ele gosta de mim, só tá com ela por que...

TUDO VAI DAR CERTOOnde histórias criam vida. Descubra agora