VOCÊ FEZ MERDA

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Mesmo nervoso entrei no avião sorridente, não resiste e tirei uma foto postando no Instagram antes de obedecer os sinais de desligar o celular e afivelar o cinto, nada tinha me preparado para aquele momento em que o avião decolou e a pressão que senti nos ouvidos, passei quase a viagem toda me contorcendo e com vontade de pular do avião, mas depois de umas duas ou três horas, que pra mim pareciam semanas, o piloto falou que deveríamos avistar o arquipélago e quando olhei pela janela fiquei sem fôlego com a imagem, me fazendo esquecer completamente o incomodo que estava sentindo.

Assim que pisei em solo pernambucano liguei o celular e fui atropelado com uma enxurrada de notificações, a grande maioria era de reações de alunos da escola e um ou dois professores, já que naquele horário eu deveria estar em sala de aula e não em um avião, entre as pessoas que tinham visualizado meu storys e se mantiveram calados, estavam minha mãe, o Rafael e meus, agora, ex-melhores amigos. Bloqueei o Rafael, mas decidi que iria postar cada passo que eu desse pra jogar na cara da minha mãe que eu não precisava dela pra nada.

E a segunda foto que postei foi de um homem parado na porta de embarque segurando uma placa com o meu nome escrito, que se apresentou como o meu guia e me entregou uma agenda com todos os passeios que já estavam contratados.

Fiquei hospedado em um resort que por mim já estaria mais do que suficiente, mas durante a semana o meu guia ia me buscar todo dia e me levava para lugares diferentes, desde às praias mais remotas à passeios de lancha em alto mar, que fiz questão de postar tudo na minha rede social.

"Muito obrigado" – mandei a mensagem para o meu cliente.

"Na próxima viagem vou te levar pra Europa" – foi sua resposta.

Quando voltei já estava decidido que iria abandonar a escola, não fazia mais sentido ter que ir todo dia pra tentar aprender uma equação inútil, um verbo to be infinito ou ter que ficar correndo ao redor da quadra de esportes. Poucos eram os rapazes que não tinham terminado os estudos, alguns ainda estavam no ensino médio e uns tantos outros na faculdade, uma total perda de tempo a meu ver, mas algumas pessoas valorizavam isso.

_ Se eu falar uma coisa você promete não vai ficar bravo comigo? – perguntei abrindo um sorriso descarado.

_ Cê sabe que isso é contraproducente né? – pontuou o Kaique e eu fiz uma careta porque não sabia o que significava aquela palavra – começar uma conversa me pedindo para não ficar bravo, você automaticamente já me deixa bravo.

_ Aaaaaaaah – foi minha reação.

Quando eu informei que iria abandonar a escola levei o maior esporro, com o tempo ele acabou se posicionando como um irmão mais velho da gente, mesmo não aparentando ser tão mais velho que eu, se bem que nem o Rex que o conhecia a mais tempo sabia sua idade, só era o mais alto do quarto e nos dava sermão com muita frequência, além de nos proteger já que o Diego passou a me perseguir e tentar me intimidar sempre que me encontrava sozinho, principalmente depois que se espalhou a viagem que ganhei do seu ex-cliente vip.

_ Já contou pra mãe? – ele perguntou quando já estava satisfeito da bronca – pois se prepare.

A gente sempre conferia nossa agenda com a Debora pra saber se tínhamos algum cliente agendado para o dia ou se teríamos que pescar no salão, mas a maioria dos clientes que frequentava o salão não eram fiéis a um único garoto, o que gerava uma disputa, inclusive tendo profissional baixando o preço para ganhar o cliente. Alguns clientes que eu já tinha transado voltavam e me pagavam uma bebida, mas preferiam subir com um prostituto mais barato, era o caso do segundo cliente que tinha atendido na vida, que tinha um pinto pequeno, sempre que voltava à casa perguntava por mim e me prendia alguns minutos na mesa com ele, eu era educado porque o homem era muito simpático e sempre que subia com outro garoto me pedia desculpa por não conseguir me bancar.

TUDO VAI DAR CERTOOnde histórias criam vida. Descubra agora