O QUERERES

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_ Por que você mentiu? – o Kaique perguntou depois de um tempo que estávamos parados em silêncio na porta do escritório da dona Marta esperando-a – sobre o seu cli... seu amigo.

_ Eu... – respirei fundo, olhei para os lados, mas o corredor estava vazio, provavelmente a maioria dos outros garotos nem estavam na casa, encostei as costas na parede e olhei para o chão – fiquei com vergonha.

_ Por quê? – ouvi-o perguntando.

Estávamos agora ambos com as costas na parede, cada qual de um lado do batente da porta, eu senti seus olhos em mim, mas eu continuava olhando para o chão.

_ Eu estava usando o meu amigo – confessei – sabia que ele gostava de mim, e sabia que tinha que tê-lo mandado embora, mas preferi...

_ Ei – ele puxou minha mão me obrigando a virar pra ele – eu já disse que não estamos aqui pra ficarmos jugando um ao...

Ele foi parando de falar ao perceber o que eu estava prestes a fazer, o toque dele em minha mão e suas palavras me despertaram um desejo, nossos olhos estavam atentos às intenções impressas nos olhos do outro, e se eu tinha aprendido alguma coisa em ler olhares, estava lendo que ele desejava aquilo tanto quanto eu, meu coração palpitava enquanto ia aproximando meu rosto lentamente do rosto dele.

E então a porta abriu de repente.

_ Vocês já voltaram? – a Marta perguntou espantada ao nos ver plantados em sua porta, o Kaique tranquilamente colocou as mãos no bolso.

_ A gente tava... – falei gaguejando enquanto gesticulava sem necessidade e sentia um suor escorrer como se tivesse sido pego em flagrante fazendo alguma coisa errada – esperando... a Debora que falou que...

_ Podemos conversar? – o Kaique me interrompeu sendo objetivo.

_ Claro, claro, já terminei aqui – a mulher falava enquanto voltava até sua cadeira e gesticulava para o segurança – pode me esperar no carro Sérgio. Parabéns garotos, o Píter me ligou e ficou muito satisfeito com vocês.

Ela falou abrindo um sorriso gigante assim que o segurança fechou a porta atrás de si.

_ Por que a senhora não contou pra nós? – o Kaique indagou.

_ E não é óbvio? – a mulher perguntou como se fosse – se eu tivesse contado vocês iriam chegar lá nervosos e acabariam travando ou fazendo alguma besteira.

Aquela última parte ela falou olhando pra mim.

_ Mas podia ter falado pelo menos comigo – o meu colega questionou.

_ Hey – ralhei ao perceber que eles realmente achavam que eu poderia ter feito alguma besteira.

_ Vocês só precisam assinar o contrato – ela ignorou as nossas indagações e remexeu em sua gaveta retirando alguns papéis, fazendo dois montes e empurrando em nossa direção.

_ E se eu não quiser? – perguntei de forma espontânea, porque realmente aquilo tudo tinha me pegado de surpresa.

_ E por que você não iria querer? – ela puxou os contratos novamente para si ao me questionar.

_ Por que você quer tanto que eu aceite? – rebati.

Ela retirou os óculos calmamente e colocou-os sobre a mesa, primeiro ela olhou para o Kaique como quem diz "e ainda me pergunta porque eu não falei nada?", e depois ela me olhou no fundo dos meus olhos, me fazendo abaixar a cabeça.

TUDO VAI DAR CERTOOnde histórias criam vida. Descubra agora