LEILÃO

143 18 1
                                    

Já tinha passado uma semana desde que recebi a proposta do professor Marcos, ele tampouco voltou a tocar no assunto comigo, mas passou a frequentar o meu quarto todas as noites.

O sinal tocou encerrando a aula de biologia e girei as folhas do caderno procurando a matéria de inglês que seria a próxima aula, olhei para o calendário que tinha no começo de cada matéria e para a estrelinha que tinha desenhada no dia de hoje, olhei para os meus amigos que conversavam animadamente sobre uma série que tinha acabado de lançar, que eu não tinha assistido, então abaixei a cabeça na mesa triste.

De repente uma gritaria me assusta, e quando levanto a cabeça e professora de inglês está entrando na sala com um bolo na mão e todos os alunos puxam um coro de feliz aniversário, com os meus amigos me empurrando para a frente da turma, eu tive que me segurar para não começar a chorar naquele momento, mas comecei a rir do tanto que eu era idiota, claro que meus amigos não iriam esquecer do meu aniversário, estavam só fingindo, a professora me deu um abraço dando parabéns assim que colocou o bolo na mesa, os aniversários sempre aconteciam nas aulas dela, talvez porque fosse a professora mais descolada e com a idade mais próxima da nossa ou porque já estava todo mundo cansado de aprender o verbo to be, com certeza no ranking de matérias inúteis inglês estaria ali em terceiro, perdendo apenas para matemática e educação-física.

_ Gente jura? – falei apontando para a vela que estava em cima do bolo, assim que cerrou os parabéns – 9 anos?

_ É por que você tem metade do tamanho de uma pessoa de 18 anos – gritou o Samuel do fundo da sala.

_ Será se não é você que tem o dobro do tamanho? – rebati de volta.

Agradeci a todos e dei o primeiro pedaço de bolo para a professora, sobre urros de puxa-saco dos alunos, todos zombaram de mim por causa da vela e do meu tamanho e a metade da aula passou até que todos comecem sua finíssima fatia de bolo, a professora ficou enrolando a outra metade com assuntos sem sentido até que o sinal tocou informando o intervalo.

O Samuel passou pela minha certeira e colocou um saquinho azul de veludo sem falar nada, eu fiquei sem entender acompanhando-o com o olhar, até ele chegar na porta olhar em minha direção e dar um sorriso, meus amigos ficaram me encarando como dois urubus, me obrigando a abrir o embrulho.

_ Que fofo – falei estendendo a pulseira para os dois verem, tinha um pingente de anjinho – coloca em mim.

_ A gente comprou um presente pra você também – falou a Larissa se virando pra mochila enquanto o Alisson colocava a pulseira em mim.

_ Obrigado amiga – falei pegando o embrulho e dando um abraço nela, era um livro do Victor Martins que já tinha um tempo que queria ler.

_ Eu tenho um presente pra você também – o Alisson falou baixinho, quase inaudível.

_ Mais outro? – perguntei animado.

_ Vou esperar vocês na fila do refeitório – falou a Larissa já se direcionando pra porta.

_ Amiga... – falou o Alisson.

_ Se ninguém ir pra fila agora vamos ficar sem lanche – dito isso ela saiu da sala.

_ Meu presente – falei sorrindo, ignorando aquele clima que tinha acontecido entre os dois.

_ Sabe – começou ele enfiando a mão na mochila – não é nada demais, só achei que você estivesse precisando sabe?

Quando ele estendeu a mão pra mim tinha uma caixa de celular, eu desfiz o meu sorriso na hora, olhei sério da mão dele pra o rosto.

TUDO VAI DAR CERTOOnde histórias criam vida. Descubra agora